MAIS LIDAS
VER TODOS

Geral

Violência afeta exercício da cidadania no Brasil, aponta estudo

CAROLINA VILA-NOVA SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A violência perpetrada por atores estatais e não estatais afeta o engajamento popular no Brasil e a percepção da população sobre o exercício da cidadania, revela estudo inédito divulgado nesta quinta-feira (

Da Redação

·
Escrito por Da Redação
Publicado em 15.03.2018, 17:30:00 Editado em 15.03.2018, 17:30:09
Imagen google News
Siga o TNOnline no Google News
Associe sua marca ao jornalismo sério e de credibilidade, anuncie no TNOnline.
Continua após publicidade

CAROLINA VILA-NOVA

continua após publicidade

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A violência perpetrada por atores estatais e não estatais afeta o engajamento popular no Brasil e a percepção da população sobre o exercício da cidadania, revela estudo inédito divulgado nesta quinta-feira (15).

Desenvolvido pela consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU) para o instituto Humanitas360, o Índice de Participação Cidadã das Américas avaliou sete países da região -além do Brasil, foram estudados EUA, Chile, Venezuela, Colômbia, Guatemala e México.

continua após publicidade

No geral, o estudo aponta que, embora a confiança nas instituições democráticas seja baixa, os níveis de participação popular têm aumentado nas Américas, e a atuação em manifestações e em petições está em seu maior grau nos últimos dez anos.

Para elaboração do índice, foram avaliados três grupos de questões: a existência de condições legais e sociais para a participação cidadã, como essa participação acontece na prática e a percepção da população sobre o exercício da cidadania. Liberdade de expressão, eleições, igualdade de gênero e índices de violência foram alguns dos 22 indicadores analisados.

"Um dos elementos únicos deste estudo, que não tinha sido feito antes, é que ele reúne as questões de empoderamento -se você não se sente empoderado, se você não sente que consegue ter um impacto sobre o governo e a comunidade, isso vai condicionar suas atitudes e suas ações na sociedade civil", afirma David Humphreys, chefe da EIU para a América Latina. 

continua após publicidade

"Já existindo um índice democracia tão bem feito e tão respeitado, com mais de uma dezena de edições, nós achamos importante ter um índice que mensurasse a participação cidadã nas Américas, já que um sistema e a participação são os dois elementos fundamentais para que existe uma democracia de qualidade", diz Patrícia Villela Marino, presidente do Humanitas360, referindo-se ao Índice Global da Democracia, também da EIU.

O Brasil aparece em 5º lugar no índice geral, apresentando uma grande distorção entre a existência de leis e instituições conducentes à participação popular e a percepção da população sobre o engajamento. "É um desequilíbrio pouco saudável", diz Humphreys.

No quesito liberdade de expressão, por exemplo, o Brasil apresenta proteções legais similares às dos colegas, sendo que o exercício dessa liberdade por meio da mídia e da participação em petições fica acima da média. Porém, o país tem o pior índice de percepção de liberdade de expressão dentre os sete países. Apenas 31,6% dos brasileiros sentem que a liberdade de expressão é total e justamente exercida -- nos demais países, esse índice fica entre  43,6% e 61.5%.

continua após publicidade

Contribuem para essa percepção distorcida a baixa confiança da população na polícia e no Poder Judiciário e o uso excessivo da força para repressão de manifestações, empurrando o país para baixo no índice. Outro ponto negativo é a baixa participação feminina em cargos eletivos.

Questionado sobre o impacto de casos como o assassinato da vereadora Marielle Franco sobre a percepção da população sobre a participação cívica, Humphreys respondeu: "É um problema crítico no Brasil e em alguns dos outros países".

continua após publicidade

"Tais casos, mesmo se forem isolados, e eles não são, influenciam o engajamento [da população]. Se não me sinto seguro, se não confio nas pessoas encarregadas da minha segurança, a participação fica prejudicada."

O estudo também aponta uma série de desafios para o Brasil, com eleições iminentes neste ano. 

"O Brasil está em 155º lugar (dentre 191 nações) em representação feminina no Legislativo, e cidadãos têm um baixo grau de confiança nas instituições governamentais", afirma. "Populações rurais e indígenas que fazem campanha pelo direito à terra e por acesso aos recursos naturais enfrentam assassinatos, ameaças e ataques, e relatórios recentes mostram que o governo tem usado força excessiva para suprimir manifestações não violentas."

continua após publicidade

DEMAIS PAÍSES

Os EUA lideram o índice em todos os três grupos, com proteções legais, níveis de envolvimento popular e confiança em instituições governamentais muito acima dos dos demais países. O índice também revela um aumento do engajamento civil após a eleição do presidente Donald Trump.

"A polarização política e social tem crescido nos últimos anos e foi exacerbada pela eleição de Donald Trump como presidente. O tamanho e frequência cada vez maiores de protestos, como (...) as Marchas das Mulheres em 2017 e 2018 e a manifestação supremacista em Charlottesville, mostram um aumento do engajamento político ao redor do país", afirma o texto.

continua após publicidade

Entre os pontos negativos citados estão a baixa proteção dada a mulheres e minorias. 

Chile é o país da América do Sul mais bem colocado, devido ao alto grau de proteção legal e social para a população em termos de liberdade de expressão e eleições. Os chilenos também correm o risco mais baixo de violência entre as populações dos países da América Latina estudados. 

Em último lugar aparece a Venezuela; porém, por dificuldades na disponibilidade e na obtenção de dados, o país é avaliado com particularidades.

"Pesquisas conduzidas na Venezuela podem não ser um indicador preciso das crenças atuais, dadas as mudanças extremas observadas entre os diferentes anos, bem como a deterioração da situação política desde que os dados foram coletados, em 2015", afirma. 

Um dado interessante é que, apesar de um ambiente opressivo para o engajamento civil e político, a maioria dos venezuelanos considerou que sua liberdade de expressão é protegida e que votar tem um impacto. 

"A sociedade civil sofre formas de assédio, violência e severas restrições para sua atividade, enquanto as instituições do governo cada vez mais servem para avançar as visões do partido governista", diz o texto.

Os resultados do estudo estão disponíveis para consulta pública no site do Humanitas360.

Gostou desta matéria? Compartilhe!

Icone FaceBook
Icone Whattsapp
Icone Linkedin
Icone Twitter

Mais matérias de Geral

    Deixe seu comentário sobre: "Violência afeta exercício da cidadania no Brasil, aponta estudo"

    O portal TNOnline.com.br não se responsabiliza pelos comentários, opiniões, depoimentos, mensagens ou qualquer outro tipo de conteúdo. Seu comentário passará por um filtro de moderação. O portal TNOnline.com.br não se obriga a publicar caso não esteja de acordo com a política de privacidade do site. Leia aqui o termo de uso e responsabilidade.
    Compartilhe! x

    Inscreva-se na nossa newsletter

    Notícia em primeira mão no início do dia, inscreva-se agora!