DIOGO BERCITO
MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) - Somando outra controvérsia às negociações do brexit, o governo de Gibraltar ameaçou nesta semana anular os direitos dos europeus que residem ali caso esse território britânico seja excluído do acordo travado entre o Reino Unido e a União Europeia.
Gibraltar, de 30 mil habitantes, está localizado ao sul da península Ibérica. Como esse diminuto território é disputado pelo Reino Unido e pela Espanha em situação semelhante à das ilhas Falkland, chamadas de Malvinas pelos argentinos, que as reivindicam a União Europeia decidiu em abril de 2017 que Madri tem o direito de vetar decisões tomadas sobre ele.
Na prática, a Espanha pode impedir que Gibraltar integre um acordo de livre comércio entre o Reino Unido e a União Europeia.
Há 2.000 europeus vivendo em Gibraltar, além dos 13 mil trabalhadores que diariamente cruzam a fronteira. A maior parte deles são espanhóis. Nossa interpretação é de que não teremos a obrigação de garantir seus direitos, se o acordo de saída e de transição não se aplicar a nós, disse Joseph Garcia, vice-ministro-chefe desse território, segundo o jornal Guardian. "Não é algo que queiramos fazer. Mas é uma opção."
Garcia também afirmou que pode rever o acordo que garante o pagamento de aposentadoria aos espanhóis que trabalharam ali antes de 1969. Consultamos os melhores advogados do Reino Unido e fomos aconselhados a desafiar o veto espanhol na corte, o que quer que isso cause ao restante do brexit.
Gibraltar cedido ao Reino Unido no século 18 foi um dos territórios britânicos que votou em massa contra o brexit na consulta popular de 2016, com 96% dos votos rejeitando essa retirada.
IRLANDA
As ameaças de Gibraltar complicam um já árduo processo de negociações, emperrado em parte pela celeuma em torno de outro território britânico: a Irlanda do Norte. Há debates sobre como resolver sua fronteira com a vizinha Irlanda, um país-membro da União Europeia, após a saída do Reino Unido.
O problema no caso irlandês é que, com o brexit, será preciso criar algum tipo de controle fronteiriço para monitorar a passagem de pessoas e bens.
Isso esbarra nas negociações de paz de 1998 que encerraram três décadas de separatismo da Irlanda do Norte a livre movimentação era justamente uma condição para interromper aquela violência, após 3.600 mortes.
A primeira-ministra britânica, a conservadora Theresa May, foi obrigada a se comprometer a não erguer uma fronteira física entre as duas Irlandas, para com isso avançar nas discussões sobre um acordo de livre comércio com a União Europeia. Mas a questão segue viva, até que se encontre um meio de resolver o dilema.
Garcia, de Gibraltar, disse nesta semana que não quer que as negociações sejam baseadas em vetos, exclusões ou ameaças de negar às pessoas seus direitos legítimos, segundo a reportagem do Guardian. Mas a ideia de que a Espanha possa barrar um acordo que envolva esse território britânico, afirmou, trouxe um elemento de incerteza às tratativas.
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