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Mortes em decorrência de operações policiais no Rio crescem 78% neste ano

LUIZA FRANCO RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O vídeo que mostra dois policiais atirando em homens já caídos no chão, gravado durante um confronto na Fazenda Botafogo, em Acari, zona norte do Rio, é flagrante de uma situação que vem se tornando mais freq

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 31.03.2017, 17:34:00 Editado em 31.03.2017, 17:35:10
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LUIZA FRANCO

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RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O vídeo que mostra dois policiais atirando em homens já caídos no chão, gravado durante um confronto na Fazenda Botafogo, em Acari, zona norte do Rio, é flagrante de uma situação que vem se tornando mais frequente: mortes em decorrência de operações policiais.

O número aumentou 78,4% em um ano. Em janeiro e fevereiro de 2016, morreram 102 pessoas nessa situação. Neste ano, foram 182 no mesmo período. Para especialistas, os dados refletem a deterioração da política de segurança como um todo.

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O número de homicídios dolosos cresceu 20,74%. Foram 978 em janeiro e fevereiro de 2017 e 810 em 2016. O mesmo aconteceu com o número de policiais mortos. Em 2016, foram cinco mortes até março. Neste ano, foram 49.

Segundo a polícia, no caso de Acari, o 41º BPM (Irajá), foi acionado para intervir em ações de criminosos na rua Prefeito Sá Lessa, Fazenda Botafogo, próximo ao Rio Acari. Houve confronto.

Maria Eduarda Alves da Conceição, 13, foi atingida por uma bala perdida enquanto participava da aula de educação física na Escola Municipal Jornalista e Escritor Daniel Piza.

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Durante a troca de tiros, os dois homens do vídeo ficaram feridos. No cena gravada, dois policiais se aproximam dos homens já caídos no chão. Um deles atira em um dos suspeitos, que ainda estava vivo, após tirar de perto dele uma arma. Logo depois, o outro policial alveja o outro homem, que também aparentava estar vivo.

HOMENS BALEADOS NO RIO

Os dois policiais, que não terão seus nomes divulgados, foram presos por homicídio qualificado após prestarem depoimento na Delegacia de Homicídios da Capital. Eles foram levados para o Batalhão Especial Prisional, para policiais, em Niterói. Vão responder na justiça comum e a corregedoria da PM vai instaurar um processo interno.

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As mortes em Acari eram tragédias anunciadas -a área coberta pelo 41º BPM é notoriamente violenta. Um quinto das mortes por autos de resistência em janeiro e fevereiro ocorreu lá. A região também tem altos índices de crimes contra a vida e o patrimônio.

A escola onde estudava a adolescente que morreu já havia sido fechada três vezes neste mês de março por causa de violência no entorno. Os dados, porém, mostram que a deterioração da segurança é generalizada. Especialistas dizem que os números, que vinham melhorando com a implementação da política de pacificação, voltaram a piorar a partir de 2013, e desde então, a situação só vem se agravando.

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"A política de pacificação que se iniciou em 2008 foi um trabalho de pacificação da própria polícia. Em 2007 tivemos um ápice de letalidade policial, com 1.330 casos de auto de resistência. Esse número caiu muito, e agora volta a subir", diz Silvia Ramos, cientista social e coordenadora do Centro de Estudos de Segurança Pública da Universidade Cândido Mendes.

Políticas que deram certo caminharam ao lado de erros, e a política foi se expandindo sem uma avaliação e uma correção dos problemas. "Por exemplo, a ideia era que mudasse a relação do policial com a população, e isso não aconteceu", diz Ignácio Cano, professor da Uerj (estadual do Rio) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ONG que reúne especialistas do setor.

A crise econômica do Rio vem afetando a política de pacificação e favorecendo o recrudescimento do tráfico. Diferentemente de outras categorias, PMs não estão com salários atrasados, mas não receberam o 13º de 2016 nem bonificações e pagamento por hora extra.

"O secretário de segurança atual [Roberto Sá, que substituiu José Mariano Beltrame] está isolado. Não tem um governo que o apoie, não tem salários, não tem gratificação. Sinto que a cultura hoje é de não criar conflito com a tropa, de passar a mão na cabeça", opina Ramos.

Para o ouvidor-geral da Defensoria Pública do Rio, Pedro Strozenberg, "quando essa situação se junta à morte de policiais, que cresce vertiginosamente, você tem a guerra conflagrada."

Em nota, a Polícia Militar diz que vem mês a mês perdendo recursos humanos e materiais. "Nossa mobilidade tem sido comprometida, dificultando o serviço preventivo, e a consequência direta é um maior enfrentamento."

Segundo a corporação, somam-se a isso mais de 30 mil mandados de prisão não cumpridos, audiências de custódia que têm colocado em liberdade pessoas que são reiteradamente presas pela Polícia Militar e o grande volume de armamento. Segundo a PM, já foram apreendidos mais de 100 fuzis. "São mais fuzis que dias no ano. Esses dados refletem um cenário que não depende apenas de nós para ser revertido."

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