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Alvo de reclamações, clínicas de ação anticrack de Doria são vistoriadas

MARIANA ZYLBERKAN SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma comitiva formada por representantes do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo), Ministério Público e Defensoria Pública vistoriou as clínicas de reabilitação que integram o programa anticrack

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 31.07.2017, 17:40:08 Editado em 31.07.2017, 17:40:08
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MARIANA ZYLBERKAN

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma comitiva formada por representantes do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo), Ministério Público e Defensoria Pública vistoriou as clínicas de reabilitação que integram o programa anticrack da prefeitura nas últimas duas semanas.

Usuários que foram internados em algumas das unidades relataram agressões e uso de drogas dentro das alas. A vistoria, no entanto, foi realizada com o objetivo de fiscalizar as ações do programa municipal e não em decorrências das denúncias, diz o psiquiatra e conselheiro do Cremesp Mauro Aranha.

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Fazem parte do programa e recebem usuários da cracolândia as clínicas São João de Deus, no Jaraguá, o Hospital Cantareira, na zona norte, e a instituição Irmãs Hospitaleiras, em Pirituba. Os dois primeiros já foram vistoriados. "Os recursos humanos são insuficientes para a demanda. Isso implica em ociosidade e comprometimento do plano terapêutico singular", diz Aranha.

Para ele, os usuários de drogas da cracolândia exige uma rede de cuidados grande, que inclui ações além da internação. "No caso, o hospital resolve o problema de saúde física e desintoxicação da droga e o resto continua sem atenção. O paciente vai ter alta e voltar para a cracolândia", diz.

Segundo balanço divulgado pela prefeitura, 1.100 usuários de drogas haviam sido internados de forma voluntária até a segunda-feira (24). As internações tiveram início em 26 de maio com o auxílio de uma tenda montada na rua Helvétia, ao lado do fluxo de usuários, estabelecido na alameda Cleveland em frente à estação Júlio Prestes.

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Usuários que foram internados na São João de Deus relataram agressões, uso de drogas e uma espécie de poder paralelo controlado por outros pacientes. A maioria voltou a frequentar o fluxo após passar pela internação. De acordo com o conselheiro do Cremesp, a falta de profissionais nos hospitais facilita fugas e todo tipo de irregularidades. No Hospital Cantareira, por exemplo, Aranha afirma que há apenas um funcionário de cada especialidade disponível. "É uma ação amadora, as equipes estão correndo atrás de uma pretensão intempestiva do senhor prefeito."

Arnaldo Senésio Dutra Filho, 36, conta que ficou sete dias internado no mês de junho e pediu para ir embora após ter sido roubado e agredido. "Roubaram meu tênis, roupas e até uma touca de frio", conta. "Outros internos enchem meias com sabonetes para bater em quem não obedece as regras e são recompensados com pizza pela direção da clínica", diz ele, que luta contra o vício em drogas desde os 13 anos e mora na cracolândia há cerca de dez meses.

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Outro interno, Wallas Timóteo de Jesus, 28 anos, diz que viu pacientes pulando o muro da clínica para pegar droga durante a semana que ficou internado no mês passado. "Alguns internos são escolhidos para fazer a segurança interna das alas e coordenam a distribuição de maconha e cocaína."

Para não serem descobertos, os usuários fumam maconha dentro do banheiro com o chuveiro ligado, diz um ex-interno que não quis se identificar.

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Mais um ex-interno que não quis se identificar conta que conseguiu fugir da clínica pela janela do banheiro. Segundo ele, não há controle do que ocorre dentro das alas de internação.

O usuário José Gilvan Andrade Souza, 30, disse que não aguentou ficar mais do que uma semana na clínica por causa do excesso de remédios. "Chegam a nos dar dezoito pílulas por dia. Passamos o dia dopados, é horrível", diz ele.

A secretária municipal de Saúde instaurou procedimento interno no início do mês para apurar denúncia de um usuário que afirma ter sido internado de forma involuntária em 31 de maio, segundo ofício publicado no Diário Oficial. Em declaração a promotores, o professor de 32 anos afirmou que sofre de alcoolismo e procurou a tenda do projeto Redenção, na Rua Helvétia, ao lado da cracolândia, em busca de tratamento.

Segundo o professor, ele não foi informado que seria internado quando entrou no Samu a caminho da clínica São João de Deus. Chegando lá, ele pediu para ir embora, mas foi informado pela direção da clínica que teria que ficar ao menos 60 dias. No depoimento, ele diz que só conseguiu sair após intervenção de ativistas do movimento A Craco Resiste, do qual faz parte.

A secretaria municipal de Saúde e as direções das clínicas São João de Deus e Cantareira foram procuradas pela reportagem, mas ainda não retornaram.

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