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Leandra Leal lança documentário 'Divinas Divas', sobre oito transformistas pioneiras no país

LÍGIA MESQUITA SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Sentada em uma cadeira em sua casa, no Rio, de peruca curtinha de cor chocolate, blusa e brincos de estampa de oncinha e longas unhas postiças vermelhas, Fujika de Halliday pergunta, com um riso tímido: "Eu sou

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 18.06.2017, 07:10:07 Editado em 18.06.2017, 07:10:08
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LÍGIA MESQUITA

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Sentada em uma cadeira em sua casa, no Rio, de peruca curtinha de cor chocolate, blusa e brincos de estampa de oncinha e longas unhas postiças vermelhas, Fujika de Halliday pergunta, com um riso tímido: "Eu sou diva, será?". Diva, diz a atriz, é palavra e coisa muito séria. "Diva é diva, né? São essas mulheres maravilhosas, como a Maria Callas."

Para a diretora Leandra Leal, Fujika é uma diva, sim, assim como Brigitte de Búzios, Camille K., Divina Valéria, Eloína dos Leopardos, Jane Di Castro, Marquesa e Rogéria, artistas travestis pioneiras no Brasil, que são retratadas no documentário "Divinas Divas", com estreia nesta quinta-feira (22).

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"Elas são divas para mim. São pessoas que colocam a arte acima de tudo, que têm dignidade e dedicação à sua arte. Diva, pra mim, é ter isso acima de tudo", diz Leandra, 34, à reportagem, por telefone.

O longa, primeira incursão na direção da conhecida atriz de televisão e cinema, ganhou prêmios do público nos festivais do Rio e no americano SXSW. E terá, neste domingo (18), um trio elétrico na Parada Gay, em São Paulo.

Apesar de dialogar bastante com a comunidade LGBT, "Divinas Divas" não tem pretensão de tratar a questão de identidade de gênero no Brasil. Está mais para um filme de amor à arte feito por uma artista para suas colegas.

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"Fiz um filme sobre oito artistas que admiro, não fiz um documentário sobre travestis, sobre trans. Claro que, por elas serem pioneiras, acabam contando muito da história do travestismo no Brasil, mas não é essa a intenção", diz.

A diretora, contudo, espera que o longa ajude a diminuir preconceitos no país. "Um dos maiores elogios que ouvi após uma sessão foi: 'Nunca mais vou olhar um travesti como eu olhava'."

HISTÓRIAS CRUZADAS

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No início do documentário, a diretora explica, por meio de uma narração em off, de onde vem sua relação com essas artistas que nasceram homens, mas decidiram se vestir (e/ou viver) como mulheres, no palco ou fora dele.

Foi nos bastidores do teatro Rival, no Rio, que pertenceu ao avô de Leandra, Américo Leal, que muitas dessas performers se apresentaram a partir dos anos 1960.

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Em uma de suas falas, Leandra conta as memórias das festas e espetáculos do Rival e das lembranças de seu pai e seu padrinho, que eram gays. A atriz conta que, após três anos montando o filme, decidiu se colocar também na obra. "Assim como elas estavam expostas, achei que eu tinha que me expor."

Em 2004, quando o Rival completou 70 anos, a mãe de Leandra, a também atriz Angela Leal, convidou Jane Di Castro para montar o espetáculo "Divinas Divas".

A partir dali, Leandra passou a conviver com as personagens de seu filme.

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Anos depois, ela, que se imaginava estreando na direção com uma ficção, decidiu que faria um documentário sobre aquelas mulheres durante a montagem, em 2014, do novo "Divinas..." que comemoraria os 50 anos de carreira das artistas.

Para conseguir filmar, Leandra fez um crowdfunding em 2013 e arrecadou pouco mais de R$ 150 mil.

A atriz, na época, não conseguiu patrocínios. "Tive recusas por causa dos temas, falar de travestis e de envelhecimento, dois tabus que existem no Brasil."

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CHORO E RISO

O filme mostra os ensaios do show "Divinas Divas", assim como o espetáculo em si, além de trazer ótimos depoimentos das artistas. Fotos, jornais e filmes servem para costurar e contextualizar as histórias contadas, muitas da época da ditadura.

Algumas passagens contadas são muito tristes, como a das internações em sanatórios de Marquesa (que morreu em 2015, aos 71 anos) e Brigitte, para se "curarem".

Há também momentos de riso e deboche --por exemplo, de Rogéria, 74, ao se definir como "o travesti da família brasileira".

Para Jane Di Castro, 69, essa mistura de emoções e uma certa nostalgia são coisas ótimas do filme. "Acho importante falar das nossas dificuldades. A gente era presa se saísse de mulher na rua. Essas trans novas reclamam muito da liberdade, imagina na nossa época", fala.

Rogéria acha que "Divinas..." estreia num momento oportuno. "Houve um retrocesso terrível na democracia. As pessoas não respeitam professores, as mulheres continuam apanhando. As bichas reclamam, mas as mulheres apanham muito."

Para ela, o longa pode ajudar a mudar a visão de algumas pessoas. "Os gays são seres humanos maravilhosos. Os grandes nomes da arte, Oscar Wilde, Tennessee Williams, tudo gay. Mas, para ser gay, tem que ser inteligente. A bicha que não estuda vai ficar a ver navios."

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