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Morador de rua levado a emprego por Doria volta a fazer 'casa' sob Minhocão

DHIEGO MAIA E EDUARDO ANIZELLI SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A vida do morador de rua Wlademir Delvechio, 33, deu várias voltas. De abril para cá, ele deixou as calçadas de São Paulo, ganhou teto num abrigo, fez cursos, terapia e entrevista de emprego por

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 26.06.2017, 12:15:09 Editado em 26.06.2017, 17:05:17
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DHIEGO MAIA E EDUARDO ANIZELLI

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A vida do morador de rua Wlademir Delvechio, 33, deu várias voltas. De abril para cá, ele deixou as calçadas de São Paulo, ganhou teto num abrigo, fez cursos, terapia e entrevista de emprego por meio de um programa de reinserção de sem-teto da gestão João Doria (PSDB), mas... voltou à estaca zero.

Delvechio vive há uma semana no mesmo lugar onde foi descoberto pela Folha de S.Paulo: sob o Elevado Presidente João Goulart, em frente ao metrô Marechal Deodoro, no centro da capital paulista.

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Reergueu a casa improvisada que o destacou entre os colegas de rua com móveis retirados do lixo. No local, há sofá, tapete, armários, muitos livros, utensílios domésticos e um colchão. Tudo é muito limpo e organizado. "Não é porque estou na rua que tenho que morar na sujeira", afirma.

A moradia chegou a ser destruída pela prefeitura um dia antes de ele conseguir uma vaga num abrigo público, no dia 24 de abril. Na única parede que tem à disposição, uma pilastra do Minhocão com o grafite de uma sereia, pendurou um quadro, onde se lê "Deus é pai" e sobre um armário, outro, com "Jesus é a causa."

FRUSTRAÇÃO

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O retorno às ruas ocorreu após ouvir um não, diz ele. "Fiz uma entrevista de emprego, mas não fui contratado. Eles acharam que eu ainda não tinha condições."

Conhecido como Alemão, apelido que recebeu dos colegas do Minhocão, disputou a vaga por meio do Trabalho Novo, programa social da prefeitura que dá emprego e capacitação aos sem-teto.

Deixou as ruas no dia 25 de abril e ficou sob os cuidados da prefeitura na casa de acolhimento Prates 2, no Bom Retiro (centro). Lá tirou os documentos, entre eles, a carteira de trabalho. A última vez que deu as caras no abrigo foi no dia 8 deste mês.

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"Eles garantiram que eu teria um emprego. Fui fazendo todo tipo de curso que surgia. Fiz até terapia de grupo, mas não me acostumei", conta.

Alemão também diz que foi vítima de preconceito. "Você acha que eles contratam morador de rua?" A entrevista de emprego ocorreu no McDonald's, uma das 116 empresas parceiras da prefeitura.

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O não também desencadeou uma recaída ao álcool, diz à reportagem, que o visitou por duas vezes ao longo da semana passada.

O morador de rua também luta para não ser mais uma vez dominado pelo crack. O vício surgiu quando ganhou uma pedra da droga de um traficante. Foi internado mais de uma vez e acabou preso por furto, aos 19.

Após chegar em São Paulo há três anos para tentar um emprego como pintor, acabou na rua atrás da pedra. Vivia pela cracolândia até "fugir" para debaixo do elevado.

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FAMÍLIA

Após deixar o abrigo da prefeitura, foi amparado pelo irmão, um pastor evangélico que descobriu seu paradeiro pelo jornal. Alemão foi levado pelo irmão a Itajaí (SC), onde mora a família. Ele chora ao se lembrar do reencontro com a mãe. "Ela queria que eu ficasse lá, mas gosto de fazer meus 'corres' com liberdade."

De volta à capital paulista, diz que se batizou. Um dia resolveu descer às águas na Igreja Internacional da Graça de Deus, do missionário R.R Soares, por conta própria. Escolheu o prédio da igreja na Avenida São João, também no centro, para realizar o ato de fé. "Me senti muito bem."

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Vive de fazer bicos. No último serviço executado, ganhou alguns trocados como pintor. Sempre acorda muito cedo. Diz que os colegas dormem o dia todo porque são depressivos.

O primeiro "corre" do dia é com a higiene. A água que usa para lavar o rosto e escovar os dentes vem de uma lanchonete. Também usa o banheiro do metrô para tomar banho improvisado.

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Alemão é muito benquisto por todos. "Ele é diferenciado dos demais. Sempre que posso sento lá e converso com ele", diz a atendente Vanessa Santos, 23. Nunca foi visto sujo e sempre está de barba feita, dizem os vizinhos.

Agora, Alemão tem dois problemas a resolver. O primeiro, diz ele, mais fácil, é achar um carregador para voltar a fazer vídeos de um celular que achou no lixo. "É ele [aparelho] que me tira das ondas."

O segundo, mais difícil, é rever os filhos, de oito e 16 anos, que moram com a ex-mulher, em Ilha Comprida (no litoral sul de SP). "Eu ainda não tenho condições para isso", afirma, emocionado.

OUTRO LADO

A Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social diz, por meio da assessoria, que Wlademir Delvechio foi atendido por assistentes sociais e psicólogos como uma das fases para ser encaminhado ao mercado de trabalho.

A pasta confirmou que Delvechio fez uma entrevista de emprego, porém, "deveria ter continuado a capacitação a fim de participar de novos processos", segundo a nota.

A secretaria afirmou ainda que estava à procura de Delvechio e que existe uma nova vaga de emprego no perfil dele. A ver.

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