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'Sou trabalhadora e saí jorrando sangue', diz professora agredida na Câmara de SP 

GUILHERME SETO SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "Sou uma trabalhadora, fui me manifestar pelos meus direitos e saí jorrando sangue". A professora de ensino infantil Luciana Xavier, 41, levou um golpe de cassetete no nariz nesta quarta-feira (14) enquanto prot

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 15.03.2018, 13:40:00 Editado em 15.03.2018, 13:40:09
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GUILHERME SETO

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "Sou uma trabalhadora, fui me manifestar pelos meus direitos e saí jorrando sangue". A professora de ensino infantil Luciana Xavier, 41, levou um golpe de cassetete no nariz nesta quarta-feira (14) enquanto protestava no salão nobre da Câmara Municipal contra o projeto de lei de reforma da Previdência da gestão João Doria (PSDB).

Encaminhada para o hospital do servidor, Luciana descobriu que ossos do seu nariz haviam fraturado. Além dela, diversos outros manifestantes ficaram feridos.

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Educadora em uma creche em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo, ela trabalha na rede pública há 13 anos e ensina crianças entre 2 e 6 anos de idade. A foto em que Luciana aparece com o rosto ensanguentado propagou-se como símbolo das agressões sofridas por servidores durante as manifestações. Incrédula, ela repete algumas vezes a expressão "jorrando sangue".

"Estávamos gritando palavras de protesto, como 'retira', porque queremos que o projeto não seja votado. É uma carga muito grande para o trabalhador que eles querem impor. Algumas pessoas começaram a gritar mais alto, mas nada mais agressivo estava acontecendo até entrar a tropa de choque da guarda municipal. Eu estava bem na frente dos vereadores, o relator [o vereador Caio Miranda (PSB)] estava lendo o projeto de lei. E então eu só lembro da mão com o cassetete em direção ao meu rosto", relembra a professora.

"Não senti dor, fiquei calma. Acho que meu corpo entrou em estado de choque e fui notar a gravidade a partir do zumbido alto que começou no meu ouvido. O bombeiro me amparou e então fui levada para o hospital por uma assessora do vereador [Eduardo] Suplicy (PT). Daí comecei a sofrer com a dor", completa.

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A professora diz que participa de manifestações pelos direitos dos servidores com frequência. Nesta quarta (14), ela chegou cedo à entrada da Câmara, onde armou sua barraca para acampar em protesto. Os professores estão em greve desde quinta-feira (8) e mais de 90% das escolas municipais são afetadas.

"Apaixonada" por seu trabalho com crianças, a educadora não quer destaque para o seu caso --ela diz que encontrou diversos outros docentes machucados no hospital. Mas espera repercussão positiva do ocorrido.

"Não sou heroína, não tive o nariz quebrado porque quis. Sou trabalhadora e quero ser reconhecida como tal. Estava lá para me manifestar pacificamente pelos meus direitos. Que eu não seja mais um número, mais uma professora agredida", diz.

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Luciana ainda não sabe se terá que passar por cirurgia, e passará por acompanhamento médico nos próximos dias para avaliação. Mais que o nariz, ela diz que terá que se recuperar psicologicamente para voltar às manifestações.

"A adrenalina está alta, não consigo dormir. Ainda preciso me acalmar, me curar psicologicamente. Estou com medo, mas vou voltar para protestar. Talvez com mais cautela, mas vou", completa.

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Questionada pela reportagem, a GCM não se manifestou. A Câmara Municipal informou, por sua assessoria, que eventuais excessos das forças de segurança serão apurados.

A PM afirmou que ficou só do lado de fora da Câmara e que a intervenção foi necessária devido ao tumulto, mas que ninguém foi detido.

A REFORMA

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O texto da reforma, em trâmite na Câmara, prevê a elevação da contribuição previdenciária de 11% para 14%, além da instituição de contribuição suplementar vinculada ao salário do servidor. Assim, o desconto poderá chegar a 18,2%, segundo a prefeitura. A prefeitura defende que, sem a alteração, a sustentabilidade da previdência municipal é inviável.

Um projeto de lei de mudança no sistema fora encaminhado à Câmara pelo ex-prefeito Fernando Haddad (PT) em 2015. Após protestos, Haddad retirou o projeto em agosto de 2016, mas o reencaminhou no fim daquele —o último do seu mandato. Doria mandou em dezembro passado um novo texto ao projeto e pretende votar na próxima semana.

Por causa do projeto, o Sindsep (Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo) estima que 60% dos funcionários públicos municipais aderiram à greve –a entidade ainda faz um balanço das repartições fechadas na cidade.

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Dentre elas, figuram as prefeituras regionais de Freguesia do Ó, Campo Limpo, M’Boi, Parelheiros, São Mateus, São Miguel Paulista, Pinheiros e Ermelino Matarazzo.

Segundo o sindicato, também houve paralisação de funcionários de unidades vigilância em saúde, centros de controle de zoonoses e postos de saúde, além de alguns hospitais municipais terem operado com quadro reduzido.

A Secretaria Municipal de Saúde afirmou que a paralisação se limitou a alguns médicos em poucas unidades de saúde, "sem prejuízo ao atendimento da população". A pasta negou que profissionais de hospitais tenham parado. Além disso, informou que 700 agentes de controle de endemias aderiram à greve —30% do quadro municipal.

O texto foi aprovado na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara nesta quarta. Mas a tentativa de Milton Leite (DEM), presidente do Legislativo e aliado de Doria, de abrir sessões extraordinárias para deixá-lo pronto para votação em plenário na próxima terça (19) acabou fracassada.

Vereadores da própria base aliada do prefeito saíram da Câmara devido à confusão, e não houve quórum.

Com isso, a proposta ainda terá que passar pelas comissões de administração pública e de finanças, além de ser debatido em plenário antes de ser votado.

A gestão Doria estabelece 31 de março como prazo máximo para sanção do projeto.

Nesta quinta (15), está prevista audiência pública na Câmara para debate da proposta. O sindicato dos professores programou ato no local.

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