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Após tropeços, 'semana perdida' na cracolândia frustra plano de Doria

ARTUR RODRIGUES, LEANDRO MACHADO E EDUARDO SCOLESE SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - No domingo (21), o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), andava pela cracolândia, centro da cidade, vestindo um casaco preto. Apontava pilhas de lixo e cumprimentava poli

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 28.05.2017, 08:45:02 Editado em 28.05.2017, 22:15:35
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ARTUR RODRIGUES, LEANDRO MACHADO E EDUARDO SCOLESE

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - No domingo (21), o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), andava pela cracolândia, centro da cidade, vestindo um casaco preto. Apontava pilhas de lixo e cumprimentava policiais que minutos antes haviam expulsado usuários de crack e prendido dezenas de traficantes.

Gravou um vídeo para divulgar em redes sociais. Aos repórteres Doria foi enfático: "A cracolândia aqui acabou, não vai voltar mais. Nem a prefeitura permitirá nem o governo do Estado. A partir de hoje, isso é passado".

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Nos bastidores, o clima estava mais tenso. De um lado, aliados do governador Geraldo Alckmin (PSDB), padrinho político de Doria, queixavam-se da tentativa do prefeito de ser protagonista de uma operação policial, a cargo do Estado, "sem banho de sangue".

De outro, integrantes de pastas sociais da prefeitura reclamavam de um "atropelo" da polícia. Diziam esperar uma ação apenas no fim de maio ou início de junho, sem um único "Dia D" -e que, por isso, teriam que improvisar para atender os dependentes que buscassem acolhimento.

Inicialmente, o plano era seguir alguns traficantes e prendê-los fora da área da cracolândia (na casa deles, por exemplo). O objetivo era evitar confrontos e uma fuga de usuários para outras regiões do centro, o que acabou acontecendo em seguida.

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Desde o início do ano, a prefeitura e o governo Alckmin trabalhavam em sintonia no programa Redenção, criado por Doria para substituir o Braços Abertos, de Fernando Haddad (PT). O projeto era bem-visto pelo Ministério Público, que acompanhava sua concepção.

FORA DOS TRILHOS

No dia do lançamento da ação, a gestão Doria pretendia ter prontos equipamentos ambulatoriais, vagas em hospitais e estrutura de acolhimento para os viciados.

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O plano começou a sair dos trilhos no fim de abril, quando reportagens da Folha de S.Paulo e da TV Globo passaram a mostrar a feira livre de drogas no local, com bolos de notas e grandes pedras de crack.

A pressão sobre Alckmin subiu com a morte de um socorrista por traficantes e a divulgação de foto de bandidos armados na cracolândia.

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A essa altura, a Polícia Civil, que trabalhava com agentes infiltrados, deu largada em um novo plano. Já era sabido quem eram os criminosos que mandavam por ali.

A Secretaria da Segurança Pública, do governo Alckmin, avisou o secretário de Governo de Doria, Julio Semeghini. A polícia queria que a GCM (Guarda Civil Metropolitana) assumisse o perímetro da cracolândia, para evitar que o tráfico retornasse para lá.

A essa altura, as questões social e de saúde tinham ficado em segundo plano. Mostra disso é que secretários dessas áreas na gestão Doria foram avisados só um dia antes da ação, segundo nota da administração municipal.

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Essa versão veio à tona depois que a operação começou a sair do controle, com secretários de Alckmin e Doria contradizendo uns aos outros.

A rede municipal não estava preparada. Egressos da cracolândia dormiram no chão de abrigos, comeram comida estragada e equipamentos ambulatoriais temporários não haviam sido montados.

CRACOLÂNDIAS

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Com a dispersão dos usuários, houve a formação de uma nova cracolândia a menos de 400 metros da antiga -dessa vez, na praça Princesa Isabel. O tráfico e o uso de crack continuaram a céu aberto. Outros 22 pontos de consumo cresceram na cidade, do Minhocão à av. Paulista.

Na terça (23), Doria foi até a cracolândia para iniciar outra fase da operação: a derrubada de prédios do antigo fluxo -entre a alameda Dino Bueno e a rua Helvétia.

A ação foi um desastre: funcionários da prefeitura começaram a demolir um edifício com moradores dentro -três se feriram. Doria e secretários saíram às pressas do local. Órgãos que antes apoiavam o programa anticrack de Doria se sentiram traídos. O promotor Arthur Pinto Filho classificou o processo como uma "selvageria sem paralelo".

A secretária de Direitos Humanos, Patrícia Bezerra, afirmou que a ação foi "desastrosa" e pediu demissão.

Doria dobrou a aposta ao pedir autorização à Justiça para recolher dependentes na rua para avaliação -podendo depois interná-los à força desde que com aval de um juiz. Enquanto secretários diziam que a ação policial facilitou a abordagem dos usuários, o pedido ao Judiciário falava o inverso: a dispersão teria atrapalhado o trabalho.

Na sexta (26), agentes abordaram 156 pessoas. Três aceitaram tratamento. À noite, o juiz Emílio Migliano Neto aceitou o pedido de Doria, por 30 dias, focado na cracolândia.

A prefeitura ainda não sabia bem como tirar isso do papel. Entre sua equipe, falava-se no medo de que Doria tivesse se metido em uma "Guerra do Vietnã", o longo conflito em que os EUA entraram e acabaram derrotados.

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