SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pelo menos duas pessoas morreram em manifestações da oposição ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, nesta quarta-feira (19), dia em que os rivais e os aliados do chavista fizeram as maiores mobilizações em 20 dias de ondas de protestos no país.
Enquanto os opositores eram reprimidos pelas forças de segurança, Maduro disse a seus aliados que os adversários eram os responsáveis pela violência e que estava "desmontando o golpe de Estado", como se refere à pressão contra seu governo.
Ambas as mortes ocorreram em antigos redutos governistas, onde moradores já haviam se manifestado contra Maduro na semana passada. Segundo testemunhas, os assassinos seriam membros de coletivos (milícias armadas chavistas).
No início da manhã, o estudante de economia Carlos Moreno, 17, foi baleado na cabeça ao passar por um protesto opositor enquanto seguia para uma academia.
Ao jornal "El Nacional", a deputada Olivia Lozano disse que 20 milicianos em motos haviam acabado de chegar para atacá-los. Além dos tiros, eles atiraram uma bomba de gás lacrimogêneo.
Moreno chegou a ser levado por manifestantes em uma moto a um hospital, mas não resistiu aos ferimentos. Horas mais tarde, a estudante Paula Gómez, 23, também seria baleada na cabeça em San Cristóbal, no oeste do país.
A manifestante filmava a chegada dos coletivos ao protesto opositor quando foi atingida. Com os dois, chega a oito o número de mortos em 20 dias de manifestações. Mais de 500 pessoas ficaram feridas, das quais 200 nesta quarta.
Quase todos os protestos da oposição foram alvo das forças de segurança, reunidas em uma operação anunciada por Maduro na noite de terça (18). Em Caracas a Guarda Nacional e a Polícia impediram pela sexta vez a chegada dos manifestantes da oposição ao centro da cidade.
Eles usaram bombas de gás lacrimogêneo, jatos d'água e balas de borracha contra os grupos, que partiram de 26 locais em todas as zonas da cidade. Um grupo de centenas de manifestantes respondia com pedras, balas de borracha e coquetéis molotov.
A repressão maior foi registrada na oeste na e sul. As duas áreas pertencem ao município de Libertador, o maior dos cinco que compõem a capital e o único governado por um chavista. Segundo deputados opositores, o governo ordenou que não houvesse manifestações na região.
O uso de gás, água e balas de borracha para dispersar os opositores se repetiu nas cidades de Barquisimeto, Maracaibo, San Cristóbal e Valencia e na turística ilha de Margarita. A ONG Foro Penal, que monitora as manifestações, disse que 270 pessoas foram detidas nesta quarta.
ATO CHAVISTA
Cercado pela Guarda Nacional e a Polícia, o centro de Caracas voltou a ser o local da manifestação de apoio a Nicolás Maduro. Milhares de chavistas caminharam pelas ruas até a Assembleia Nacional, dominada por seus rivais desde janeiro de 2016.
A seus seguidores, o presidente disse que quer enfrentar os adversários nas urnas em breve, mas que a decisão sobre a data é do Conselho Nacional Eleitoral, composto por aliados do governo.
"Quero ganhar essa batalha e quero que o povo se prepare para ganhá-la em paz e com votos, que nos preparemos para ter uma vitória eleitoral total para colocar em seus lugares os conspiradores, os assassinos e a direita intervencionista".
A convocação das eleições regionais é uma das principais exigências da oposição, da União Europeia e dos países das Américas, que a veem como uma das soluções para a resolução da crise.
A votação, que deveria ter sido em dezembro passado, foi adiada duas vezes --a última delas em fevereiro, quando o CNE convocou uma revalidação dos partidos.
Maduro também anunciou a prisão de 30 pessoas que, segundo ele, compunham "quadrilhas de terroristas" contratadas pelos rivais.
Por fim, disse que a Venezuela não cederá às pressões dos EUA, a quem acusa de liderar o golpe, e dos países que o criticam, a quem chamou de "marionetes". "Estamos escrevendo a história dos povos rebeldes na Venezuela e na América Latina".
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