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'Arábia', melhor filme do Festival de Brasília, é uma pequena joia

SÓ PODE SER REPRODUZIDA NA ÍNTEGRA E COM ASSSINATURA INÁCIO ARAUJO SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pouca gente conhece Affonso Uchoa e João Dumans: são os diretores de "Arábia", escolhido o melhor filme do Festival de Brasília de 2017. É de esperar, porém, q

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 25.09.2017, 16:15:10 Editado em 25.09.2017, 16:15:10
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SÓ PODE SER REPRODUZIDA NA ÍNTEGRA E COM ASSSINATURA

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INÁCIO ARAUJO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pouca gente conhece Affonso Uchoa e João Dumans: são os diretores de "Arábia", escolhido o melhor filme do Festival de Brasília de 2017. É de esperar, porém, que logo se tornem conhecidos. Seu filme é uma pequena joia, em que um sentido profundo dos tempos, assim como da composição da imagem encontram uma prosa literária de primeira.

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Entenda-se: trata-se da trajetória profissional e afetiva de um operário que vagueia do campo à cidade, das metalúrgicas a oficinas ou plantações de mexerica, com eventual passagem pela prisão. Momento a momento ele observa o mundo que o cerca e a si mesmo com uma simplicidade aguda, poética, compondo um monólogo (o filme é todo narrado a partir de seu diário) digno da grande prosa mineira.

Pode-se ainda falar da excelente direção de atores (não por acaso, Aristides de Sousa ficou com o prêmio de melhor ator). O melhor, no entanto, é a afirmação definitiva do que se poderia chamar de "escola de Contagem", cidade industrial próxima a Belo Horizonte (20km) que desde a primeira década do século tem se destacado pela originalidade e pelo vigor do núcleo de cineastas que lá se formou.

Também de uma cidade-satélite vem o prêmio de melhor direção, concedido a Adirley Queirós. Um cineasta já conhecido (é autor de, por exemplo, "Preto Sai, Branco Fica"). Que este ano trouxe a fábula futurística "Era uma Vez Brasília". O princípio já é em si fabuloso: um extraterrestre é enviado ao Brasil para matar o presidente Juscelino Kubitschek.

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A nave, no entanto, se perde no tempo e ele chega a Brasília num tempo indeterminado, entre o discurso inaugural de Juscelino e o de Temer ao tomar o poder: ambos anunciando a Terra Prometida aos brasileiros.

A ficção científica de Adirley desta vez avança para uma angustiada opacidade: nada se dá de graça ao espectador. Mesmo a localização dos personagens, naqueles vazios de Ceilândia, reforça a angústia de um filme noturno e soturno, marcado pela imagem, ao longe, de uma ao Brasília que parece tão inatingível quanto as promessas presidenciais.

A mesma opacidade que deve dificultar sua carreira comercial no Brasil tende a abrir-lhe portas no exterior (o crítico do "Libération", que viu o filme no Festival de Locarno, escreveu que sua exibição na França era "urgentemente necessária": certos impasses rodam o mundo).

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Brasília pode comemorar, no mais, o que parece ser o fim definitivo do chamado "eixo Rio-São Paulo". Mesmo Pernambuco, que há 20 anos anuncia o fim dessa dominação, deu lugar a produções dos mais variados estados. Desiguais, por certo, mas nunca despropositadas.

No setor longas ainda é preciso destacar "A Moça do Calendário", de Helena Ignez, apresentado fora de competição, Novamente ela retoma um roteiro de Rogério Sganzerla, mas desta vez sua personalidade de cineasta surge mais segura do que em "Luz nas Trevas" (de 2010). Bela chance para enterrar de vez a expressão "cinema marginal", em que só a Academia Brasileira de Cinema parece acreditar hoje em dia.

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CURTAS

Entre os curtas, a vitória de "Tentei" consagra um filme simpático, marcadamente feminista, de produção ínfima, que levou a Brasília uma equipe de Curitiba que chegou armada até os dentes com um interminável discurso, antes da exibição do filme, sobre "lugar da fala", "subjetividade" etc.

No entanto, a fluidez da história da mulher agredida pelo marido que toma coragem para denunciá-lo leva a crer que, na próxima vez, as autoras podem deixar que o filme fale por elas. Ele fala -ou antes, mostra.

O bem-sucedido do festival passa talvez pela introdução de um setor de mercado. Ali, o responsável ele, Alfredo Manevy (ex-diretor da Spcine) alertava para o perigo de abrir mão de cotas de filmes brasileiros no streaming (leia-se Netflix e similares). Diz ele que Europa e Canadá já se deram conta de que a TV paga tem vida curta na exibição de filmes. O futuro é o streaming, a que o MinC há pouco tempo deu as costas. Questão política a acompanhar com atenção.

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