Foi no dia seguinte ao Natal. O presidente Evo Morales estava na Venezuela, o principal aliado da Bolívia, e a árdua tarefa ficou por conta do vice-presidente: anunciar um aumento abrupto de 73% no preço da gasolina. A reação foi rápida.
Os manifestantes saquearam escritórios do governo e queimaram fotografias de Morales, que causou o aumento ao cortar os subsídios do governo. Outros tentaram derrubar uma estátua de Che Guevara.
Os cocaleiros, uma base de apoio importante para o presidente, bloquearam uma estrada principal, em protesto. Motoristas de ônibus em greve chicotearam publicamente aqueles que ousaram pegar passageiros.
Até o momento em que a medida foi revogada, cinco dias depois, ficou evidente que Morales, indiscutivelmente o líder mais forte da Bolívia desde 1950, sofreu o maior revés de sua presidência. Novas pichações decorando as paredes em El Alto e em La Paz, a capital do país, resumiam o sentimento em duas palavras: "Evo (=) Implosión".
Choque
O choque duplo de Morales, um líder esquerdista que muitas vezes nega políticas orientadas ao mercado, que propõe a medida e, em seguida, ver seus partidários se revoltarem contra ele reflete um nó enfrentado pelos governos dos países ricos em energia: o desgaste que os subsídios do combustível causam às finanças públicas e os riscos políticos envolvidos na sua redução.
Na Bolívia, a ferocidade dos protestos e a rápida capitulação de Morales abriram um capítulo incerto para o presidente, que está no início de seu sexto ano de mandato. Em uma importante pesquisa publicada este mês pelo jornal La Prensa, 67% dos entrevistados nas quatro maiores cidades da Bolívia disseram desaprovar sua performance.
Apesar dos problemas enfrentados por Morales, que também é acusado de lidar de forma injusta com opositores políticos, mesmo os seus críticos proeminentes dizem que seria prematuro prever o fim do seu governo, apesar do furor do público sobre sua tentativa de cortar os subsídios aos combustíveis.
Como a Venezuela, rica em petróleo, a Bolívia subsidia a gasolina, que vende aqui por cerca de US$1,89 o galão, menos da metade do preço nos vizinhos Brasil ou Chile.Mas, ao contrário da Venezuela, a Bolívia depende de um material diferente para grande parte da sua receita de exportação: o gás natural. A Bolívia importa gasolina e diesel refinados e gastou US$ 666 milhões nos subsídios desses combustíveis no ano passado. Conforme o preço global do petróleo aumenta, os subsídios podem chegar a US$ 1 bilhão em 2011, disse o vice-presidente Álvaro García Linera.
Analistas de energia dizem que a baixa dos preços domésticos dos combustíveis na Bolívia, dissuadiram companhias estrangeiras de energia de perfurar novos poços e aumentar a produção dentro do país. As políticas nacionalistas de Morales também têm limitado o investimento estrangeiro no setor de gás natural boliviano, o que levou países vizinhos, como Argentina, Brasil e Chile a buscar novas fontes do combustível.
Isso privou a Bolívia de receitas e deixou Morales com pouca escolha além de tentar aumentar os preços da gasolina, uma medida que o mercado e seus apoiadores rejeitaram imediatamente.
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