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LEONARDO CRUZ
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "Clarisse" começa com um belo e longo plano da explosão de uma pedreira, no qual um barulho ensurdecedor e um pó azulado tomam a projeção.
Essa pedreira é a metáfora do estado de espírito da personagem-título, Clarisse, mulher de meia idade perturbada por um trauma de infância, obrigada a rever o passado ao visitar o pai doente.
A cena de abertura também traz elementos que permeiam todo o longa: um cuidado extremo com a fotografia e com o som, que ajudam a compor lentamente esse suspense psicológico de Petrus Cariry. É o terceiro longa do cineasta cearense, o desfecho do que ele chama de "trilogia da morte", composta também por "O Grão" (2007) e "Mãe e Filha" (2011).
A maior parte da trama se desenrola nesse retorno à casa paterna, onde a protagonista cresceu. Na casa antiga, toda de madeira e cercada por floresta, ela encontra um velho às portas da morte, que passa seus últimos dias empalhando insetos, aves e pequenos animais.
Os bichos mortos do pai, os ambientes escuros da casa, as fotos de família em antigos cadernos, os barulhos do mato, o ranger de portas e pisos. Tudo isso serve de chave para que Clarisse recupere memórias perdidas e expurgue o mal que a consome.
Sabrina Greve está muito bem no papel principal, liberando a angústia contida de Clarisse por meio de olhares mortos e longos silêncios, até a fúria catártica da cena final.
Sua interpretação só não é melhor pelo tom solene, antinatural, que domina quase todos os diálogos, de uma artificialidade que afasta o espectador.
Esse mesmo formalismo está presente também na narração em off, que, ao longo do filme, revela à plateia o fantasma que assombra Clarisse.
Soa como uma muleta, para ajudar a audiência a compreender o que as imagens, por si só, não são capazes de explicar.
CLARISSE OU ALGUMA COISA SOBRE NÓS DOIS
QUANDO em cartaz no Caixa Belas Artes - Sala 6: Mário de Andrade
ELENCO Sabrina Greve, Everaldo Pontes, Verônica Cavalcanti
PRODUÇÃO Brasil, 2016, 16 anos
DIREÇÃO Petrus Cariry
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