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Traficantes matam e expulsam policiais no México

O tio de Erika, que é prefeito de Guadalupe Distrito Bravos, no México, lhe ofereceu um emprego que fora recusado por todos os outros habitantes da cidade. Ele pediu que ela se mantivesse discreta e não se mostrasse muito orgulhosa de ser a última poli

Da Redação

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 Garoto para a bicicleta para observar casa pegando fogo em Guadalupe. Disputas entre traficantes fazem famílias abandonarem tudo em busca de lugar mais seguro
Icone Camera Foto por Adriana Zehbrauskas/The New York Times
Garoto para a bicicleta para observar casa pegando fogo em Guadalupe. Disputas entre traficantes fazem famílias abandonarem tudo em busca de lugar mais seguro
Escrito por Da Redação
Publicado em 25.01.2011, 08:43:00 Editado em 27.04.2020, 20:52:05
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O tio de Erika, que é prefeito de Guadalupe Distrito Bravos, no México, lhe ofereceu um emprego que fora recusado por todos os outros habitantes da cidade. Ele pediu que ela se mantivesse discreta e não se mostrasse muito orgulhosa de ser a última policial da cidade, já que o restante da força havia pedido demissão ou sido assassinada.

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Entretanto, pelo que se viu nas fotos dos jornais locais, Erika Gandara, 28, gostou do novo emprego: ela exibia um rifle semiautomático e vestia um capuz roxo no lugar do uniforme. Um curativo cobria o olho inchado pela picada de uma abelha. 'Eu sou a única polícia desta cidade, a autoridade', disse ela aos jornalistas.

Então, dois dias antes do Natal, Erika foi sequestrada por um grupo de homens armados e não foi vista desde então.

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Esse foi mais um sinal da onda de terror que transformou a cidade agrícola perto do Texas, em um posto da guerra ao narcotráfico. Segundo o governo local, quase a metade dos 9 mil moradores partiu da cidade, deixando para trás casas e empresas destruídas.

Longe de grandes cidades como Ciudad Juárez, um dos lugares mais violentos das Américas, a guerra contra o crime organizado pode abater igualmente os pequenos povoados. As cidades produtoras de algodão ao sul de Juárez estão em um território disputado por pelo menos duas gangues principais do tráfico, de acordo com relatórios de segurança tanto do governo como privados, o que leva a batalhas mortais pelo domínio da região.

A falta de policiais treinados e uma crise de longa data que o governo não tem conseguido resolver permitem que as gangues de criminosos mantenham-se no poder.

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'O impacto é muito forte em pequenas cidades e vilas', afirma Daniel M. Sabet, professor visitante da Universidade de Georgetown, que estuda as políticas públicas do México. "O crime organizado facilmente ultrapassa as barreiras e controla as cidades', diz.

Algumas cidades se tornaram tão vulneráveis que resolveram sair do caminho para não incomodar os criminosos. Como as autoridades locais acreditam que as gangues sejam menos propensas a atacar mulheres - e também porque poucos homens estão dispostos a assumir este posto -, muitas delas passaram a ser promovidas para cargos superiores dentro da polícia em cidades pequenas do estado de Chihuahua, o mais violento do país.

Em novembro, após uma onda de violência na cidade vizinha de Praxedis Guerrero, o governo local selecionou uma estudante universitária de 20 anos para ser a chefe de polícia e comandar a força de nove mulheres e dois homens, na esperança de que redes criminosas a considerassem menos ameaçadora.

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Marisol Valles, a jovem chefe de polícia, deixou claro que os crimes mais graves ficarão sob a responsabilidade das autoridades estaduais e federais. Ela afirmou que, na realidade, apenas analisa infrações civis emitidas por outros policiais e raramente sai do escritório. "Eu sou uma espécie de administradora", conta Valles, que não anda armada nem veste uniforme.

