MARCO AURÉLIO CANÔNICO
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A controversa demolição do palácio Monroe, sede do Senado na época em que o Rio era capital federal, merece ser lembrada, especialmente neste momento em que a cidade passa por novo surto transformista.
Infelizmente, o documentário "Crônica da Demolição" não cumpre a contento a missão de narrar a história do icônico edifício, que por 70 anos (1906-1976) ocupou lugar privilegiado no mapa e no imaginário do Rio.
Um defeito do filme é não se definir entre focar no Monroe ou falar das transformações urbanas do Rio. Os temas estão conectados, é claro, mas o segundo é muito mais amplo e difícil de abarcar. A transição do específico para o geral não acontece de modo fluido, mas aos saltos.
O documentário também peca pela falta de didatismo. Dados básicos sobre o palácio são omitidos.
Não há sequer um mapa para localizar geograficamente a edificação na cidade. Também faz falta uma narração que amarre os depoimentos e o roteiro. Quem não conhece o Rio e sua história terá dificuldades em acompanhar a trama.
Por outro lado, há belas imagens aéreas e cenas de arquivo, que permitem vislumbrar a cidade antes, durante e depois das intervenções na região central. Mas também há tomadas de prédios em excesso, que não se justificam.
O filme apresenta os vários argumentos que foram usados em defesa da demolição, começando pelos arquitetônicos: os modernistas, liderados por Lucio Costa, rejeitavam o estilo eclético do Monroe, que consideravam frio e ultrapassado, um "hiato" na história da arquitetura.
Houve também interesses econômicos e políticos do regime militar, que investia em obras de engenharia e de construção civil que empregavam muita gente.
E houve, por fim, a transferência da capital federal para Brasília, deixando o prédio sem finalidade adequada. A ordem final para dar fim à construção, já decadente nos anos 1979, veio do então presidente Ernesto Geisel.
Destacam-se alguns bons depoimentos, como o do ex-prefeito Cesar Maia, grande conhecedor da história da cidade e que ressalta a campanha movida pelo jornal "O Globo" em prol da demolição do Monroe --que o documentário, estranhamente, não ilustra com exemplares de época.
A derrubada do palácio Monroe foi um dos muitos exemplos do desprezo que sucessivas administrações dedicaram à história do Rio. Como diz um dos entrevistados, "a preservação é um ato afetivo". Ontem, como hoje, os cariocas sentem falta desse tipo de afeto.
CRÔNICA DA DEMOLIÇÃO
DIREÇÃO Eduardo Ades
PRODUÇÃO Brasil, 2017; livre
QUANDO estreia nesta quinta (11)
AVALIAÇÃO regular
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