SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Turquia rechaçou nesta quarta-feira (10) a decisão tomada pelos Estados Unidos na véspera de enviar armas pesadas para milícias curdas que combatem a organização terrorista Estado Islâmico (EI) na Síria.
"Cada arma que chega às mãos deles [curdos] é uma ameaça para a Turquia", declarou o chanceler do país, Mevlut Cavusoglu, pedindo que os Estados Unidos revertam sua decisão "inaceitável".
Ele também afirmou que o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, discutirá o tema com seu colega americano, Donald Trump, durante sua visita a Washington na semana que vem.
Os Estados Unidos consideram as Forças Democráticas da Síria (FDS), uma coalizão de grupos árabes e curdos, seu principal aliado na guerra contra o EI no norte do país. Desde a chegada de Donald Trump ao poder, os Estados Unidos vêm intensificando seu apoio à coalizão, que realiza desde novembro uma campanha para expulsar os combatentes do EI de Raqqa, seu principal bastião na Síria.
Um porta-voz das FDS disse nesta quarta à agência de notícias AFP que a decisão americana de intensificar o apoio ao grupo "é importante e vai acelerar a derrota do terrorismo".
A principal preocupação do governo turco é que o avanço dos curdos no norte da Síria insufle a insurgência curda no sul de seu próprio país. A milícia YPG, que compõe às FDS, é aliada do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), considerado uma organização terrorista pela Turquia.
Nos últimos meses, o governo de Erdogan intensificou sua campanha para conter o avanço dos curdos na Síria e chegou a bombardear posições das FDS, matando combatentes apoiados pelos Estados Unidos.
Não está claro como o governo Trump irá evitar uma eventual retaliação da Turquia, mas militares americanos já haviam sugerido anteriormente que os Estados Unidos fornecessem apenas as armas suficientes aos combatentes curdos para a batalha em Raqqa, restringindo o envio em outras operações.
O distanciamento das estratégias dos Estados Unidos e da Turquia para o conflito na Síria deve contribuir para aproximar ainda mais o governo Erdogan e a Rússia, que apoia o regime do ditador sírio, Bashar al-Assad.
Embora a Turquia seja inimiga do regime de Assad e deseje sua deposição, o governo de Erdogan pode passar a aceitar sua permanência no poder em troca do apoio da Rússia para conter os curdos.
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