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Homem mora em sepultura há mais de uma década no interior do Paraná

CARLOS OHARA MARINGÁ, PR (FOLHAPRESS) - Todas as noites, há mais de uma década, o vulto de um homem é visto pulando o muro do cemitério municipal da pequena Marialva -cidade de 34 mil habitantes, a 461 km de Curitiba. Alheio a crendices ou histórias tétr

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 07.07.2017, 17:45:03 Editado em 07.07.2017, 17:45:03
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CARLOS OHARA

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MARINGÁ, PR (FOLHAPRESS) - Todas as noites, há mais de uma década, o vulto de um homem é visto pulando o muro do cemitério municipal da pequena Marialva -cidade de 34 mil habitantes, a 461 km de Curitiba.

Alheio a crendices ou histórias tétricas, o invasor do campo santo tem apenas um objetivo: descansar em meio ao silêncio do local, espremido em um sepulcro abandonado, até o alvorecer de um novo dia.

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As visitas noturnas ao cemitério, que não tem vigia, é questão de sobrevivência para o pedreiro Edson Aparecido Carvalho, 45. Morador de rua, ele escolheu o local em 2006, após ser expulso da rodoviária da cidade, onde dormia sob uma escada.

"Um dia fui contratado para fazer um túmulo aqui e vi que havia uma capelinha vazia. Me contaram que a ossada havia sido retirada e enviada para Campo Mourão e que o dono não apareceu mais. Pronto, encontrei minha casa", diz ele.

Nos últimos onze anos, Carvalho dormiu todas as noites no local. "Nunca vi alma de outro mundo, essas coisas. O que vejo são pessoas bem vivas que vem aqui para transar ou fazer algum 'despacho'. Nem me incomodo com isso e não saio fora do meu túmulo. Eu só quero é descansar".

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Após o repouso, o pedreiro utiliza os banheiros públicos do local para tomar banho e lavar roupas e sai em busca de "um bico". Mensalmente, consegue faturar cerca R$ 600 a R$ 700, atuando em serviços de construção, incluindo obras no cemitério.

A marmita com alimentos é parte do pagamento, durante os dias de trabalho. Nos finais de semana, utiliza uma área de depósito do cemitério para cozinhar em um fogão improvisado com tijolos e lenha. "Não posso dizer que vivo bem, mas sobrevivo em meio aos mortos", fala Carvalho.

O pedreiro tem uma irmã na cidade, mas não a procura. "Ela é casada e tem os problemas dela". Passou a morar na rua, após a morte dos pais. Permaneceu preso na cadeia da cidade por quatro meses, após acusação de roubo. "O cara que puxava um carrinho me acusou de roubar uns ferros dele, mas sou inocente", se defende. Voltou às ruas, sem documentos.

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Após encontrar o túmulo abandonado, que ele garante não ser "nenhum mausoléu", Carvalho acredita que deu um jeito na vida e estabeleceu uma rotina que inclui uma passada no bar, antes de pular o muro do cemitério. No pequeno sepulcro, com dimensões de 1,8 metro de frente e 2,4 metros de fundo, dorme enrolado em velhos cobertores. "E assim a vida passa".

A condição de vida do pedreiro parece não incomodar os habitantes de Marialva, cidade que tem sua base econômica sustentada pela agricultura e pelo cultivo de uvas finas.

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Carvalho se tornou figura folclórica no município e é adjetivado por alguns como "morto-vivo" ou "sem terra". O pedreiro Leonel Batista, que trabalha no cemitério, acredita que o homem é alvo de "uma maldição".

Na prefeitura, todos sabem da presença do pedreiro no cemitério, desde o início de suas invasões noturnas. A assessoria de imprensa do prefeito Victor Martini (PP) informou que Carvalho teria sido notificado em 2014, 2015 e em janeiro deste ano para deixar o sepulcro abandonado.

Com a divulgação do caso nos últimos dias, uma equipe de assistentes sociais encaminhou o pedreiro para retirar a segunda via dos documentos. Mas não há uma definição sobre sua saída do cemitério.

O assunto está em discussão na Câmara local. Entre as opções estão a destruição do túmulo e a construção de uma casa para Carvalho em um terreno público. A reportagem não conseguiu contato com o prefeito.

Enquanto isso, o pedreiro não pretende mudar sua rotina. Mesmo com os portões fechados com cadeados, ele vai continuar pulando o muro para repousar no sepulcro que escolheu como casa.

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