GUSTAVO FIORATTI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A primeira vez que o jornalista, escritor e músico Cadão Volpato viu a Legião Urbana tocar foi no Centro Cultural São Paulo, em 1983, quando a turma de Renato Russo era "só uma banda de Brasília", e o rock ainda levava a pecha de "coisa de cabeludo".
Ele usa a passagem da Legião por São Paulo como exemplo de meta para sua direção no CCSP, cadeira pública que assumiu nesta semana, com a troca de governo na prefeitura: se Volpato pretende permanecer com um olho em artistas pouco conhecidos, o outro ronda cortes de cabelo da próxima estação.
Integrante da banda Fellini, que foi extinta mas eventualmente ainda se reagrupa por aí -uma de suas últimas apresentações foi no CCSP, em 2016- Volpato diz que vê o afeto do morador de São Paulo por aquele espaço como ferramenta para expandir público e tornar sua programação mais influente. "As pessoas usam esse lugar como se fosse a casa delas", diz, citando os encontros de crossplay, de street dancers e outros movimentos alheios à programação oficial.
O músico e escritor diz que tem algumas apostas em mente. A primeira é criar eventos que possam integrar as diversas áreas de atuação do CCSP, bem como as tais manifestações culturais espontâneas. "Sinto que as curadorias são muito compartimentalizadas aqui", critica. Depois, cita a semana de 1922 como modelo para criar burburinho e reitera a expectativa nos festivais e nos encontros como possibilidade para agregar artistas de dança, teatro, cinema e artes visuais.
Para ele, a literatura é um campo que anda desvalorizado na casa, o que vê como contradição para um espaço cuja biblioteca atrai 15 mil pessoas por mês. "Quero estimular a presença de escritores", diz, sinalizando que pretende valorizar, por meio de uma programação de mesas e debates, o circuito no qual também atua.
Com passagem por diversas redações da cidade, entre as quais as da revista Época, da Trip Editora e da Folha de S.Paulo, Volpato também comandou o programa "Metrópolis", na TV Cultura, entre 1991 e 1994 e de 2010 a 2012.
Ele é ainda autor de livros como o de contos "Relógio sem Sol" (Iluminuras, 2009) e o romance "Pessoas que Passam pelos Sonhos" (2013, Cosac Naify).
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