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A escrita cura o coração, mas é preciso estar vigilante, diz Scholastique

CAMILA GAMBIRASIO SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - É de um "dever de memória" que a ruandesa Scholastique Mukasonga tira a energia para escrever sobre uma tragédia que lhe é tão próxima. "Nós temos o dever da escrita diante de uma situação de genocídio", diss

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 03.08.2017, 20:10:10 Editado em 03.08.2017, 20:10:10
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CAMILA GAMBIRASIO

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - É de um "dever de memória" que a ruandesa Scholastique Mukasonga tira a energia para escrever sobre uma tragédia que lhe é tão próxima. "Nós temos o dever da escrita diante de uma situação de genocídio", disse a autora em um bate-papo promovido pela Folha de S.Paulo nesta quarta (2).

"Fomos exterminados como baratas. Mas não somos baratas", afirmou, emocionada. Durante o extermínio, "barata" era a expressão usada pela etnia hutu ao se referir à minoria tútsi, que há 13 anos teve cerca 70% da população do país morta.

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Falando sobre o processo de relatar a história de seu povo na literatura, Scholastique disse que enxerga a página em branco como uma confidente e que escreve sempre tendo em mente os mortos, os vivos, e as crianças.

"É muito bonito como ela usa a literatura para mostrar o agressivo, o revoltante", disse o escritor e educador Rodrigo Ciríaco, 36, que participou do evento. "Ela é um sopro de esperança."

Quando a mediadora da conversa, Patrícia Campos Mello, repórter especial da Folha de S.Paulo, perguntou o que o mundo aprendeu com o genocídio em Ruanda, Scholastique respondeu que acredita que algo similar pode se repetir.

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"Apesar do meu otimismo, do dever da memória e de ter a escrita como um curativo para o coração, é preciso que estejamos sempre vigilantes."

Como exemplo, ela citou o mês de junho de 1994, época em que o massacre no país africano estava no auge -enquanto isso, a Normandia, região da França em que mora, celebrava o cinquentenário do desembarque dos aliados na costa francesa durante a Segunda Guerra Mundial. A escritora destacou a ironia de que, no mesmo momento em que o mundo dizia "nunca mais" a alguns erros do passado, deixava Ruanda passar por sua ocasião de "maior dor". "A maioria das pessoas não conhece o genocídio, sobretudo as mais jovens. No mundo inteiro, ninguém se interessou por nós."

A estudante Rebeka Caroline, 17, compareceu ao debate, na livraria Saraiva do shopping Higienópolis, mesmo sem saber bem o que foi o extermínio. "Eu me identifico com a autora por meio da literatura. É um meio de escape para muitas pessoas, para ela e para mim".

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A escritora, que falou muito durante a Flip sobre sua mãe, vítima do genocídio e homenageada no livro "A Mulher de Pés Descalços" (ed. Nós), aproveitou o debate para falar de seu pai, que teve papel definitivo em sua vida.

"Se me tornei uma sobrevivente e pude, através da literatura, cumprir esse dever de memória, foi graças à insistência de meu pai." Ele obrigou Scholastique a prestar o exame que a permitiu estudar e é lembrado na obra "Nossa Senhora do Nilo" (ed. Nós), romance baseado em fatos da vida escolar da autora.

Apesar de ter como objeto de escrita um assunto doloroso, ela diz que acolhidas calorosas como a que recebeu no Brasil, onde até então era pouco conhecida, renovam suas esperanças no mundo.

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