NATÁLIA CANCIAN
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O Ministério da Saúde divulgou nesta quinta-feira (18) uma portaria que obriga os serviços de saúde a informarem todos os casos de suspeita de zika, doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti.
A notificação dos casos deverá ser feita a cada semana por equipes de saúde, tanto da rede pública quanto privada, após o diagnóstico clínico dos pacientes.
Os dados devem ser registrados e enviados através de formulários e sistemas próprios às secretarias municipais e estaduais de saúde e ao ministério.
Já os casos de suspeita de zika em gestantes e de mortes possivelmente relacionadas ao vírus passam ser a ser de notificação "imediata". O prazo para recebimento dos dados é de até 24h.
Até então, o governo não tinha informações sobre o número de pessoas afetadas pelo vírus da zika desde que ele foi identificado no país, em maio de 2015.
Naquela ocasião, a pasta optou por registrar apenas os Estados que possuem circulação do vírus, após confirmar uma pequena amostra de casos por meio de exames. A justificativa é que não havia ampla oferta de testes disponíveis.
"A zika não existia no Brasil. E como não exista, não tinha regramento sobre isso. Tivemos o descobrimento do vírus no final de abril [de 2015]. Por que não fizemos isso [obrigação de registro de dados] antes? Porque não tínhamos testes que poderiam dizer com segurança", afirmou o ministro da Saúde, Marcelo Castro, antes de participar de uma reunião com representantes dos Estados Unidos para definir estratégias para controle do vírus da zika.
O Ministério da Saúde diz que vai distribuir cerca de 500 mil testes de diagnóstico a laboratórios públicos para ajudar na identificação dos casos.
NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA
Com a medida, a infecção pelo zika entra na lista de doenças de notificação compulsória - ou seja, aquelas cujo atendimento deve ser comunicado ao governo federal, como forma de monitorar os dados. Hoje, 48 estão nesta lista.
O novo modelo é semelhante ao adotado para registro de casos de dengue no país, em que os casos são contabilizados após avaliação médica ou resultados por exames.
Em geral, a infecção pelo vírus da zika é caracterizada principalmente pela ocorrência de manchas vermelhas pelo corpo, coceira, febre baixa ou ausência de febre, entre outros sintomas.
Embora o quadro clínico seja considerado de baixa gravidade, o zika tem despertado alerta pelo risco de complicações. Recentemente, o vírus tem sido associado ao aumento de casos de microcefalia no Brasil e de doenças neurológicas, como a síndrome de Guillain-Barré, que pode levar à paralisia.
Para o ministro da Saúde, Marcelo Castro, há uma "correlação nítida" entre o aumento de casos de microcefalia e os locais onde há mais relatos de suspeita de infecção pelo vírus.
"Para nós não há dúvidas de que o zika causa microcefalia nos níveis que temos hoje", afirma. O que nos falta é estabelecer se o vírus zika é uma causa suficiente para desencadeamento da microcefalia ou se há necessidade de algum fator que contribui."
NOVOS CRITÉRIOS
Embora considere que os casos estejam relacionados ao vírus da zika, o Ministério da Saúde anunciou nesta quarta-feira (18) que irá deixar de divulgar o número de casos de microcefalia que já tiveram resultado positivo para o vírus em exames.
Ao todo, 508 casos de microcefalia já foram confirmados no país desde outubro. Até a última semana, 41 destes casos tinham a confirmação para o zika em exames.
Questionado, o ministro alega que a mudança ocorreu como forma de evitar problemas de "interpretação" dos dados.
"Quando dizíamos que eram 41 casos comprovados para o vírus zika, isso passava a impressão que os outros 400 casos não eram causados pelo zika. E a ideia não é essa", afirma. "Qual a nossa ideia? É que a grande maioria da microcefalia que temos hoje é causada pelo vírus zika."
Castro diz ainda que há "dificuldade" para confirmar todos os casos devido à falta de testes suficientes que detectem o vírus meses após a infecção.
"Tínhamos antes cerca de 150 casos de microcefalia por ano no Brasil, por todas as causas que não o zika. Então, teoricamente, o número de microcefalia acima de 150, não tem como comprovar, mas devem ser causados pelo vírus zika."
Perguntado sobre a suspeita de subnotificação anterior de casos de microcefalia, hipótese já levantada por pesquisadores, Castro disse apenas que "não é provável", sem citar motivos. O ministro também não informou o número de casos de microcefalia já confirmados para outras infecções congênitas - cuja relação com o quadro de má-formação nos bebês já é comprovada na literatura médica, como sífilis, toxoplasmose, citomegalovírus, entre outros.
Escrito por Da Redação
Publicado em 18.02.2016, 18:04:47 Editado em 27.04.2020, 19:52:51
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