IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O conflito entre Ucrânia e Rússia custou até agora cerca de 10 mil vidas no leste ucraniano, passou pelo concurso brega de música Eurovision e agora degenerou numa guerra de memes.
O presidente russo, Vladimir Putin, havia dito, em visita à França na segunda (29) que as tradicionalmente boas relações russo-francesas remontavam ao papel de uma rainha consorte francesa originária da "Europa Oriental". Falou numa "Anne russa", sem dar detalhes sobre o assunto com seu colega Emmanuel Macron.
Mas ele se referia a Anne de Kiev (1030-1075), filha do líder do então Principado de Kiev, a área histórica associada a populações eslavas que viriam a formar Estados como a Rússia e a Ucrânia, entre outros.
A disputa pela liderança entre os povos e dentro da Igreja Ortodoxa está na raiz da rivalidade entre Moscou e Kiev, cujo balanço de poder pendeu ao longo dos séculos em favor dos russos como dominantes, seja na dinastia Románov ou sob a União Soviética.
Em um ambiente carregado pela guerra civil entre Kiev e separatistas pró-Rússia e a anexação da Crimeia em 2014 por Moscou, que toca justamente no ponto da herança cultural comum já que a região sempre teve maioria russa e só foi cedida amigavelmente aos ucranianos em 1954, houve a reação virtual.
Em sua conta no Twitter, o governo ucraniano postou: "Quando a Rússia diz que Anne de Kiev estabeleceu as relações russo-francesas, deixe-nos lembrar a sequência de eventos". Ao texto, foi anexado um verbete histórico sobre a rainha, seguido de outro com os dizeres "1051 - Enquanto isso, em Moscou..." e a foto de uma floresta boreal -a capital russa não existia.
Os russos morderam a isca, respondendo que a "herança cultural comum" deveria unir, e não separar, os povos da Rússia, Ucrânia e Belarus, todos ex-Estados soviéticos devidamente identificados por emojis de bandeirinhas. E o recibo: "1051 - Enquanto isso, em Veliky Novgorod", com a foto da magnífica catedral ortodoxa da cidade russa.
O golpe final veio na resposta, com um meme retirado da animação "Os Simpsons": um diplomata na ONU bate na mesa, e a plaquinha escrito "Rússia" à sua frente dá lugar a outra dizendo "União Soviética". "Vocês não mudam mesmo, não é?", critica o governo da Ucrânia.
O evento todo coroa com contornos burlescos a grave crise entre os países, que ameaça toda a estabilidade na relação entre Rússia e o Ocidente. No começo do mês, a Ucrânia já havia proibido uma cantora russa de participar do popularíssimo concurso de música na TV Eurovision, cuja edição 2017 ocorreu em Kiev. Isso porque ela já havia se apresentado na Crimeia pós-anexação.
Logo depois, o ator de filmes de ação B Steven Seagal foi proibido entrar em território ucraniano por sua proximidade ideológica com o regime de Putin -que lhe concedeu passaporte.
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