ISABEL FLECK
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - O presidente dos EUA, Donald Trump, teria revelado informação altamente confidencial ao chanceler russo, Sergei Lavrov, sobre uma potencial ameaça do Estado Islâmico durante encontro na Casa Branca na última semana, segundo o "Washington Post". A Casa Branca disse que a denúncia feita pelo jornal é "falsa".
A revelação teria sido feito sem a permissão do parceiro americano que repassou aos EUA, por meio de um acordo, os dados de inteligência, e poderia comprometer a segurança de um colaborador, de acordo com funcionários e ex-funcionários do governo ouvidos pelo jornal.
Segundo o "Post", Trump informou a Lavrov e o embaixador russo, Sergey Kislyak, "detalhes de uma ameaça terrorista do EI relacionada ao uso de laptops em aviões".
Pouco depois da publicação, o conselheiro de Segurança Nacional, H. R. McMaster, disse que "estava na sala" durante a conversa de Trump e Lavrov e "isso não aconteceu".
"O presidente e o chanceler revisaram uma série de ameaças comuns aos dois países, incluindo ameaças relativas à aviação civil", disse. "Em nenhuma hora, as nossas fontes ou métodos de inteligência foram discutidos. E o presidente não revelou nenhuma operação militar que já não seja de conhecimento público."
O secretário de Estado, Rex Tillerson, também publicou uma nota afirmando que, no encontro, não foram discutidos "fontes, métodos ou operações militares".
O tema seria tão sensível que os EUA não teriam dividido a informação confidencial nem com governos aliados --e poucos integrantes do governo americano também tinham acesso ao conteúdo. "[Trump] revelou mais informação ao embaixador russo do que compartilhamos com nossos próprios aliados", disse um dos funcionários.
Um dos dados mais perigosos que teria sido revelado pelo presidente é a cidade no território ocupado pelo Estado Islâmico em que o parceiro de inteligência americano descobriu a ameaça -colocando em risco colaboradores no local.
O fato de o governo parceiro que obteve a informação não ter sido consultado antes de o presidente compartilhar os dados com a Rússia também ameaça o acordo com um aliado que tem acesso à milícia radical, segundo o jornal. O país não foi revelado, mas os mesmos funcionários teriam se queixado da inabilidade do governo Trump de guardar informações confidenciais sobre Iraque e Síria.
Trump recebeu Lavrov num timing controverso: no dia seguinte à demissão do então diretor do FBI (polícia federal americana), James Comey, que liderava as investigações sobre possíveis elos de membros da equipe do republicano com Moscou durante a campanha eleitoral.
O embaixador russo, que participou das conversas, foi o pivô da queda do conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn em março, e está no centro das suspeitas relações entre o governo russo e os assessores de Trump.
Apesar de os dois países reconhecerem o Estados Islâmico como inimigo e compartilharem algumas poucas informações sobre ameaças terroristas, EUA e Rússia têm agendas diferentes na Síria, onde Moscou apoia o regime de Bashar al-Assad.
Em abril, um ataque americano a instalações militares sírias, em retaliação a um ataque químico contra civis no país, elevou as tensões entre Washington e Moscou, que reconheceram, na época, estar no pior momento da relação desde a Guerra Fria.
Antes de Lavrov ir à Casa Branca, Tillerson foi a Moscou, na semana seguinte ao ataque americano à Síria, e se encontrou com o chanceler russo e o presidente Vladimir Putin. Há a expectativa de que os dois presidentes se encontrem em julho, às margens do G-20, na Alemanha.
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