Em meio à expectativa para o anúncio da concessão do refúgio ao ex-ativista Cesare Battisti, o governo italiano advertiu que a decisão terá "consequencias". O aviso foi dado pelo ministro da Defesa da Itália, Ignazio La Russa, em entrevista publicada nesta quinta-feira pelo jornal italiano Corriere della Sera.
"Ninguém pense que o não à extradição de Cesare Battisti será livre de consequências. A ação diplomática não compete a mim. Mas perguntem ao governo e ao menos outros quatro ministros dirão que têm esta mesma intenção", afirmou. Na entrevista, La Russa se disse pronto para "apoiar iniciativas que cheguem ao boicote" ao Brasil.
A decisão de conceder o refúgio político a Battisti deve ser anunciada ainda hoje pelo presidente Luiz Inácio Lula da SIlva. As declarações do ministro italiano contrariam a previsão feita pelo próprio presidente brasileiro, que disse não ver risco de retaliação por parte do governo italiano. “Não existe retaliação da Itália. O Brasil é soberano, maior de idade, ou seja, faz o que quer”, disse Lula no fim da tarde de ontem, durante uma visita a Salvador.
O presidente acelerou nos últimos dias as negociações para formalizar a concessão do refúgio a Battisti. O objetivo é evitar que a presidenta eleita Dilma Rousseff fique encarregada de dar um parecer sobre o caso, arcando assim com o ônus diplomático que será provocado pelo anúncio.
Em seu país, ele enfrenta a condenação por quatro homicídios cometidos na década de 70, quando integrava o grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC). Ele refugiou-se na França na década de 80 e permaneceu no país até ter seu asilo revogado. De lá, o italiano teria seguido para o Brasil, onde foi preso em 2007. Battisti sempre negou a autoria dos crimes.
O caso ganhou destaque em 2009, quando o então ministro da Justiça, Tarso Genro, anunciou a decisão de conceder o refúgio político ao ex-ativista. Diante das pressões lançadas pelo governo italiano, o caso foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF). A corte posicionou-se favoravelmente à extradição, mas deixou a decisão final a cargo do presidente Lula.
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