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Saiba mais sobre os hábitos e crenças da igreja de Franco da Rocha

ANA ESTELA DE SOUSA PINTO SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O senso de comunidade e solidariedade, a ajuda prática, a rigidez de conduta que leva a progresso familiar e material e a experiência emocionante dos cultos são alguns dos fatores que atraem fiéis par

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 09.08.2017, 01:15:08 Editado em 09.08.2017, 01:15:08
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ANA ESTELA DE SOUSA PINTO

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O senso de comunidade e solidariedade, a ajuda prática, a rigidez de conduta que leva a progresso familiar e material e a experiência emocionante dos cultos são alguns dos fatores que atraem fiéis para igrejas evangélicas neopentecostais, segundo pesquisadores do tema.

São neopentecostais 22% dos brasileiros, segundo pesquisa Datafolha feita no final do ano passado.

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As igrejas funcionam como "mecanismos de integração, solidariedade, restituição da ordem psíquica e segurança identitária", escreve o sociólogo Ricardo Mariano, da USP, um dos principais pesquisadores do tema no Brasil, em "Usos e Limites da Teoria da Escolha Racional da Religião".

Movimento que se expandiu no Brasil desde os anos 1970, o neopentecostalismo segue a teologia da prosperidade: felicidade, sucesso e prosperidade financeira são bênçãos de Deus encontradas nesta vida, e o pagamento do dízimo à igreja aumenta a "fidelidade de Deus" e a riqueza do fiel.

NEOCARISMÁTICOS

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O Ministério Evangélico Comunidade Rhema, igreja envolvida em acusações de trabalho forçado nos EUA, faz parte do movimento neocarismático, chamado de "terceira onda neopentecostal". São religiões independentes, em geral de um único pastor, que floresceram no final dos anos 1980.

A Rhema foi fundada pelo casal Juarez e Solange Oliveira, que faziam trabalho missionário no bairro Morro Grande, na região de Pirituba, zona norte de São Paulo.

"Começamos com cinco ou seis famílias", diz Solange, que hoje calcula ter entre 250 e 300 fiéis.

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No início, os pastores alugaram um teatro antigo. Depois, os cultos passaram a acontecer em uma fábrica da região. Por fim, com dinheiro arrecadado dos fiéis, compraram terrenos em uma área afastada de Franco da Rocha, onde estão hoje o templo e o colégio.

A escola, que vai da educação infantil ao ensino médio, tem mensalidades que variam de R$ 300 a R$ 500 e classes com de 4 a 6 alunos.

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Estudam ali cerca de 60 crianças, filhos de fiéis da Rhema, que desaconselha o estudo em outras instituições.

As professoras também são membros da igreja.

No colégio, a Bíblia faz parte do cotidiano escolar desde os dois anos de idade.

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A Rhema não permite o uso de gírias ou palavrões, mulheres não devem usar decotes ou roupas curtas e a comemoração de aniversários ou do Natal é reprimida. "Queremos mostrar que todo dia é importante para demonstrar amor ou presentear o outro", diz Solange.

SEGURANÇA E SOCIABILIDADE

Há no mundo mais de 300 milhões de neocarismáticos, segundo pesquisa de 2011 do Instituto Pew.

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Essas igrejas crescem porque dão segurança e sociabilidade, diz o filósofo e colunista da Folha Luiz Felipe Pondé, que estuda as religiões neopentecostais há três décadas.

"A condição humana torna as pessoas carentes e frágeis. Muitas encontram ajuda, carinho e apoio espiritual na igreja, e passa a valer a pena fazer parte dela."

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Segundo o filósofo, o discurso mágico adotado pelas neopentecostais é uma variável que torna as pessoas passíveis de abuso.

Para os fiéis, a palavra correta não é "magia", mas "milagre". Durante visita da reportagem, a pastora Solange apresentou duas mulheres que, segundo elas, não conseguiam ter filhos e engravidaram "por graça divina".

O nome Rhema é um termo grego que, na interpretação religiosa, é a "palavra do Espírito Santo que fala direto ao coração", em contraposição a "logos", que seria a "palavra de Deus e de Jesus, que está nas escrituras".

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Solange diz que a igreja cobra o dízimo —"está na Bíblia"—, mas não fiscaliza quem está contribuindo. No culto de domingo (6), nas salvas de prata que percorreram as fileiras, fiéis depositavam moedas, notas de R$ 2 e envelopes fechados.

Segundo Pondé, o fato de que a religião propõe "soluções imprecisas para problemas precisos" facilita o controle dos fiéis.

"Pago o dízimo e consigo um emprego atribuído ao Espírito Santo, mesmo que tenha vindo de um irmão da igreja", diz ele.

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RIGIDEZ E ATRAÇÃO

A própria rigidez de costumes pode ser uma forma de atração de fiéis, segundo o sociólogo americano Rodney Stark. "Para crescer, um grupo religioso deve manter alta tensão com a cultura ambiente, ser distintivo e impor padrões morais relativamente rigorosos", escreveu o pesquisador.

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Isso exige dos fiéis um sacrifício que faz com que eles valorizem mais sua igreja, argumenta o pesquisador.

Pesquisas americanas apontam que membros de seitas rígidas contribuem mais financeiramente, frequentam mais os cultos, mantêm crenças mais fortes e respondem melhor a exigências maiores.

O rigor, no entanto, precisa ser modulado para evitar a evasão dos mais jovens (que não escolheram a religião) e que apenas fanáticos permaneçam.

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ATRITOS E PRESSÕES

Diferenças culturais podem explicar atritos de fiéis brasileiros com práticas americanas.

Pondé afirma que humilhações públicas são práticas antigas em igrejas norte-americanas.

"A tradição da rigidez é comum desde o calvinismo. Mulheres adúlteras usavam roupas com marcas que as expunham, por exemplo. Mas no Brasil esses movimentos não colam muito, a mentalidade é mais solta."

Outra marca de neopentecostais dos EUA é formar comunidades isoladas. A Word of Faith, igreja americana acusada de explorar membros da Rhema, orienta seus fiéis a morarem em um condomínio ao redor do templo.

Vários membros da Rhema também ocupam chácaras ou casas na região isolada em que fica a igreja em Franco da Rocha, mas a mudança não é obrigatória.

O MUNDO À NOSSA VOLTA

"O isolamento indica o medo do mundo pecador à volta, a procura de uma proximidade que garanta similaridade de costumes e pensamento", diz o professor.

"Causa um certo medo, porque religião e isolamento sempre pode favorecer abusos."

Pondé, porém, diz que parte das desconfianças contra práticas evangélicas é resultado de preconceito.

"Desde o século 20, há trabalho de graça em kibutz em Israel; pessoas com crenças comuns também se isolam em Gonçalves (MG), escolas antroposóficas proíbem programas de TV e consideram o mundo à sua volta mau, e ricos naturebas orgânicos tomaram conta do currículo de um escola pública em Trancoso (BA)." É paternalismo dizer que os evangélicos são todos manipulados. "É um fato: quando você é mais pobre, a probabilidade de ter vontade própria é menor. O fiel dá o dízimo e ganha apoio espiritual, reorganização do casamento, programa no final de semana, crianças felizes. Já você paga R$ 800 para um psicoterapeuta famoso, que diz hã hã ao final da sessão. E você acha o máximo."

Em média, os evangélicos frequentam sua igreja atual há 12 anos (para uma idade média de 37 anos), segundo o Datafolha. Cerca de metade (48%) dos evangélicos não teve outra religião ao longo da vida, e 44% deles já foram católicos.

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