SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Arábia Saudita e seus aliados romperam nesta segunda-feira (5) as relações diplomáticas com o Qatar, ao acusar o país de apoiar o terrorismo. A decisão abre a mais grave crise diplomática no golfo Pérsico desde a guerra contra o Iraque, em 1991.
O Qatar rejeitou a decisão, que chamou de "injustificável" e "sem fundamento".
Segundo o jornal britânico "Financial Times", que cita fontes no governo qatariano, o estopim para o rompimento teria sido o pagamento de um resgate de US$ 1 bilhão pelo Qatar a extremistas que haviam sequestrado membros da família real do país no sul do Iraque, durante uma viagem de caça.
O dinheiro teria sido destinado a um braço da rede terrorista Al Qaeda na Síria e agentes de segurança do Irã.
O governo não se manifestou sobre o suposto sequestro, mas uma fonte disse ao "Financial Times" que "pagamentos foram feitos".
A Bolsa de Doha encerrou a sessão de segunda-feira em forte queda de 7,58% e os moradores da capital correram aos supermercados para estocar alimentos, de acordo com o site Doha News.
A ruptura das relações da Arábia Saudita, Bahrein e Emirados Árabes Unidos, além de Egito e Iêmen, com o Qatar aconteceu duas semanas após visita de Trump à capital saudita. Ele pediu aos muçulmanos uma mobilização contra o extremismo.
As Maldivas, um arquipélago localizado no oceano Índico, e o governo da Líbia sediado no leste do país -que não é reconhecido internacionalmente- também se uniram no boicote ao Qatar.
A decisão provocou uma reação comedida de Washington -aliado de Riad e de Doha-, que pediu aos países do Golfo que permaneçam "unidos".
A Turquia, país ligado ao Qatar, e o Irã fizeram apelos a favor do diálogo. A aproximação de Teerã com o Qatar irritou os países vizinhos do Golfo. O Irã xiita é considerado o grande rival regional da sunita Arábia Saudita.
Os dois países romperam relações em janeiro de 2016, após a execução de um líder xiita no país monárquico.
O Qatar sempre ocupou um lugar à parte na região, com sua própria política regional e afirmando sua influência por meio do esporte, em especial com a organização da Copa do Mundo de 2022.
Arábia, Emirados, Bahrein e Egito justificaram a ruptura com o Qatar por seu apoio a organizações como Al Qaeda, Estado Islâmico e Irmandade Muçulmana, grupo que é considerado "terrorista" pelo Egito e os países do Golfo.
O Qatar foi um dos principais apoios ao ex-presidente islamita egípcio Mohammed Mursi, derrubado em 2013 pelo ex-comandante das Forças Armadas e atual presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi. Desde então os dois países têm uma relação tensa.
A TV estatal saudita anunciou o fechamento do escritório em Riad da Al Jazeera, principal rede árabe de notícias, sediada em Doha.
COALIZÃO
O Qatar também foi expulso da coalizão militar árabe que atua no conflito no Iêmen, pelo suposto apoio à Al Qaeda e ao EI no Iêmen.
A coalizão, liderada pela Arábia Saudita, está presente há mais de dois anos no Iêmen para apoiar o governo de Abdo Rabbo Mansour Hadi, que luta contra os rebeldes houthis, grupo de milícias xiitas. O conflito já deixou mais de 8.000 mortos e 45 mil feridos, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
A Arábia Saudita, que tem as Forças Armadas com os melhores equipamentos do Oriente Médio depois de Israel, é um dos principais compradores de armas do mundo e também um dos grandes aliados de Washington na região, frente ao Irã e contra a facção terrorista Estado Islâmico na Síria e Iraque.
Além da ruptura das relações diplomáticas, os países do Golfo fecharam espaços aéreos e acessos terrestres e marítimos ao Qatar, além de proibirem viagens ao país e a entrada de cidadãos qatarianos.
A suspensão dos voos com destino ou origem no Qatar foi anunciada pelas principais companhias aéreas do Golfo. Em resposta, a Qatar Airways também anunciou a suspensão de todos os voos para a Arábia Saudita.
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