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Saliva do mosquito Aedes aegypti tem poder anti-inflamatório

CLÁUDIA COLLUCCI E GABRIEL ALVES SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Aedes aegypti, quem diria, tem um lado bom. Pesquisadores da USP encontraram na saliva do mosquito transmissor dos vírus da dengue, da zika e da chikungunya substâncias anti-inflamatórias ca

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 02.03.2016, 19:21:02 Editado em 27.04.2020, 19:52:32
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CLÁUDIA COLLUCCI E GABRIEL ALVES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Aedes aegypti, quem diria, tem um lado bom. Pesquisadores da USP encontraram na saliva do mosquito transmissor dos vírus da dengue, da zika e da chikungunya substâncias anti-inflamatórias capazes de controlar a imunidade e tratar doenças intestinais, como a colite ulcerativa em roedores.
O estudo experimental, realizado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP em Ribeirão Preto, resultou em tese de doutorado e artigo publicado na revista científica "International Immunopharmacology".
Agora, os pesquisadores tentam identificar quais são as moléculas da saliva que têm essa ação terapêutica. Segundo a imunologista Cristina Cardoso, que orientou o trabalho, na saliva do aedes existe um "coquetel" de substâncias que ainda estão sendo identificadas. A ideia é extrair essas moléculas específicas, sintetizá-las em laboratório para então estudá-las em ensaios clínicos (humanos).
Como obter baba de mosquito? O especialista é Anderson de Sá Nunes, professor do Instituto de Ciências Biomédicas, da USP. O tratamento no modelo animal escolhido, em camundongos, dura cerca de quatro dias. Para cada dose, são usados 5 microgramas (0,000005 grama) de proteína, o que requer as glândulas salivares de dois mosquitos-fêmeas.
É possível que apenas um centésimo deste total de proteína se deva ao(s) princípio(s) ativo(s), explica Nunes, que provavelmente tem natureza proteica. Em um exercício de matemática e futurologia, é factível imaginar que a dose de um remédio para humano adulto – supondo que a droga seja segura, eficaz e chegue a esse nível de desenvolvimento – fique na casa dos miligramas.
Isso seria compatível com a produção industrial, diz o cientista, que está tentando obter financiamento para criar uma empresa que faria os chamados estudos pré-clínicos - realizados em animais antes que os remédios cheguem aos testes em humanos. Após a identificação e sequenciamento da molécula a produção pode ser feita tanto usando "biofábricas" à base de fungos ou bactérias ou por meio de sintetizadores artificiais, a depender da complexidade da molécula.
Segundo Nunes, a nova droga à base de saliva de mosquito também obteve sucesso no tratamento de doenças como a hepatite autoimune e a esclerose múltipla. Assim como a colite ulcerativa, elas têm um importante componente inflamatório.
COLITE
O trabalho com saliva de aedes na USP de Ribeirão começou há quatro anos. Cristina conta que, primeiro, os roedores foram induzidos a desenvolver colite por meio da ingestão de uma droga diluída em água.
Com a inflamação instalada e os sinais manifestados (como diarreia, perda de peso e sangramento intestinal), começou o tratamento. Por três a quatro dias, os animais receberam a injeção de extrato de glândula salivar (nós e o mosquitos dispomos de um par delas).
Cristina diz que os camundongos apresentaram melhora clínica geral, com diminuição dos sinais negativos e da inflamação. Também houve diminuição da produção de substâncias do sistema imune associadas à piora clínica, como as citocinas inflamatórias.
Essas citocinas são proteínas produzidas por diferentes tipos de células durante a inflamação e estão diretamente associadas ao desenvolvimento da colite ulcerativa e da doença de Crohn. Segundo a imunologista, no estudo experimental, não foram observados efeitos tóxicos do tratamento.
TEM VÍRUS
É também na glândula salivar da fêmea do aedes que os vírus da dengue, da zika e do chikungunya se alojam. Só a fêmea é que transmite as viroses, pois é ela quem pica. Ela precisa de sangue para amadurecer seus ovos e se reproduzir. Na busca pelo sangue, a fêmea precisa vencer barreiras que começam por transpassar a pele e vão até o controle da hemostasia (mecanismos que regulam a fluidez do sangue) e da imunidade dos hospedeiros (humanos, no caso).
"Em consequência dos milhões de anos de coevolução com esses hospedeiros, os mosquitos desenvolveram um coquetel salivar com um arsenal de moléculas que possui efeitos farmacológicos de extrema importância para se sobrepor às dificuldades encontradas ao picar os humanos para se alimentar", explica Cristina.
A produção de moléculas bioativas pelas glândulas salivares é uma característica comum a insetos hematófagos (que se alimentam de sangue). No caso do barbeiro (que carrega o parasita causador da doença de Chagas), a saliva possui moléculas anestésicas e até capazes de formar poros em células, como verificaram pesquisadores da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Produzir esse molécula de natureza proteica poderia ser uma defesa natural do bicho contra o parasita Trypanosoma cruzi, que, diferentemente dos mosquitos, não transmite o patógeno pela saliva e sim pelas fezes.

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