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Divergência com Sturm motivou exoneração, diz ex-diretora da Emia

ISABELLA MENON SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na terça-feira (28), a então diretora da Emia (Escola Municipal de Incentivo as Artes), Luciana Schwinden, pediu para ser afastada do cargo e publicou uma carta no Facebook -endereçada ao secretário da Cultura,

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 31.03.2017, 18:00:00 Editado em 31.03.2017, 18:00:10
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ISABELLA MENON

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na terça-feira (28), a então diretora da Emia (Escola Municipal de Incentivo as Artes), Luciana Schwinden, pediu para ser afastada do cargo e publicou uma carta no Facebook -endereçada ao secretário da Cultura, André Sturm-, na qual explica os motivos de sua exoneração.

Em entrevista à reportagem, Schwinden afirmou que desacordos com Sturm, pressão da equipe docente e problemas com pais de alunos da escola motivaram sua exoneração.

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Na entrevista, Schwinden afirmou que professores são contratados por 40 horas e trabalham apenas 18. A a secretaria de Cultura afirma que "trata-se de uma situação anterior e que nós pedimos para que ela resolvesse imediatamente tão logo tomamos conhecimento do fato".

A secretaria afirma que foi surpreendida com o pedido de exoneração e ainda não tem substituto para Schwinden.

Leia abaixo a entrevista.

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Pergunta - Quais os pontos principais que levaram à sua exoneração?

Luciana Schwinden - Foram muitos pontos de pressão, por parte da equipe do corpo docente, por alguns pais e mães da Emia, e principalmente por divergências com o Secretário, na última reunião de gabinete.

Pergunta - Quais posturas do secretário André Sturm você não concordou?

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Luciana Schwinden - O Secretário sempre foi muito gentil comigo, mas aos poucos fui percebendo sua postura com os outros membros da equipe e comecei a ficar atenta com suas respostas aos artistas da cidade.

Discordamos fortemente sobre o que significava o conceito de representatividade, em relação a defesa e decisão de mudança do Conselho da Emia de consultivo para deliberativo. Eu defendi o segundo modelo e ele o primeiro, foi uma reunião intensa, de mais de uma hora.

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Essa nossa conversa, convocada em caráter de urgência, foi onde percebi que não seria possível continuar. Eu disse que precisava saber qual era o procedimento, se eu pedia a exoneração ou ele pedia. E ele disse que não me mandaria embora por pensarmos diferente.

Eu não acreditei e percebi que minha permanência era temporária e estratégica diante do clima tenso vivido nesses dias. Pedi para pensar e que iria resolver essa questão com a equipe de coordenação da Emia. Levei para as equipes e para a comunidade dos pais, mas fui extremamente mal interpretada.

Pergunta - No texto, você afirma que a Emia sofre problemas de administração, estrutural e de funcionamento. Quais são exatamente esses problemas? Por que, na sua opinião, isso acontece?

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Luciana Schwinden - A Emia ficou muito distante da secretaria, por muitos anos, eu conheço bem a cidade e os equipamentos, e entendo que quanto mais distante da Sede da SMC mais a modo próprio é levada a gestão, muitas vezes sem respeitar os procedimentos da secretaria como um todo, por ingenuidade, por acomodação e também por falta de acompanhamento por parte da equipe do gabinete. Ficam equipamentos isolados.

Estou considerando também as responsabilidades das outras secretarias que acompanhei em outras gestões. Exemplo de problema estrutural: uma unidade, a Casa 1 da Emia, que está com o telhado comprometido e precisa de reforma [procurada, a SMC informa que a reforma está prevista entre suas obras prioritárias], isso precisa ser feito com urgência. Era uma de minhas prioridades para este semestre.

Na época em que fui diretora da Divisão de Formação em 2011, a Escola já vivia esses problemas e não conseguimos promover mudanças e modos de colaboração efetivos pois a Escola sempre foi muito fechada. Foi nesse momento que a lei da Emia foi aprovada e formamos o Conselho da Escola. Mas não avançamos muito.

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Outro ponto: como alguém pode concordar com contratos de comissionados que são pagos com dinheiro público para um serviço de 40 horas semanais e só realizarem 18 horas? Eu nunca concordaria com isso, um exemplo de muitos problemas funcionais identificados.

No campo administrativo a Escola ainda funcionava sem uma sistematização e controle de matrículas, com poucos dados de indicadores para estudo de continuidade e ação nos projetos.

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Alguns relatórios e matrículas feitas ainda no papel, como nos anos 80. Eu percebi nesse curto período que estive lá que os funcionários se esforçam para manter a Escola, mas os instrumentais utilizados são obsoletos.

Pergunta - Ainda no texto, você diz que sofreu injustiças dentro do período que foi diretora da instituição. Quais foram essas injustiças?

