ISABEL FLECK E SILAS MARTÍ
NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) - Ao abrir os debates gerais da Assembleia Geral da ONU nesta terça (19), como é praxe, o presidente Michel Temer mandou um recado à Venezuela ao dizer não haver mais espaço "para alternativas à democracia" na América do Sul. "É o que afirmamos no Mercosul, é o que seguiremos defendendo."
Temer citou a deterioração dos direitos humanos no país e disse que o Brasil está "ao lado do povo venezuelano", tendo recebido "milhares de migrantes e refugiados da Venezuela".
No discurso, que privilegiou questões externas, o presidente abordou posições brasileiras que contradizem as do americano Donald Trump, com quem jantara na véspera. Ele criticou o protecionismo e "nacionalismo exacerbados" e defendeu o Acordo de Paris sobre o clima, do qual Trump anunciou que abdicará (o que os EUA só pode fazer em 2020).
O presidente não mencionou a crise política no Brasil, e se limitou a dizer que o país está "superando uma crise econômica sem precedentes" com reformas estruturais. Segundo ele, o Brasil "atravessa momento de transformações decisivas" e tem aprendido na prática que é preciso responsabilidade fiscal para ter responsabilidade social.
AMBIENTE
Criticado pela recente decisão de extinguir a Renca (Reserva Nacional de Cobre e seus Associados, no Amapá), Temer usou o fórum internacional para dizer que o Brasil reduziu em mais de 20% o desmatamento na Amazônia no último ano -afirmação contestada por ambientalistas e cientistas.
"O desmatamento é questão que nos preocupa, especialmente na Amazônia", disse Temer. "Pois trago a boa notícia de que os primeiros dados disponíveis para o último ano indicam diminuição de mais de 20% do desmatamento naquela região. Retomamos o bom caminho e nesse caminho persistiremos."
O decreto extinguindo a Renca foi suspenso por 120 dias no final de agosto após a forte reação negativa.
"O presidente comemora uma redução do desmatamento que tem caráter temporário, pela atual conjuntura econômica", afirmou, em nota, o coordenador da ONG Conectas Caio Borges.
Segundo a organização, Temer citou dados do SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento), menos abrangente. "A redução se dá por fatores alheios às políticas do governo", disse Borges, para quem a agenda de Temer "desmantela a legislação ambiental".
Aos EUA de Trump, o recado foi de que ideias que não deram certo no passado não podem "render frutos" hoje.
"Recusamos os nacionalismos exacerbados. Não acreditamos no protecionismo como saída para as dificuldades econômicas -dificuldades que demandam respostas efetivas para as causas profundas da exclusão social", disse Temer.
O Brasil é alvo de queixa na Organização Mundial do Comércio por causa de subsídios à indústria pagos desde o governo Dilma Rousseff.
Ele também pediu que as potências nucleares -EUA inclusive- assumam compromissos adicionais de desarmamento. Nesta quarta (20), Temer assinará um texto acordado por 122 países da ONU que proíbe armas nucleares, mas do qual estão fora nações atômicas como EUA, China, França, Reino Unido e Rússia.
Ele condenou "com toda veemência" os testes com mísseis da Coreia do Norte, dizendo que constituem "grave ameaça, à qual nenhum de nós pode estar indiferente". "É urgente definir encaminhamento pacífico para situação cujas consequências são imponderáveis", afirmou.
Como é tradição no discurso das autoridades brasileiras na ONU, Temer defendeu a ampliação do Conselho de Segurança, "para ajustá-lo às realidades do século 21", pleito antigo do Brasil, que quer um assento fixo, em segundo plano nos últimos anos.
Em sua primeira fala à ONU depois do fim da missão de paz no Haiti, que era comandada por militares brasileiros, Temer afirmou que a comunidade internacional "deve manter o seu compromisso com o povo haitiano": "O Brasil certamente o fará".
Deixe seu comentário sobre: "ATUALIZADA - Não há alternativa à democracia, diz Temer"