JULIA ALVES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com mais de 54 anos de profissão e 130 personagens, Tony Ramos, 69, é um dos nomes mais importantes da dramaturgia brasileira. No ar como José Augusto, na novela das seis, "Tempo de Amar", ele encarna um produtor de azeite e vinho que surge como vilão, mas consegue se redimir ao longo dos capítulos.
Na trama atual, ele manda a filha para o convento após descobrir sua gravidez e renega a paternidade da filha bastarda, fruto de um relacionamento extraconjugal.
Há 30 anos, ele era Tonico Ladeira, que decide criar um bebê que pode ou não ser seu. No folhetim de "Bebê a Bordo", que está sendo reexibido no canal Viva, começa quando o personagem de Ramos dá carona a uma conhecida, que acaba entrando em trabalho de parto no veículo e foge, deixando a criança para trás.
Abordando temas como estupro e sexualidade feminina, o ator classifica a novela como "emblemática". "Na época, causou estranhamento no público, mas se tornou uma novela 'cult'. Tinha muitos pontos de discussão modernos e arrojados. Vê-la no ar novamente me trouxe muita alegria", afirma.
Com um público acostumado a vê-lo incorporar personagens românticos e heroicos, o Tonico de "Bebê a Bordo" foi um dos personagens mais importantes da carreira de Ramos. "Quando fui convidado para fazer aquela comédia, percebi o texto ágil do Carlos Lombardi e as situações absolutamente contraditórias daquele personagem. Essas coisas me fizeram ver que era uma grande oportunidade."
Se a novela fosse produzida atualmente, o ator acredita que as abordagens politicamente incorretas da trama seriam bem aceitas. "O público entendeu a mensagem. Nunca subestimamos o público. A sociedade avançou muito nestes 29 anos."
VEREDITO É DO PÚBLICO
Neste ano, ele completa 54 anos de profissão e afirma ser impossível escolher um personagem ou cena mais marcante. "Se escolhesse um, estaria traindo o outro", diz. Na Globo há 40 anos, Ramos diz que fez muitas coisas que o enchem de alegria, mas quem dá o veredito final sobre seus personagens é o público. "São eles quem sabem e quem escolhem. Eu deixo a vida rolar."
Já o trabalho mais complicado, o ator não tem problemas em selecionar. Se trata da novela "A Regra do Jogo", exibida entre 2015 e 2016, na qual Ramos interpretou Zé Maria, que passa grande parte da trama como fugitivo e se torna o chefe de uma facção. "Foi uma novela de muitas dificuldades. Tínhamos cenas noturnas, de tiroteios e perseguições."
Em trabalhos mais antigos, o ator destaca a cena de nudez em "O Astro" (1977) quando, em plena ditadura militar (1964-1985), marcou a história da dramaturgia com o primeiro nu masculino nas novelas brasileiras. "Não podia aparecer nada que fosse flagrante, mas eu deveria ficar nu para trazer veracidade. A cena me deixou muito preocupado."
Com passagens por diversas tramas da Globo e pela finada TV Tupi, o ator afirma assistir seus trabalhos sempre que possível. "Gosto de assistir 'no ar'. Tenho a sensação de que estou vendo como espectador. Existem estudos que falam sobre o prazer de estar assistindo algo ao vivo. Estar com milhões de outras pessoas traz outra expectativa."
O final de "Tempo de Amar" está previsto para março e, no mesmo mês, o ator já tem compromisso marcado. Tony Ramos dará início aos estudos e ensaios para seu próximo filme, no qual será dirigido por Luiz Villaça, que o dirigiu no seriado "A Mulher do Prefeito" (2013).
Após as filmagens, que acontecem em março e abril, o ator pretende "emendar" um novo trabalho. "Tenho prazer naquilo que faço. Vou ver o que fazer, mas não vou tirar férias. O trabalho me chama e eu gosto", finaliza.
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