Após 11 dias de protestos pedindo a renúncia do presidente egípcio, Hosni Mubarak, o governo começa a sinalizar que dará início a negociações com a oposição sobre a transferência de poder.
O ministro das Finanças do país, Samir Radwan, disse à BBC que o vice-presidente Omar Suleiman iria se encontrar com líderes da oposicionistas, mas até o momento apenas partidos pequenos confirmaram que irão participar das conversas.
O principal grupo de oposição no Egito, a Irmandade Muçulmana, disse estar pronto para negociar com o governo, desde que haja um acordo por escrito sobre a realização de uma reforma política dentro de um cronograma específico.
Em uma declaração divulgada na noite de sexta-feira pelo partido, não há nenhuma menção à exigência feita anteriormente de que Mubarak deveria deixar o poder imediatamente.
Uma das principais figuras de oposição, o Nobel da Paz Mohamed ElBaradei, também não confirmou presença nas negociações.
Transição sem solavancos
Segundo o ministro das Finanças egípcio, a transição de poder no Egito começou quando o presidente Hosni Mubarak declarou que não concorrerá à reeleição.
"É o início da criação de um processo que vai garantir uma transição de poder sem solavancos e sem cair na armadilha de um cenário de caos", afirmou ele.
De acordo com analistas, a participação do maior grupo de oposição do país em conversas com o governo poderia ajudar a resolver o impasse no Egito, mas ainda não se sabe se os jovens manifestantes que vêm liderando os protestos nas ruas apoiariam uma negociação enquanto o presidente se mantém no cargo.
Milhares de pessoas ainda ocupam a Praça Tahrir, no centro do Cairo, após a enorme manifestação de sexta-feira, mas o correspondente da BBC Jim Muir afirma que, aos poucos, as pessoas estão deixando o local.
Segundo ele, começaram a surgir dúvidas dentro do movimento sobre o quanto ainda é possível conseguir através de manifestações. Além disso, muitas das pessoas envolvidas nos protestos estariam preocupadas com a perda de renda.
A crise política gerou uma paralisia econômica no país, fechando bancos e a bolsa de valores do Cairo, os turistas deixaram os resorts e os preços de produtos como cigarros e pão vêm subindo vertiginosamente.
Em uma tentativa de normalizar a situação, o primeiro-ministro Ahmad Shafiq pediu que os egípcios voltem ao trabalho e anunciou a reabertura dos bancos para domingo, o primeiro dia útil da semana no país. A bolsa de valores deve voltar a operar na segunda-feira.
Pressão internacional
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu na sexta-feira por "um processo de transição ordenada que comece imediatamente" no Egito.
Obama disse também que o presidente egípcio, Hosni Mubarak, deve ouvir a população.
"Ele precisa ouvir o que está sendo dito pela população e fazer um julgamento sobre um rumo a tomar que seja ordenado, significativo e sério", disse Obama em Washington, durante coletiva de imprensa ao lado do primeiro-ministro canadense, Stephen Harper.
"Nós queremos ver este momento de turbulência se transformar em um momento de oportunidade. O mundo inteiro está assistindo", afirmou Obama.
Mais cedo, a União Europeia já havia defendido que uma transição no governo egípcio deveria começar imediatamente.
“O Conselho Europeu está acompanhando com grande preocupação a piora na situação do Egito”, disse um comunicado assinado por 27 líderes do bloco. “Todos os partidos devem se moderar, evitar violência e começar uma transição ordeira para um governo de base ampla”.
A ONU estima que mais de 300 pessoas tenham morrido desde o início das manifestações no Egito, no dia 25 de janeiro.
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