SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governo da Venezuela tirou do ar o canal CNN en Español nesta quarta-feira (15) em resposta à exibição de uma reportagem especial sobre um esquema de concessão ilegal de passaportes a cidadãos do Oriente Médio.
A ordem é anunciada três dias depois que o presidente Nicolás Maduro prometeu expulsar a emissora por "manipular um assunto interno". "A CNN que não meta seu nariz na Venezuela, que fique bem longe, fora da Venezuela."
O canal saiu do ar em todo o território venezuelano por volta das 17h locais (19h em Brasília), minutos depois que a Comissão Nacional de Comunicações (Conatel) ordenou o corte da transmissão, a pedido do governo chavista.
Em nota, a autarquia disse que abriu um procedimento administrativo, sob a acusação de apresentar "conteúdos que supostamente constituem agressões diretas que atentam contra a paz e a estabilidade democrática" do país.
"Isso gera um clima de intolerância, já que, sem argumento probatório e de maneira perversa, difamam e distorcem a verdade, dirigindo as mesmas a prováveis incitações de agressões externas contra a soberania da Venezuela."
A retirada do canal, segundo a comissão, foi uma medida cautelar que vigorará durante o processo. Depois das 17h, o sinal da CNN en Español foi retirado de forma paulatina em todas as operadoras de TV por assinatura.
Maduro chamou o canal de instrumento de guerra e aliada do Departamento de Estado americano. "Os dois estão impondo uma intervenção geral e maciça e uma agressão contra a Venezuela", disse, em discurso em Caracas.
REPORTAGEM
Exibida no dia 6, a investigação "Passaportes na Sombra" mostra que diplomatas venezuelanos cobravam milhares de dólares para conceder ilegalmente a cidadãos do Oriente Médio o documento de viagem do país sul-americano.
A denúncia partiu do ex-conselheiro da embaixada no Iraque Misael López, que serviu em Bagdá até julho de 2013. Ele chegou a entregar um relatório ao então embaixador Jonathan Velasco e à chanceler Delcy Rodríguez.
Nenhum dos dois funcionários, afirma López, deram resposta sobre a investigação. O diplomata ainda acusa uma das tradutoras da embaixada de tê-lo convidado para participar do esquema. Ele negou e demitiu a funcionária.
Depois do silêncio dos seus chefes em Caracas, ele apresentou a investigação ao FBI na embaixada dos EUA em Madri. Dentre os documentos, estava uma lista de 21 pessoas com nomes árabes que receberam passaportes válidos.
Após o contato com os americanos, foi demitido. No mesmo ano, os serviços de inteligência venezuelanos disseram em relatório que 173 pessoas do Oriente Médio receberam documentos de viagem do país entre 2008 e 2012.
A lista inclui suspeitos de participarem do grupo radical islâmico libanês Hizbullah e um traficante iraquiano.
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