ISABEL FLECK
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - As suspeitas em relação às circunstâncias da demissão do diretor do FBI, James Comey, na última semana, poderão fazer com que a instituição saia fortalecida do episódio, ao contrário do que se esperava, afirmam especialistas e ex-agentes.
A ideia é que, diante das dúvidas sobre a real intenção do presidente em demitir Comey -que conduzia uma investigação sobre possíveis ligações de assessores de Donald Trump com a Rússia durante a campanha eleitoral-, Congresso e população ficarão atentos a qualquer obstrução das investigações.
Os agentes também deverão estar mais dispostos a denunciar eventuais intervenções da Casa Branca, apostam os especialistas ouvidos pela reportagem.
Um passo importante será a escolha do sucessor de Comey, processo iniciado no fim de semana, com a entrevista de pelo menos oito nomes para ocupar o posto. Segundo Trump, seu indicado para novo diretor do FBI pode ser anunciado nesta semana.
A desconfiança gerada pela demissão pode ser vista em números. Pesquisa Wall Street Journal/NBC News divulgada no domingo (14) mostra que 46% dos americanos acreditam que o real motivo de Trump ao demitir Comey foi frear a investigação sobre a Rússia, contra 36% que não acham que essa foi a razão.
Só 38% assume como verdade a justificativa oficial -de que Comey caiu pela forma como conduziu a investigação sobre o uso indevido de e-mails pela ex-secretária de Estado Hillary Clinton.
"Acredito que muitos funcionários do FBI perceberam a demissão como forma de insultar não só Comey como o bureau, Mas ninguém ficará com medo de ser punido por fazer seu trabalho", diz o ex-agente Ron Hosko, presidente da organização Law Enforcement Legal Defense Fund.
Para o historiador Douglas Charles, especialista em FBI da Universidade Estadual da Pensilvânia, apesar de a demissão de Comey ser "clara mensagem para que a investigação da Rússia seja freada", os agentes devem reagir de forma contrária, evitando que a apuração seja afetada.
"Me parece que a reação política negativa à decisão de Trump vai dificultar qualquer possível tentativa de parar a investigação", diz Charles.
Rhodri Jeffreys-Jones, autor de "A História do FBI" (2007), vai além, sugerindo que as contradições sobre a queda de Comey podem se tornar um obstáculo ainda maior para Trump.
"Se o FBI identificar que não há ligação entre a equipe de Trump e a Rússia, é possível que ninguém acredite, uma vez que há tanta suspeita no ar", afirma.
SUCESSÃO
Há um consenso de que o nome indicado por Trump para suceder Comey será o mais importante sinal de como o presidente está disposto a resolver a crise criada com a demissão do diretor.
No sábado, o secretário de Justiça, Jeff Sessions, e seu vice, Rod Rosenstein, entrevistaram oito possíveis sucessores, entre eles o atual diretor-interino, Andrew McCabe, o juiz de apelação do Estado de Nova York Michael Garcia, o senador John Cornyn e o ex-deputado Mike Rogers. O indicado terá que ser confirmado pelo Senado.
Para Charles, a principal preocupação em relação ao próximo diretor é que ele seja independente e alheio à pressão da Casa Branca.
"Uma das razões pelas quais se instituiu o mandato de dez anos para os diretores do FBI é justamente para que eles não estivessem suscetíveis à pressão política de um presidente", afirma.
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