Filme experimental com nudez explícita vence Festival de Berlim
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GUILHERME GENESTRETI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Título mais experimental desta edição do Festival de Berlim, ?Touch Me Not?, da romena Adina Pintilie, foi o vencedor do Urso de Ouro, maior prêmio da mostra alemã.
Na fronteira borrada entre ficção e documentário, escalando atores e não-atores, a obra carregada de nudez explícita se propõe a fazer um ensaio sobre a intimidade. O filme também ganhou o prêmio de melhor estreia de uma diretora.
Coprodução com o Brasil e outros países, ?Las Herederas?, do paraguaio Marcelo Martinessi, levou dois troféus: melhor atriz, para Ana Brun, e o de contribuição artística. A obra, que só tem mulheres no elenco, trata de um aristocrata (Brun), que ensaia se reconectar ao mundo exterior após a sua companheira ir presa.
Os prêmios foram entregues neste sábado (24), numa cerimônia que teve o cineasta alemão Tom Tykwer como presidente do júri. Com Cannes e Veneza, o Festival de Berlim completa a tríade das mostras mais importantes de cinema do calendário.
O Grande Prêmio do Júri, segundo mais importante do festival, foi para ?Mug?, da polonesa Malgorzata Szumowska, que cavouca a influência de certo provincianismo católico em seu país. Ela, que já havia levado o prêmio de direção em Berlim em 2015, por ?Body?, comemorou o fato de ser uma cineasta mulher.
Wes Anderson levou o Urso de Prata de melhor direção pela animação ?Ilha de Cachorros?, aventura sobre um garoto japonês que sai em busca de seu cão, levado a uma ilha-lixão.
Murray, que dubla um dos personagens, aceitou o prêmio no lugar do diretor e brincou: ?não imaginava que chegaria a Berlim como um cachorro e voltaria com um urso.?
O francês Anthony Bajon, que vive um ex-dependente de drogas que procura superar o vício numa instituição católica em ?La Prière?, levou o prêmio de ator. ?Museo?, filme mexicano que reconta com tintas pop o furto a peças do Museu de Antropologia, levou o Urso de Prata de melhor roteiro. A obra tem Gael García Bernal como o idealizador do crime, sujeito que não mede exatamente as consequências de seu ato.
O prêmio de contribuição artística foi para a direção de arte e para o figurino de ?Dovlatov?, filme russo sobre a luta de um escritor que luta por escrever obras autorias, e não loas ao homem soviético, como lhe sugerem.
OUTROS PRÊMIOS
A menção especial para melhor estreia foi para ?An Elephant Sitting Still?, do chinês Hu Bo, que se matou em 2017, aos 29 anos.
Na categoria de curtas, o Urso de Ouro foi para ?The Men Behind The Wall?, obra de Ines Moldavsky que fala de empoderamento feminino no contexto de Israel e da Palestina. Ficou em segundo lugar ?Imfura?, do ruandês Samuel Ishimwe, sobre a jornada de um joivem ao vilarejo de sua mãe. Em terceiro, a animação ?Solar Walk?, da dinamarquesa Réka Bucsi.
O austríaco ?Waldheims Walzer?, de Ruth Beckermann, levou o prêmio de melhor documentário, por sua investigação sobre a figura de Kurt Waldheim, ex-secretário-geral da ONU que teve envolvimento pretérito com o nazismo.
BRASIL PREMIADO ?Ex-Pajé?, filme do paulista Luiz Bolognesi sobre as tensões religiosas e econômicas que ameaçam a etnia do povo indígena paiter suruí, ganhou a menção especial entre os documentários do festival.
Vencedor do prêmio de melhor atriz e de contribuição artística, ?Las Herederas? também levou o prêmio de melhor filme segundo a crítica. A obra, dirigida pelo paraguaio Marcelo Martinessi, é uma coprodução com cinco países, incluindo o Brasil.
Fora da competição principal, produções brasileiras também faturaram alguns dos principais prêmios dos júris independentes.
O país foi o maior vencedor do prêmio Teddy, voltado a filmes com temática LGBT na programação berlinense. ?Tinta Bruta?, da dupla gaúcha Marcio Reolon e Filipe Matzenbacher, levou por melhor ficção, e ?Bixa Travesty?, de Kiko Goifman e Claudia Priscilla, foi eleito o melhor documentário.
O longa gaúcho, que também ganhou prêmio da confederação dos cinemas de filmes de arte, trata de um jovem que se pinta com tintas fluorescentes no escuro de seu quarto e dança para anônimos da internet. ?Bixa Travesty? acompanha as apresentações e divagações da cantora travesti paulista Linn da Quebrada e sua defesa da politização do corpo.
Já o cearense Karim Aïnouz, que exibiu ?Aeroporto Central? na seção Panorama, levou o prêmio da Anistia Internacional, concedido a obras que abordem o tema dos direitos humanos. O filme mostra o cotidiano de refugiados abrigados num aeroporto desativado da capital alemã.
Tanto Aïnouz quanto a equipe de ?Tinta Bruta? aproveitaram a premiação para tecer críticas à situação política brasileira. O diretor cearense leu um texto-manifesto contra o ?golpe legislativo contra a primeira mulher eleita presidente? e um ?Judiciário que condena sem provas?. ?O Processo?, da brasiliense Maria Augusta Ramos, ficou em terceiro lugar com o prêmio do público de melhor documentário da seção Panorama por seu retrato dos bastidores do impeachment de Dilma.
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