MIRIAM SANGER
JERUSALÉM, ISRAEL (FOLHAPRESS) - Em 2014, o número de brasileiros que migraram para Israel apresentou crescimento significativo, com a chegada de 356 brasileiros, contra 209 em 2013.
Ainda não há previsão para o resultado de 2015. No entanto, se compararmos com o início de 2014, já se verifica um aumento de 38% em relação ao mesmo período do ano passado: de janeiro a meados de abril desse ano, recebemos 158 brasileiros, informou à Folha o Ministério de Absorção de Imigrantes de Israel. Eles se somaram aos cerca de 12 mil que já vivem no país.
O Brasil está acompanhando a tendência de crescimento da imigração a Israel. Segundo dados da Agência Judaica, o país experimentou em 2014 o recorde dos últimos anos, com a integração de 26,5 mil novos cidadãos.
O número foi impulsionado por 7.000 franceses, que fogem de um panorama de ascensão do antissemitismo em seu país, e 5.800 ucranianos, desesperançados com o conflito com a Rússia.
Raanana, a segunda cidade mais procurada pelos brasileiros em 2014 (veja quadro), foi a opção da família Gabbay, proveniente de Belém: Rebeca (28), Samuel (35) e seus quatro filhos emigraram em dezembro. Abandonaram a segurança do apartamento próprio e seus empregos para deixar para trás a violência urbana e buscar qualidade de vida.
Cansei-me do clima de insegurança e busquei uma vida com mais liberdade e identidade judaica, o que só é possível aqui.
O casal em breve iniciará o procedimento de validação de seus diplomas. Processo longo e burocrático, é uma batalha que, eles sabem, não será fácil. A busca de uma posição no mercado de trabalho é um ponto sensível e dificultado pela língua.
É possível virar-se em inglês, mas aprender o hebraico é fundamental para a integração, afirma Michel Abadi, presidente da Olei Brasil, ONG que apoia imigrantes brasileiros após sua chegada. Criada em 2013, a Olei conta com hoje com 120 voluntários que oferecem apoio emocional e prático em processos como matrícula escolar e busca por moradia. Com isso, ameniza-se o impacto da chegada, diz Abadi.
Não há estatísticas sobre desistentes que retornam ao Brasil, mas acredita-se em uma taxa em torno de 10%. O imigrante precisa ser flexível e paciente. No caso do brasileiro em Israel, há um grande choque: eles deixam de conviver com a cultura serviçal do pois não para lidar com um povo pragmático que sempre lutou pela sobrevivência, comenta a psicóloga Rita Cohen Wolf. Em constante contato com novos imigrantes, ela acredita que o aumento da imigração brasileira se deva à desesperança frente à crise política e econômica no Brasil.
Michel acrescenta um outro aspecto. Há um despertar da identidade judaica, aliado à melhoria da imagem de Israel. Antes visto como um país difícil e sempre em guerra, hoje ele está se internacionalizando, principalmente por seu destaque no mundo tecnológico.
Segundo o Ministério da Absorção, não está sendo desenvolvida no Brasil nenhuma campanha de incentivo à imigração.
Se por um lado há quem seja vencido pelas dificuldades, por outro há quem navegue em mares tranquilos.
Daniel Ring (32) chegou a Tel Aviv em 2010 sem pretensões de se estabelecer. No entanto, sua carreira como músico deslanchou, ele fundou uma start-up produtora de shows e inaugurou um bar em Yafo, onde serve pratos brasileiros como pão de queijo e caldo de cana.
Ele destaca a natureza do país, formado por imigrantes, como um facilitador da adaptação. Aqui há gente do mundo inteiro e Israel trata bem o imigrante. Além disso, é bom ser brasileiro aqui: israelenses adoram o Brasil, comenta.
Daniel contou com a ajuda da incubadora da ONG Gvachim, cuja missão é estimular a empregabilidade. Sem network, os imigrantes tem dificuldade para encontrar uma nova posição no mercado. Nosso papel é ajudar a mão de obra qualificada a firmar raízes em Israel antes que se frustre e retorne ao país de origem, afirma a CEO do Gvachim, Gali Shahar.
Segundo ela, o mercado israelense é ávido por profissionais com experiência internacional e domínio de línguas estrangeiras. Estamos aqui para fazer esse elo de ligação.
A educadora paulistana Sônia Cebukin Gomberg (44) também não encontrou dificuldades em sua adaptação em Raanana. Ela e o marido deixaram seus empregos, casa própria e imigraram com os dois filhos em agosto de 2014.
Viemos em busca de qualidade de vida, resume Sônia, que não conseguia dormir toda vez que a filha saía de casa com os amigos em São Paulo. Aqui, temos a insegurança da guerra, mas ela é pontual. Em São Paulo, convive-se com o medo 24 horas por dia.
Escrito por Da Redação
Publicado em 23.05.2015, 09:41:57 Editado em 27.04.2020, 19:59:46
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