Luciana Schwinden - Fui acusada de ser a "interventora do governo Doria" por ter aceitado um cargo que era feito tradicionalmente de modo democrático em eleição. Isso não é verdade e em nenhum momento essa eleição democrática foi oficializada, tornada pública.

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Na gestão anterior, o resultado da escolha da direção foi feito como uma indicação para o secretário na época, e por sorte ele aceitou a indicação, mas se ele tivesse outro indicado e quisesse colocar lá, estava no seu direito. O cargo é do secretário, se é certo ou não, é um fato. Isso não está em nenhum campo da Lei da Emia e em nenhum regimento interno.

Outro absurdo é que eu fecharia a Escola, que seriam demitidos 30% dos professores, que eu implantaria OS ou OSCIP.

Além disso, sofri e ouvi insultos na rede social em relação a minha conduta e caráter o que foi bastante frustrante, principalmente por parte de alguns pais e mães da Escola. Se eu me formei dentro de projetos que respeitavam a continuidade, qual o sentido dessas acusações? Me pergunto até agora.

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Pergunta - Como foi a reação do secretário André Sturm com o pedido de exoneração?

Luciana Schwinden - Ele não respondeu, quem aceitou meu pedido dizendo que lamentava foi a Secretária Adjunta, Josephine Bourgois, mulher que tenho respeito e que se tornou possível o diálogo nesses últimos dias.

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Pergunta - Você escreveu que também não teve apoio necessário do corpo docente e da equipe de pais e mães da Escola para permanecer. Por que você acha que isso aconteceu?

Luciana Schwinden - Considero que tenho responsabilidade nisso, cheguei de forma dura na Escola, já estava sendo muito atacada antes mesmo da minha chegada e precisava ser firme na condução de novos procedimentos, principalmente no entendimento por parte dos professores em relação ao cumprimento efetivo das horas pelas quais foram contratados.

Pedi desculpas sobre minha forma de agir, mas não mudaria em nada o conteúdo de minha condução em relação aos acordos internos que eram executados na Escola. Os pais e mães a maioria não me conheciam e me deram o papel de vilã em uma novela com muitas narrativas bem criativas.

Pergunta - No texto você diz "erramos muito nesse começo e por isso me retiro". Quais são esses erros? Na sua opinião, o secretário André Sturm também é responsável por esses erros?

Luciana Schwinden - Quando usei o verbo no plural em minha postagem, me referia ao sentido de equipe, pois me responsabilizo junto com o secretário pelas decisões tomadas. Apesar de não fazer parte diretamente do novo edital de fomento a dança, do cancelamento do chamamento da equipe do Vocacional e do Pia, eu tomei para mim também essa responsabilidade. [Em publicação na segunda-feira (27) em seu perfil no Facebook, André Sturm afirmou que ambos os projetos citados não serão cancelados e em abril começarão as aulas, com a contratação de 130 artistas educadores.]

Eu tentei falar sobre os equívocos a partir da minha experiência de 13 anos na secretaria, e não concordo com as decisões tomadas, acho que para garantir a continuidade não se pode aceitar a primeira recusa de um único departamento jurídico. É preciso ouvir outros pareceres para mediar a situação e resolver da melhor forma em diálogo com as classes artísticas. Também em relação a Emia, quando assumi a direção e minha atitude de não ter consultado a equipe antes de entrar.

Eu estava afastada dos programas de formação desde 2012, considero um erro meu não ter sabido antes em que pé estava a Escola. Pedi desculpas para a equipe docente e de coordenação por isso.

Pergunta - No fim da sua carta, a senhora pede para o secretário falar com as pessoas antes de tomar decisões finais sem consulta pública. Quais decisões foram feitas sem consulta?

Luciana Schwinden - Sobre as quais falei acima, tudo tem acontecido muito rápido e não existe tempo de contornar uma decisão tomada, na sequência uma da outra, o que desmobiliza uma ação dividindo as classes e perdendo o foco da luta pela continuidade de projetos que atravessaram muitas gestões, de muitos partidos.

Sigo agora lutando por esses projetos, eu não podia mais ficar tranquila vendo o que acontece na cidade neste momento, mesmo estando na Emia onde não houve desmonte, nem mesmo corte de recursos. Houve sim um erro no início das aulas, um atraso em 15 dias efetivamente, por questões orçamentárias relacionadas às verbas congeladas.

Preservei ao máximo a equipe e o projeto artístico pedagógico seria respeitado e continuado, o que considero um dever público de qualquer pessoa que defende as políticas públicas de cultura.

Por fim, eu me emocionei vendo os vídeos e depoimentos da última manifestação, entendi qual era o lado que eu deveria ficar, que eu quero estar. O dos artistas.

Segui o que acredito, pensamento construído com muitos pares ao longo desses anos, do começo ao fim.

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