Mas os traficantes não discriminam. Hermila Garcia, depois de ser nomeada chefe de polícia de Meoqui, que fica no centro do estado de Chihuahua, foi morta no dia 30 de novembro, apenas um mês após assumir o cargo.

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Guadalupe tentou colocar um rosto pacífico na polícia com a nomeação de Gandara em outubro. Parece que ela tentou - ou pelo menos falou que tentou - levar o trabalho a sério, para o desgosto de seu tio, o prefeito Tomas Archuleta. O prefeito tinha boas razões para aconselhar a discrição: ele tomou posse após seu antecessor ser morto no ano passado, durante uma onda de assassinatos de autoridades locais que atingiu todo o México.

'Eu disse a Erika para tomar cuidado e não dar bandeira', conta Archuleta, visivelmente frustrado com a foto dela segurando o fuzil. Assim como Valles, seu trabalho era emitir citações, deixando os crimes graves para as autoridades estaduais e federais.

Guadalupe tem muito a investigar. Há tantas casas e empresas abandonadas quanto ocupadas. Numa manhã recente, quatro casas foram atacadas e duas pessoas foram assassinadas a tiros com armas superpotentes, cujas balas deixaram vários furos nas paredes de alvenaria.

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São poucos os habitantes que saem de suas casas depois das cinco horas da tarde. Os soldados e policiais só são vistos depois de ocorridos os crimes, ou quando vigiam a entrega mensal dos cheques do governo para os aposentados.

'Ficamos trancados a maior parte do tempo', diz Eduardo Contreras, 26, enquanto observa os moradores apagarem as brasas de suas casas em chamas. 'É tão triste o que aconteceu aqui', diz Maria Torres, 70, com a voz embargada, enquanto carrega um cartaz da igreja.

O prefeito Archuleta disse que a cidade depende da proteção de soldados baseados em uma área de recreação em Praxedis Guerrero. Ele acredita que talvez seja melhor não ter uma polícia local. Os moradores da cidade lhe disseram que os crimes comuns, como roubo, diminuiram por medo de chamar a atenção de uma patrulha militar. 'Acabaram-se os crimes menores', afirma.

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Entretanto, os moradores se queixam de que os soldados e os policiais estaduais e federais são vistos raramente, exceto em episódios de grande violência.

'Não há polícia, nem bombeiros, nem serviço social aqui', reclama uma moradora de meia idade que teve sua casa incendiada; ela se recusa a fornecer seu nome por temer represálias. 'Aqui, os criminosos se livram de tudo. Nada é investigado, nem mesmo os assassinatos', diz ela.

Pouco tempo depois, uma caravana formada por quatro caminhões da polícia federal chegou de outra cidade. Os policiais desceram de seus veículos, fizeram anotações e questionaram a moradora e outros membros de sua família.

Os familiares se recusaram até mesmo a abrir o portão, provavelmente por medo de serem vistos conversando com eles, e os policiais tiveram que ir embora. Eles pareciam estar fazendo o balanço, passando da cena de um crime para outra e tomando notas, mas não fazendo a montagem de uma investigação forense.

No local de um duplo assassinato ocorrido pela manhã, um oficial mexia em uma poça de sangue e fluidos corporais com um palito, enquanto outro pegava um pedaço de carne e o atirava em um colega por brincadeira.

Gandara talvez não tenha investigado nada a fundo. Os agentes de polícia das pequenas cidades geralmente desempenham um papel de prevenção, resolvendo disputas menores, cuidando de bêbados e adolescentes rebeldes. Muitos nem andam armados.

O prefeito não falou muito mais a respeito de sua sobrinha, Gandara, citando uma investigação feita pelo gabinete do procurador do estado, que não comentou o motivo. Mas ele a chamou quando ninguém mais quis assumir o cargo.

Segundo Archuleta, ela tinha experiência como segurança e aparentemente não estava envolvida em nenhuma atividade criminosa.'Ninguém sabe o que as pessoas fazem em suas vidas privadas, mas acredito que ela não tenha se envolvido em nada de errado', afirma ele.

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