DIOGO BERCITO, ENVIADO ESPECIAL
LONDRES, REINO UNIDO (FOLHAPRESS) - Abalada pelo revés nas eleições gerais de quinta (8), a primeira-ministra britânica, Theresa May, decidiu aliar-se a um pequeno partido norte-irlandês para se salvar no cargo. Seu Partido Conservador venceu a votação, antecipada por ela, mas perdeu a maioria no Parlamento. Às 12h30 locais (8h30 em Brasília), May foi ao palácio de Buckingham pedir à rainha Elizabeth 2ª permissão para formar o governo. Na saída, disse que "é hora de trabalhar" e prometeu um futuro de "confiabilidade".
Em uma votação que registrou o maior índice de comparecimento no país em 20 anos, 69%, o Partido Conservador conquistou 318 assentos, oito aquém do necessário para ter maioria (são 650 cadeiras) e 12 a menos do que tinha na última legislatura. Seu principal adversário, o Partido Trabalhista, terá 262 cadeiras, um avanço de 33.
Para formar a maioria, May anunciou acordo com o DUP (Partido Unionista Democrático), da Irlanda do Norte, que elegeu dez parlamentares.
"Nossos partidos desfrutaram uma relação intensa durante anos, e isso me dá confiança para acreditar que seremos capazes de trabalhar juntos pelos interesses de todo o Reino Unido", disse ela.
Já o DUP justificou o apoio como forma de impedir que o líder trabalhista, Jeremy Corbyn, chegue ao poder, o que pode ocorrer se os conservadores falharem em formar governo. Corbyn tem boa relação com os nacionalistas norte-irlandeses, rivais do DUP, que defende permanecer no Reino Unido.
A primeira-ministra também adiou uma esperada troca de gabinete e disse que manterá os ministros Philip Hammond (Fazenda), Boris Johnson (Relações Exteriores) e Amber Rudd (Interior), o que irritou o eleitorado trabalhista, que foi às ruas protestar. Com o resultado, Corbyn exortara May a sair.
IMPACTO
As urnas trouxeram um enorme prejuízo pessoal e político para May, que assumiu a chefia de governo por decisão do partido após a renúncia de David Cameron (2010-16) na sequência de um plebiscito no qual os britânicos decidiram deixar a União Europeia, em junho passado.
Em uma jogada arriscada, ela decidiu em abril antecipar as eleições, previstas para 2020, para tentar ampliar a maioria parlamentar e fortalecer sua posição ao negociar o "brexit", a saída da UE.
Pesou para o resultado a participação do eleitorado até 34 anos, que saltou 12 pontos e chegou a 56% (o voto é facultativo). Essa fatia, cada vez mais, demonstra preferência pelos trabalhistas, que obtiveram 60% de seus votos.
Com o fiasco, cresceu o coro pela renúncia, que May rejeita. Sua saída, contudo, pode se tornar inevitável caso a aliança com o DUP se prove frágil para avançar a plataforma trabalhista ou sucumba a divergências de propostas.
Fontes políticas ouvidas pela mídia britânica colocam em seis meses esse prazo para ela provar sua força ou convocar novas eleições.
O direito da primeira tentativa de formar um governo cabe aos conservadores, que obtiveram a votação mais expressiva. Se falharem, a prerrogativa passa aos trabalhistas, os segundos nas urnas.
"Vamos nos apresentar para servir o país e formar um governo de minoria", disse John McDonnell, porta-voz trabalhista. "Não creio que os conservadores nem a primeira-ministra sejam estáveis."
O cenário em que um partido não tem a maioria para governar é conhecido no país como "hung Parliament", o "Parlamento suspenso".
Sem a aliança com a sigla norte-irlandesa, May poderia, em tese, manter-se na chefia de governo até a primeira reunião do Parlamento, na terça (13), quando precisaria achar uma fórmula para governar sem a maioria.
Uma opção é o acordo de confiança, em que negociaria o apoio das siglas em troca de políticas -mas elas não recebem cargos no governo, diferentemente da coalizão.
Outra é o governo de minoria, quando se negocia votos no Parlamento caso a caso.
A última vez em que o Reino Unido teve um "Parlamento suspenso" foi em 2010, no que levou à primeira coalizão desde a Segunda Guerra.
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