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SALVADOR NOGUEIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC) foi lançado com sucesso de Kourou, na Guiana Francesa, nesta quinta-feira (4).
A janela de lançamento se abriu às 17h31, mas um problema com a telemetria de solo interrompeu a contagem regressiva do foguete Ariane 5 a 7 minutos da decolagem. A dificuldade foi resolvida e o voo se iniciou às 18h50, realizando com sucesso a inserção numa órbita de transferência geoestacionária tanto o satélite brasileiro como o KoreaSat-7, carga secundária do voo.
O SGDC será apenas uma das muitas espaçonaves que hoje pairam sobre o território nacional e fornecem conexões via satélite para os mais variados fins, como telefonia, televisão e internet.
Mas será a primeira a ser operada e controlada pelo governo brasileiro -numa parceria entre o Ministério da Defesa e a Telebrás.
De acordo com o governo brasileiro, o novo satélite é indispensável para a preservação da soberania nacional, permitindo comunicações seguras das Forças Armadas e a implementação do Plano Nacional de Banda Larga, que pretende levar internet rápida, pelo espaço, a locais do país onde a infraestrutura de telecomunicações por solo é deficitária. O Brasil vai estar no controle, diz Petrônio Noronha de Souza, diretor de Política Espacial e Investimentos Estratégicos da AEB (Agência Espacial Brasileira).
Discutido desde 2011, o contrato para a construção do SGDC foi assinado em novembro de 2013, dois meses depois que documentos revelaram que contas de e-mail de diversos membros do governo brasileiro, inclusive da ex-presidente Dilma Rousseff, foram alvo de espionagem pela NSA, agência de segurança nacional dos EUA.
NO MESMO LUGAR
Os satélites geoestacionários são assim chamados porque se localizam num anel ao redor do equador terrestre, a cerca de 36 mil km de altitude. Nessa posição, têm a propriedade especial de evoluir em torno da Terra no mesmo ritmo da rotação do próprio planeta -com isso, é como se estivessem o tempo todo sobre o mesmo ponto do globo.
Por essa razão, a órbita geoestacionária é a preferencial para satélites de telecomunicações, pois podem atender ininterruptamente uma grande região territorial.
As tecnologias envolvidas num desses artefatos espaciais de última geração, contudo, não são dominadas pelo Brasil. Por isso, o governo decidiu criar uma empresa integradora nacional -a Visiona, uma joint venture entre a Telebras e a Embraer- e contratar, por meio dela, a construção do satélite no exterior.
A vencedora da licitação foi a empresa franco-italiana Thales Alenia, que se comprometeu a realizar transferência de tecnologias envolvidas na construção do SGDC e construiu o satélite com a colaboração de dezenas de engenheiros brasileiros.
O lançamento foi feito pelo foguete Ariane 5, da empresa francesa Arianespace, que opera seus voos a partir da Guiana Francesa. Com 5,7 toneladas, o SGDC será a carga principal, e um segundo satélite, o KoreaSat-7, da Coreia do Sul, voará como carga útil secundária.
E AGORA?
O satélite transmitirá em duas bandas: a X (entre 8 e 12 gigahertz) e a Ka (26 a 40 gigahertz). A primeira será usada exclusivamente para uso da Defesa e a segunda será parcialmente dedicada à implementação, pela Telebrás, do Plano Nacional de Banda Larga. A capacidade excedente será licitada para uso por outras empresas interessadas.
A iniciativa pode dar algum retorno imediato ao governo, que investiu R$ 2,7 bilhões no projeto, entre satélite, lançamento e investimentos na infraestrutura de solo para suas operações.
Contudo, ao chegar à sua conclusão, o projeto deixa um enorme vazio para o futuro. Originalmente, a ideia era que o SGDC fosse o primeiro de uma constelação de três satélites geoestacionários de telecomunicações, incorporando gradualmente tecnologia nacional.
Mas o segundo satélite da série está apenas em fase de conceito, e sem essas especificações e um contrato firmado, a Visiona -empresa criada para integrar esse e os futuros satélites- basicamente fica sem o que fazer.
A reportagem apurou que a situação tira o sono dos diretores da empresa, que não terão recursos para manter toda a mão de obra qualificada que se dedicou à construção do SGDC. Seria preciso, para evitar que o investimento na criação da integradora fosse perdido, ter um outro projeto de grande monta para ela. Temos essa preocupação e estamos trabalhando nisso, é tudo que posso dizer, afirma Noronha de Souza.
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