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'Brexit' gera perspectivas de bons negócios para montadoras

FERNANDO VALEIKA DE BARROS GENEBRA, SUÍÇA (FOLHAPRESS) - Mal secou a tinta da caneta usada pela primeira-ministra britâ­nica, Theresa May, para assinar o pedido de saída do Reino Unido da União Europeia no último dia 28, e vários setores da economia do p

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 04.04.2017, 08:53:00 Editado em 05.04.2017, 08:51:21
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FERNANDO VALEIKA DE BARROS

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GENEBRA, SUÍÇA (FOLHAPRESS) - Mal secou a tinta da caneta usada pela primeira-ministra britâ­nica, Theresa May, para assinar o pedido de saída do Reino Unido da União Europeia no último dia 28, e vários setores da economia do país começaram a debater os efeitos da medida.

Mais precisamente, sobre o que acontecerá concretamente a partir de 28 de março de 2019, quando o divórcio entre os dois lados estiver consumado, pelos termos do Artigo 50 do Tratado de Lisboa, a lei que re­gula o assunto.

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Os efeitos do "brexit", como foi chamado o divórcio, serão acompanhados com especial atenção por um segmento da economia britânica: o que reúne fabricantes de automóveis e peças para os veículos.

Trata-se de um segmento que em 2016 produziu 1,72 milhão de veículos, 2,36 milhões de motores e movi­mentou US$ 88,9 bilhões, se­gundo a Sociedade dos Fabricantes e Vendedores de Veículos britânica, a SMMT.

"Até agora, a única coisa que sabíamos era que o Reino Unido dei­xaria a União Europeia. Só a partir de agora efeitos começarão a ser discutidos -e delineados com precisão", disse à reportagem o brasileiro Carlos Ghosn.

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O problema é que hoje nem Ghosn, Theresa May ou outra pessoa saberiam dizer com certeza que tipo de tratado substituirá as regras que funcionam desde 1970, quando os britânicos aderiram ao mercado comum com seus vizinhos.

Em um cenário otimista, nos próximos 24 meses os negociadores britânicos e europeus as­sinarão acordos bilaterais que definirão uma zona de livre comércio, com regras brandas de circulação de trabalhadores e mercadorias e a vida seguirá, sem solavancos.

Mas isso é incerto em uma mesa que terá de discutir assuntos complexos, a começar pela soberania de países. Neste caso, as negociações podem emperrar. E, pelo menos por algum tempo, podem valer as regras e alíquotas da Organização Internacional do Comércio, com um impacto considerável sobre um setor que é responsável por 12% das exportações do país e que exporta 57,5% do que produz para os futuros ex-parceiros de bloco econômico.

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Segundo um estudo da consultoria inglesa PA Consulting Group, o custo de montagem de um carro no território britânico pode aumentar em cerca de US$ 2.938 no caso de a alíquota de im­portação chegar a 10%.

Seria o equivalente a 10% do preço de um carro 0 km na Inglaterra. Em dois anos, o custo para exportar 400 mil carros (estimado em US$ 1,14 bilhão) pode cobrir com folga a construção de um novo sítio de produção, mais próximo de onde já mais potenciais consumidores.

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Mesmo se as taxas de importação e exporta­ção recuarem para 5%, para os carros, e 2,7% para os componentes, os analistas da PA Consulting estimam um acréscimo considerável nos custos: US$ 1.490 por veículo.

FRONTEIRAS TRAVADAS

Entre os efeitos do "brexit" também está sobre a mesa de discussões a questão da agilidade dos trâmites aduaneiros. De acordo com as regras da União Europeia, até que se ratifiquem os termos de desligamento britânico, peças e veículos podem cruzar as fronteiras dos países-membros, sem grandes problemas.

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Só que isso pode mudar, dependendo das negociações. E, se isso, acontecer, há mais problemas à vista. Segundo as contas da SMMT, em média apenas 41% das partes que integram um veículo britânico são produzidas no país.

Na linha de montagem de Ellesmere Port, onde a Vau­xhall produz o Astra, cerca de 75% das peças usadas na linha de montagem são importadas. Segundo o britânico Mike Hawes, nenhum outro setor da economia do Reino Unido se integrou tanto às regras da União Europeia como o automotivo.

A maioria das linhas de montagem do país opera no sistema de just-in-time, em que um mesmo componente pode atravessar o Ca­nal da Mancha várias vezes, durante os vários processos de fabricação.

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As peças são entregues em tempo determinado, econo­mizando espaço e manuseio de armazenagem. Um bom exemplo é o virabrequim do motor de um Mini.

O aço de que é feito sai de uma siderúrgica, no norte da França, transportado para Hams Kall, nas entranhas da In­glaterra, onde a peça é forjada, depois para a alemã Munique, onde se junta a outras partes do motor, e finalmente, para Oxford, local da linha de mon­tagem.

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Todo este sistema pode entrar em colapso com atrasos de entrega e embaraços alfande­gários. Não por acaso, a BMW, dona da marca Mini, alertou que já estuda construir a próxima versão elétrica do seu compacto na Alemanha em vez de fazê-lo na sua fábrica inglesa.

"A adoção de uma zona de livre comércio com a Europa seria um passo fundamental para as marcas estabelecidas no Reino Unido e seus tra­balhadores", disse Jim Farley, presidente da Ford Europa, durante o Salão do Automóvel de Genebra.

A marca americana exporta 57% dos motores que produz em duas usinas que possui no Reino Unido. O mantra é repetido por executivos da Nissan, em Sunderland, ou da Toyota, em Burnaston, que ex­portam 80% dos veículos que fabricam para fora do Reino Unido.

"Nós aguardamos ansiosamente as regras do 'brexit', para que possamos planejar os nossos próximos investimentos", diz Ghosn. Um deles é definir o local de produção da terceira geração do utilitário-esportivo Qashqai, da Nissan, prevista para 2020. Atualmente ele é produzido em Sunderland.

Como se toda esta confusão não bastasse, por conta das incertezas do "brexit" e das turbulências do início do mandato do presidente americano Donald Trump, a libra esterlina vive tempos de baixa.

No início deste ano chegou à sua menor cotação frente ao dólar em 31 anos e desvalorizou-se 17% diante do euro. De um lado isso causa custo financeiro, para que as empresas se protejam de flutuações cambiais, e desorganiza planos das empresas.

"Nós aguardamos ansiosamente que a definição das regras do 'brexit' traga estabilidade, para que possamos planejar os nossos próximos investimentos", diz o português Carlos Tavares, presidente mundial do grupo PSA, que reúne as marcas francesas Peugeot, Citroën e DS.

No início de março, a PSA de Tavares comprou a alemã Opel e o seu braço britânico, a Vau­xhall, pelo equivalente a 1,9 bilhão de libras. No pacote vieram duas usinas inglesas, em Ellesmere Port e Luton.

Com o "brexit" as marcas do grupo ganharam presença em um dos maiores mercados do pla­neta, com potencial para vender 2,63 milhões de carros por ano -isso sem contar novos mercados conquistados em novos acordos bilaterais, com os Estados Unidos e China, só para começar. "Para nós, o 'brexit' pode representar ris­cos, mas também oportunidades", afirma Tavares.

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