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Biografia rigorosa e didática mostra cotidiano de Beethoven

SÓ PODE SER REPRODUZIDA NA ÍNTEGRA E COM ASSINATURA SIDNEY MOLINA SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na página 761 de seu livro "Beethoven: Angústia e Triunfo", Jan Swafford sugere que as "Variações Diabelli", escritas em seu período final, podem funcionar com

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 02.04.2017, 07:05:00 Editado em 02.04.2017, 07:05:09
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SÓ PODE SER REPRODUZIDA NA ÍNTEGRA E COM ASSINATURA

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SIDNEY MOLINA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na página 761 de seu livro "Beethoven: Angústia e Triunfo", Jan Swafford sugere que as "Variações Diabelli", escritas em seu período final, podem funcionar como uma metáfora da vida do compositor.

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A partir de um tema com poucos atrativos enviado pelo editor Anton Diabelli (1781-1858) --um dos muitos com quem Ludwig van Beethoven teve relações, nem sempre amistosas--, o autor da "Nona Sinfonia" elaborou 33 arrojadas e especulativas variações.

Foi uma de suas últimas obras para piano, instrumento responsável pela ascensão desde Bonn, cidade natal situada às margens do rio Reno, até a "irreal" Viena, terra a quase 900 km de lá, onde viveram Haydn e Mozart, seus antecessores imediatos.

Nessa nova biografia do mestre alemão (lançada no Brasil pela Amarilys), Swafford --que também é compositor-- conta quem ele foi e como viveu em exatos 33 capítulos que percorrem 929 páginas.

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Tratando-se de Beethoven nada é casual, pois, como mostra o próprio Swafford, "o plano para uma peça era criado no início do processo, e o material inventado tinha de se submeter a ele".

Mas Beethoven, também um exímio improvisador, nunca contava os segredos de sua arte e, tal como ele, Swafford tampouco expõe o esquema do livro. Descobrir estruturas em improvisações, ou esquemas subjacentes ao fluxo ininterrupto de angústias e triunfos: eis uma chave que encaixa com perfeição no "caso Beethoven".

Diante de uma tradição biográfica secular --basta citar o ótimo "Beethoven: a Música e a Vida", de Lewis Lockwood (Códex, 2004)--, Swafford tem a extensão do trabalho a seu favor: dá tempo de o leitor se familiarizar com lugares e pessoas; ficamos amigos dos seus amigos, sentimos o ambiente doméstico, o sabor da comida, a dor das doenças.

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Com o passar das páginas, apreendemos os esquemas de vida e obra: já sabemos que ele vai brigar e se arrepender, se apaixonar e receber mais um "não" de uma dama, ganhar e gastar dinheiro (inclusive com vinho barato) e encher cadernos de rascunhos até terminar uma nova obra.

MÚSICA E AMBIENTE

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A crítica ao livro de Swafford (lançado em inglês em 2014) tem destacado a seção inicial, o longo e informativo trecho sobre a sua infância e adolescência. Sem dúvida é importante, até porque havia em Bonn uma corte laica e progressista, que permitiu a Beethoven absorver os ideais de liberdade e fraternidade da Aufklärung, a versão germânica do Iluminismo.

Mas há mais: relatos históricos narrados de forma saborosa, como as impagáveis páginas sobre a libertinagem dos poderosos no Congresso de Viena (1814-15).

E também as análises musicais. Swafford comenta dezenas de obras em uma linguagem que, embora interesse ao especialista, é acessível ao leitor que não tem conhecimentos técnicos. São convites à escuta, roteiros --alguns geniais--, como o da "Missa Solemnis", a orientar a apreciação.

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Justamente aí há um problema na edição nacional. Embora Swafford escreva para um público diversificado, ele é rigoroso com a terminologia musical. Seus comentários têm mesmo um caráter educativo, que ficou prejudicado pela ausência de uma revisão musicológica do texto em português.

Há termos que só quem é da área sabe usar. Frequentemente são palavras usuais da língua, mas que recebem um sentido técnico. Exemplos: "tonalidades" viram "notas", "tercina" vira "terceto", "modos" viram "modais", "ascendente" vira "crescente" etc.

Diante do tamanho do livro não são tantos casos assim, mas incomodam e fazem a edição brasileira perder uma estrela sem deixar de ser, ainda, muito boa.

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VIDA DE MÚSICO

Contando a história da vida cotidiana de Beethoven, Swafford desfaz o mito, ao mesmo tempo que mostra como ele foi construído. E é interessante constatar que suas atividades e dificuldades não diferem muito das dos músicos de hoje.

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Para conseguir pagar as contas, Beethoven dava aulas particulares, tocava em todo tipo de eventos, corria atrás do apoio dos poderosos e negociava com editores. Tinha de lidar com a pirataria de partituras e com a crítica.

Muitas vezes ele mesmo produzia os seus concertos e, ao final, "postava" nos jornais agradecimentos que, a seu modo, os envolvidos curtiam e compartilhavam.

BEETHOVEN: ANGÚSTIA E TRIUNFO

AUTOR Jan Swafford

TRADUÇÃO Laura Folgueira

EDITORA Amarilys

QUANTO R$ 189 (929 págs.)

AVALIAÇÃO muito bom

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