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ATUALIZADA - Autor Kazuo Ishiguro, 62, vence Nobel de Literatura

MAURÍCIO MEIRELES SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Quando Kazuo Ishiguro recebeu o telefonema de sua agência literária, na manhã desta quinta (5), o escritor ouviu a notícia com ceticismo: só podia ser "fake news". Do outro lado da linha, ligavam para avisar

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 05.10.2017, 14:40:11 Editado em 05.10.2017, 14:40:11
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MAURÍCIO MEIRELES

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Quando Kazuo Ishiguro recebeu o telefonema de sua agência literária, na manhã desta quinta (5), o escritor ouviu a notícia com ceticismo: só podia ser "fake news". Do outro lado da linha, ligavam para avisar que ele havia vencido o prêmio Nobel de Literatura deste ano.

O anúncio foi feito pouco antes, em Estocolmo, na Academia Sueca, instituição que desde 1901 concede o Nobel.

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"Pensei que era boato", afirmou ele, sentado em um banco no quintal de sua casa, em Londres, à imprensa.

"Depois, uma moça muito gentil da Suécia me ligou e perguntou, antes de tudo, se eu aceitaria o prêmio. Fiquei surpreso com como eles [da Academia Sueca] foram modestos. Era como se estivessem me convidando para uma festa e tivessem medo que eu recusasse o convite."

O autor nipo-britânico de 62 anos é um dos mais aclamados prosadores contemporâneos. Ele atingiu a consagração em 1989, ao ganhar o Man Booker Prize por "Os Vestígios do Dia". É autor, entre outros livros, de "Quando Éramos Órfãos", "Não me Abandone Jamais" e "O Gigante Enterrado", seu romance mais recente. Sua obra é publicada no Brasil pela Companhia das Letras.

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A Academia Sueca destacou, ao conceder o Nobel, a "grande força emocional" da obra do escritor, cuja qualidade seria "desvelar o abismo sob nossa sensação ilusória de conexão com o mundo."

A instituição descreveu o trabalho de Ishiguro como uma mistura de Jane Austen, Franz Kafka e um pouco de Marcel Proust. Mas afirmou que, diferentemente do autor francês, o novo Nobel tenta resgatar o passado, mas tratar do que é preciso esquecer em nome da sobrevivência -não só no plano individual, mas também no social.

Entre os temas de sua obra diversa, estão a memória, a mortalidade e a natureza do tempo. É conhecido por transitar por gêneros como o policial, o faroeste e a ficção científica. Em "O Gigante Enterrado", estreou na fantasia.

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GERAÇÃO PROMISSORA

Nos anos 1980, Ishiguro fez parte de um grupo de jovens, então promissores, que depois passaram a ocupar papel central na literatura britânica. Ele estava entre os selecionados pela revista "Granta", em 1983, como um dos melhores jovens escritores do Reino Unido -a lista tinha nomes como Ian McEwan, Salman Rushdie e Martin Amis, hoje figurões.

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Nascido em Nagasaki, no Japão, o premiado se mudou com a família nos anos 1960 para o Reino Unido, aos cinco anos -ele só voltaria a seu país de origem 30 anos depois. Não à toa, sua obra é produzida em inglês.

Ele estudou letras e filosofia -e depois fez um mestrado em escrita criativa.

Ishiguro se interessou pela literatura quando tinha cerca de dez anos, época em que passou a ler obsessivamente as histórias de Sherlock Holmes. Fazia os colegas rirem porque tentava imitar o comportamento dos personagens -e até usava o mesmo jeito de falar. Seu primeiro livro, "Um Pálida Visão dos Montes" (Rocco), foi publicado em 1982.

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O livro que o levou ao auge, "Os Vestígios do Dia", contava a história de um mordomo que recordava três décadas de serviço a um lorde britânico, revelando aspectos sombrios da história do ex-patrão, como a simpatia pelo nazismo. Nos anos 1990, o romance se tornou um filme com Anthony Hopkins.

Após dois anos de escolhas heterodoxas, quando o Nobel escolheu premiar uma jornalista, Svetlana Aleksiévitch, e um compositor, Bob Dylan -cuja escolha disparou uma polêmica-, a Academia Sueca volta a escolher um escritor no sentido tradicional.

Salman Rushdie, amigo do premiado, em entrevista ao jornal "The Guardian", até brincou com a escolha: "E o Ishiguro ainda toca violão e compõe músicas. Passou por cima do Bob Dylan".

O premiado fez diversas composições para a cantora de jazz Stacey Kent. Antes de ser escritor, ele foi cantor e compositor na juventude. Seu ídolo, ironicamente, era Bob Dylan -além de Leonard Cohen e Joni Mitchell.

Em entrevista à reportagem, no lançamento de "Quando Éramos Órfãos", Ishiguro lembrou uma visita ao Brasil, nos anos 1990, e falou do seu fascínio pelo conceito de "geto" -ou jeito, o jeitinho brasileiro. O livro, dizia, era motivado pela noção brasileira de "soldado" (saudade).

"A nostalgia que os portugueses tinham de Portugal quando estavam no Brasil e a que eles sentiam do Brasil quando em Portugal. Em 'Quando Éramos Órfãos' quero mostrar esse sentimento."

Como em outros anos, as casas de apostas erraram. Ishiguro não era o favorito das listas, que incluíam Ngugi wa Thiong'o, Haruki Murakami e Margaret Atwood, entre outros. Ele receberá como prêmio 9 milhões de coroas suecas (R$ 3,5 milhões).

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