GUILHERME GENESTRETI, ENVIADO ESPECIAL
TORONTO, CANADÁ (FOLHAPRESS) - Se o Festival de Toronto é a vitrine do Oscar, a largada para a premiação do ano que vem foi dada com duas sátiras sociais protagonizadas por Matt Damon: "Suburbicon", dirigida por George Clooney, e "Pequena Grande Vida", de Alexander Payne (de "Nebraska" e "Os Descendentes").
No primeiro, Clooney se ancora em roteiro escrito pelos irmãos Coen sobre um típico subúrbio de famílias brancas dos anos 1950 em que tudo vai bem. Isso até a chegada de uma família negra, que coincide com uma sucessão de infortúnios para os moradores.
Tangenciando questões como racismo e segregação, "Suburbicon" é um claro recado sobre a América atual dado por um diretor que é um notório crítico a Donald Trump.
Já o longa de Payne pega emprestada a premissa da comédia "Querida, Encolhi as Crianças", mas a reveste com forte caráter político: Damon interpreta Paul, fisioterapeuta que se submete a um novo tipo de avanço tecnológico que permite diminuir o tamanho das pessoas e assim permitir que elas consumam menos recursos do planeta.
Há claras vantagens em passar pela miniaturização, como o personagem de Damon logo descobre -ele custa menos e pode viver uma vida luxuosa. Mas a tecnologia logo desdobra implicações graves: o governo americano passa a ser assolado por terroristas em miniatura, ditadores africanos optam por reduzir minorias étnicas.
Duas vezes vencedor do Oscar, Payne diz que queria explorar a premissa de um mundo em miniatura, "mas de forma realista e com um contexto político".
Damon vê semelhanças no fato de protagonizar duas sátiras com carga social. "Filmes são uma forma tecnológica de contar uma história", afirmou o ator. "E eu espero que essa tecnologia seja sempre usada para trazer mais empatia, apesar do momento político pelo qual passa o meu país."
Outro candidato a dar as caras no Oscar é o drama agrário "Three Billboards Outside Ebbing, Missouri", que pode render uma indicação para a atriz Frances McDormand.
Ela vive uma mãe que entra em conflito com as autoridades após falharem em investigar o assassinato de sua filha. Com mensagens em outdoors na beira da estrada, ela pretende humilhar o xerife local.
O violento drama encontra ressonância no momento atual: o descrédito às instituições da personagem de McDormand ecoa o ressentimento de boa parte dos americanos.
No filme mais macabro de sua carreira, Darren Aronofsky ("Cisne Negro"), decepcionou com "Mãe!".
Aqui, Jennifer Lawrence vive a jovem mulher de um escritor narcisista (Javier Bardem) que é atormentada pela chegada inesperada de visitantes desconhecidos. As situações absurdas sobem de tom, numa espiral surreal que muitas vezes descamba no humor involuntário.
Em Toronto, a sessão para a imprensa do longa terminou com um enorme silêncio e uma única e tímida palma.
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