GABRIEL ALVES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após oito meses de estudo, o governo do Estado do São Paulo resolveu, por falta de "benefício clínico significativo", suspender a inclusão de pacientes na pesquisa que avaliava o efeito da fosfoetanolamina, a "pílula do câncer" em pacientes oncológicos. A decisão foi anunciada nesta sexta-feira (31).
De 59 pacientes avaliados até então, apenas um, que tinha melanoma, teve melhora do quadro clínico. Esse paciente e cerca de outros 20 ainda continuarão recebendo o tratamento, conforme propunha o protocolo de pesquisa.
Todos os pacientes estavam em estágio avançado de câncer e outros tratamentos já tinham falhado.
O objetivo esperado era uma redução das lesões tumorais em ao menos 20% dos pacientes de cada grupo. Segundo o oncologista Paulo Hoff, líder da pesquisa realizada no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, o resultado está muito aquém do desejável e não há justificativa ética para continuar a pesquisa.
O planejamento era que fossem gastos R$ 1,5 milhão de reais na pesquisa, mas, segundo o secretário de saúde não deve chegar a tanto, já que os pacientes deixarão de ser incluídos.
HISTÓRICO
As cápsulas, por anos, foram produzidas e distribuídas pelo grupo de pesquisa da USP de São Carlos chefiado pelo químico Gilberto Chierice, apesar da ausência de estudos que comprovassem eficácia.
Por outro lado, sempre houve relatos anedóticos de casos de melhora e até de cura pela substância.
Regina Monteiro, participante do "grupo de acompanhamento" do estudo, ligado ao professor Chierice, disse respeitar os pesquisadores e os resultados, mas considera a empreitada "insuficiente" para dar todas as respostas sobre a fosfoetanolamina, que recentemente começou a ser vendida como suplemento alimentar com a promessa (carente de comprovação) de que a substância poderia ajudar no tratamento de pessoas com câncer.
David Uip defendeu a pesquisa dizendo que é científica e que segue padrões rígidos, como em qualquer outro tratamento contra o câncer. E que a escolha por financiá-la se deu para "dar uma resposta ao clamor da sociedade".
Em uma etapa de estudo anterior, havia sido mostrado que a fosfoetanolamina era segura e não tinha efeitos colaterais. Foi isso que permitiu a sequência dos estudos.
CONCLUSÕES
Entre as conclusões compartilhadas por Paulo Hoff está a de que o grupo de pacientes com câncer colorretal, que atingiu o número previsto de 21 pacientes não se beneficiou de nenhuma forma da "fosfo".
Os demais grupos, de vários tipos de câncer, como mama e útero, não obtiveram nem o resultado mínimo necessário melhora de pelo menos um paciente para justificar a continuidade, ou ampliação do tamanho da amostra.
O caso do paciente com melanoma que melhorou é visto com cautela pelo pesquisador: pode se tratar de efeito placebo ou de uma cura espontânea, como em muitos outros casos. "Não é possível afirmar que a resposta aconteceu por causa da droga."
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