RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) - Não há dúvidas que o humor televisivo passa por uma mudança. Embora ainda tenha espaço cativo na TV, há uma transformação em curso. A Globo, por exemplo, repaginou o Zorra, aposta no remake da Escolinha do Professor Raimundo, com elenco e piadas renovadas, e na irreverência do "Tá no Ar - A TV na TV.
Os principais reflexos dessa mudança aconteceram na grade da Band com a extinção do "CQC", em 2015, e a saída do "Pânico", no ano passado. Atualmente, a emissora exibe apenas uma reprise de Mr. Bean.
O UOL foi ao Prêmio de Humor, organizado por Fábio Porchat, e conversou com o anfitrião e outros artistas sobre o assunto. O evento aconteceu na terça-feira (13), no Rio, e teve como homenageado Agildo Ribeiro, além da presença de Ney Latorraca, Berta Loran, Lúcio Mauro, Ingrid Guimarães, entre outros.
Para Eduardo Sterblitch, que se consagrou no "Pânico" e é contratado da Globo, o gênero passa por um momento complicado.
"É um momento difícil para se fazer humor de modo geral. O humorista está reaprendendo a se colocar. Palavras que deixam as pessoas chateadas não podem mais ser usadas. Hoje em dia o humor de agressão, que você espera uma resposta, para depois dar um soco, passou. É um momento mais erudito", disse.
O ator ganhou fama nacional com o Freddie Mercury Prateado e o Poderoso Castiga, do "Pânico", no qual ficou por oito anos. Ele acredita que o programa ainda voltará ao ar.
"Para fazer rir, você tem que estar cinco vezes mais ligado. E o Pânico não acabou, vai voltar, não sei aonde nem quando, mas é um fenômeno acima e mais forte que o próprio Emílio [Surita]. Não é um programa, é um fenômeno, um acontecimento, exagera.
Para Dani Calabresa, que também trabalhou no Pânico, em 2007, e no CQC, por dois anos, os humorísticos perderam o fôlego. Ela atualmente está no elenco do Zorra. Durou muitos anos e é a mesma fórmula. Então, a gente já sabe que o cara de terno vai lá, tentar dar um par de óculos de presente, disse. Tudo tem que se renovar. Tudo tem um ciclo, nada dura para sempre. Já A Praça é Nossa troca os personagens, dá uma nova cara. O Zorra Total durou mais de 15 anos com fases muito diferentes. Teve a Lady Kate [Katiuscia Canoro], a Valéria Bandida [Rodrigo Sant'Anna], o Rogério Cardoso, a Nair Bello, depois foi no metrô..., exemplificou Calabresa. Tudo tem que se renovar. A gente tem que estudar, se desafiar, escrever textos diferentes do que a gente fazia há dez anos, completou.
Para Fábio Porchat, que está à frente de um talk show na Record, acredita que a TV aberta oferece um leque de opções de humor e considera natural o fim de humorísticos após um longo período no ar. É legal ter de tudo na TV. Gosto que tenha A Praça é Nossa, Zorra, os talk shows. É legal para o público poder escolher. Todo humor funciona, o Pânico acabou, mas ficou 14 anos no ar. É natural, A Grande Família acabou depois de 14 anos também. O legal é expandir e ter de tudo um pouco, disse. Ele também acha normal os veteranos darem lugares a humoristas novatos na TV. Isso aí é natural. O ator vai envelhecendo e passa a fase de que pode ser o pai, pode ser o marido, depois vira o avô. Apesar de poder trabalhar até muito tempo, o ator vai perdendo o espaço mesmo. Já escrevi uma peça para quando eu tiver 70 anos. É bom para renovar, para as pessoas poderem entrar, comparou Porchat.
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