SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O escritor gaúcho João Gilberto Noll morreu em Porto Alegre aos 70 anos. Cinco vezes vencedor do prêmio Jabuti, Noll é autor de livros como "O Cego e a Dançarina", "A Fúria do Corpo" e "Harmada".
O enterro do escritor, um dos principais prosadores contemporâneos do Brasil, está previsto para as 18h desta quarta-feira (29), no Cemitério João 23, na capital gaúcha.
Formado em letras e dono de um estilo provocante e inovador, seu primeiro conto foi publicado por Carlos Jorge Appel na antologia "Roda de Fogo" (1970).
Seu primeiro livro, "O Cedo e a Dançarina" (1980), lhe rendeu o Jabuti de autor revelação. Noll era dono de uma escrita marcada pelo existencialismo e pela psicanálise. Seus livros, dizia, eram uma exploração do inconsciente. A análise, também contava, foi importante para que ele se libertasse da repressão gerada por uma educação religiosa.
Em 1996, em entrevista à Folha de S.Paulo, Noll disse que não costumava traçar "planos de voo" antes de escrever.
"[O livro] sai de um modo litúrgico, procuro abraçar certos momentos de palpitação. Não interessa muito o fluxo insensato de um dia após o outro. Me interessa o momento coagulado. O romance também se esvai, é claro, a duração do tempo também exaure, daí talvez o final do livro, meio enigmático para mim mesmo. Mas, também não procuro decifrar tudo o que escrevo, não. Preciso de uma certa escuridão", disse.
Nascido em Porto Alegre, ele viveu no Rio de Janeiro por 22 anos. Em 1975, começou a lecionar no curso de comunicação da PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), época em que já escrevia para a "Folha da Manhã" e para o "Última Hora".
Além de "O Cego e a Dançarina", coletânea de 24 contos, recebeu ainda o Jabuti por "Harmada" (Francis, 2003) e "A Céu Aberto" (Record, 2008), "Mínimos Múltiplos Comuns" (Francis, 2003), que reúne contos sobre a criação do universo.
Ele também recebeu o prêmio da Fundação Guggenheim, em 2002, e da Academia Brasileira de Letras, em 2004. Em 1998, estreou uma coluna na Folha de S.Paulo intitulada Relâmpago, em que publicava pequenas narrativas.
Sua obra também foi celebrada no cinema. Em 1984, o cineasta Murilo Salles dirigiu "Nunca Fomos Tão Felizes", inspirado no conto "Alguma Coisa Urgentemente". Em 2003, foi a vez de "Harmada" ser levado à telona, por Maurice Capovilla. Em seguida, em 2009, Suzana Amaral adaptou "Hotel Atlântico".
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