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Reitor da UFSC encontrado morto deixou um bilhete no bolso da calça

ESTELITA HASS CARAZZAI CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - Um bilhete encontrado junto ao corpo do reitor afastado da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Luiz Carlos Cancellier de Olivo, trazia a seguinte mensagem: "Minha morte foi decretada no dia do

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 02.10.2017, 17:55:08 Editado em 02.10.2017, 18:48:11
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ESTELITA HASS CARAZZAI

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CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - Um bilhete encontrado junto ao corpo do reitor afastado da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Luiz Carlos Cancellier de Olivo, trazia a seguinte mensagem: "Minha morte foi decretada no dia do meu afastamento da universidade".

O teor da mensagem foi confirmado pela Secretaria de Segurança de Santa Catarina e pelos advogados do reitor. O bilhete estava no bolso da calça de Cancellier.

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Cancellier, 60, se atirou de um shopping em Florianópolis, na manhã desta segunda (2). No mês passado, ele foi preso em uma operação da Polícia Federal, suspeito de participação no desvio de R$ 80 milhões em recursos que deveriam ser investidos em programas de EAD (Educação a Distância).

Ele foi liberado no dia seguinte, mas continuava afastado da UFSC por decisão judicial. O professor negava envolvimento em irregularidades.

Eleito reitor no ano passado, ele foi proibido pela Justiça de entrar na universidade.

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"A universidade era a vida dele. Ele vivia aquilo 24 horas por dia; morava do lado da USFC. Imagine: se atravessasse a rua, poderia ser preso", disse o advogado Hélio Brasil, que o defendia.

Segundo ele, o reitor ficou "muito transtornado" com a prisão e havia informado que estava sendo acompanhado por um médico psiquiatra.

Na semana passada, a defesa de Cancellier obteve uma autorização para que ele circulasse nas dependências da universidade -mas apenas por três horas, durante o processo seletivo de alunos de mestrado e doutorado em Direito. Ele era professor do curso havia 12 anos.

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A Polícia Civil instaurou inquérito para investigar a morte. Além do laudo cadavérico, a investigação deve se apoiar em imagens das câmeras de segurança do Beiramar Shopping, onde o professor cometeu suicídio, em testemunhas oculares e em depoimentos de familiares, que ainda não foram ouvidos.

A UFSC, em nota, lamentou a morte do reitor e informou que suspendeu todas as atividades acadêmicas e administrativas por três dias, "em função do trágico acontecimento".

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O corpo do reitor será velado na reitoria da universidade, ainda na tarde desta segunda (2). O enterro ocorrerá na terça (3), a partir das 16h, no cemitério Jardim da Paz, em Florianópolis.

'EXÍLIO'

Cancellier era doutor em Direito pela UFSC e professor da universidade desde 2005. Antes de se formar, atuou como jornalista e participou de campanhas pela anistia e pelas Diretas Já, como assessor de deputados catarinenses. Participou do movimento estudantil na UFSC e se graduou em 1998, quando retomou os estudos.

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"Nem na época da ditadura militar ele tinha sido preso. Imagine alguém que sempre foi contra o arbítrio do Estado, acontecer um negócio desses", disse o advogado Hélio Brasil.

Na época da deflagração da Operação Ouvidos Moucos, que levou à prisão de Cancellier, a UFSC informou ter sido "tomada de absoluta surpresa" pela detenção do reitor.

Em entrevista recente ao "Diário Catarinense", ele disse que a prisão foi uma "humilhação completa" e que se sentia "exilado" da própria universidade.

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"Este afastamento é um exílio. Eu moro a três metros da universidade. Saio de casa e estou dentro da universidade. E não posso entrar na casa em que vivo e convivo desde 1977. As manifestações me dão conforto. O corpo está muito sofrido, mas a solidariedade conforta a alma", afirmou ao jornalista Moacir Pereira.

O professor era suspeito de ter obstruído as investigações na UFSC. Segundo a PF, ele pressionou funcionários para ter acesso às investigações e "interferiu diretamente na atividade do corregedor".

De acordo com sua defesa, Cancellier solicitou à corregedoria da UFSC, que investigava os desvios, informações sobre o caso, já que as verbas para o programa haviam sido suspensas. "Foi tudo feito oficialmente; isso não representava qualquer entrave para a investigação", afirma Brasil.

Em nota, os advogados do reitor lamentaram a morte e disseram que "a injustiça sobre os ombros de uma pessoa inocente é um fardo por demais pesado e muito difícil de ser suportado".

"Que sua dolorosa partida sirva de reflexão para todos, especialmente àqueles ávidos por holofotes que, entorpecidos por ego e vaidade, extrapolam suas funções institucionais, e aos demais que divulgam e replicam notícias de maneira açodada e equivocada, destruindo carreiras, reputações e vidas", afirmaram os advogados do escritório Galli, Brasil, Prazeres.

A Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) declarou ser "inaceitável que pessoas de bem [...] tenham a sua honra destroçada em razão da atuação desmedida do aparato estatal". "É inadmissível que o país continue tolerando práticas de um Estado policial, em que os direitos mais fundamentais dos cidadãos são postos de lado em nome de um moralismo espetacular", informou a instituição, em nota.

Procurada, a direção da PF em Santa Catarina não havia comentado o episódio até o final da tarde desta segunda (2).

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