DHIEGO MAIA E FABRÍCIO LOBEL
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O endereço da nova cracolândia de São Paulo, entre as ruas Helvétia e Cleveland, no centro, deixou os usuários encurralados num espaço pequeno, localizado numa praça quase em frente à estação Júlio Prestes, próxima da rua Dino Bueno, local que abrigou a feira livre de drogas por décadas.
A PM e a Guarda Civil Metropolitana cercam o local com carros. Helicóptero da polícia também sobrevoa constantemente a região.
Sem muito espaço, os usuários estão deitados no chão e a típica circulação, o chamado fluxo, na nova cracolândia, quase não se via no final da manhã desta quinta-feira (22).
O novo êxodo de usuários ocorreu no final da noite desta quarta-feira (21). Eles deixaram o bosque da praça Princesa Isabel, também no centro, e foram para o novo espaço. Segundo a polícia, a migração ocorreu de forma espontânea. Mas agentes de saúde disseram à reportagem que o PCC (Primeiro Comando da Capital) teria ordenado a mudança.
Ainda segundo os agentes de saúde, os dependentes químicos estavam se sentindo incomodados com uma ação de limpeza da prefeitura na praça Princesa Isabel, que despejava água no bosque e formava muita lama medida para afastar os usuários do local.
Em nota, a prefeitura diz que a limpeza da praça e de outros locais públicos deve ser constante e necessária como ferramenta de prevenção em saúde, e não como meio de afugentar dependentes químicos. "Não realizar a limpeza, do ponto de vista do interesse público, é que seria algo a ser contestado", segundo trecho da nota.
LIMPEZA
Por volta das 15h30, a GCM e a Polícia Militar bloqueou ruas na região para a realização de uma operação de limpeza da praça na alameda Cleveland, ocupada agora pelos usuários de droga.
Com a chegada da GCM na via, centenas de dependentes deixaram o calçadão ocupado desde a noite anterior e passaram a se concentrar na esquina da Cleveland com a rua Helvétia. Alguns dependentes falavam "vamos na caravana", enquanto caminhavam em grupo.
Em seguida, uma equipe de varredores retirou os pertences deixados para trás pelos usuários: uma cama, mesa, colchões, bancos roupas e garrafas plásticas. Caminhões pipa ainda foram usados para lavar a rua.
Logo após a limpeza da praça, que durou cerca de 40 minutos, os usuários retornaram para o local onde haviam passado a noite.
SUPERLOTAÇÃO
A nova cracolândia se estabeleceu ao lado das estruturas de atendimento de programas antidrogas, como o Recomeço, do Estado, e o da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, da prefeitura.
O galpão da prefeitura, com capacidade para 38 colchões, está superlotado. Sob um teto de zinco, os usuários que conseguiram uma vaga descansam e assistem TV.
No pátio do galpão, a reportagem contou ao menos mais 15 usuários deitados. No local, os dependentes se alimentam, tomam banhos improvisados em torneiras e são constantemente convidados por agentes a iniciar tratamentos contra o vício.
Já na rua Helvétia, mais assistentes sociais jogavam futebol no asfalto com crianças e usuários e batucavam tambores no final da manhã desta quinta. Uma estratégia para atrair os dependentes químicos aos atendimentos na região.
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