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Imagem de benfeitor esconde longa lista de crimes de Nem

Dono da palavra final de tudo o que acontece dentro da Favela Rocinha, em São Conrado, e de nove mandados de prisão por tráfico de drogas, homicídio e lavagem de dinheiro, Antônio Francisco Bonfim, o Nem ou Mestre, possui característica incomum entre o

Da Redação

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 Investigadores estimam em mil o número de pessoas ligadas direta ou indiretamente ao tráfico da Rocinha
Icone Camera Foto por Carlos Eduardo Cardoso / Agência O Dia
Investigadores estimam em mil o número de pessoas ligadas direta ou indiretamente ao tráfico da Rocinha
Escrito por Da Redação
Publicado em 29.08.2010, 16:07:00 Editado em 27.04.2020, 20:57:59
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Dono da palavra final de tudo o que acontece dentro da Favela Rocinha, em São Conrado, e de nove mandados de prisão por tráfico de drogas, homicídio e lavagem de dinheiro, Antônio Francisco Bonfim, o Nem ou Mestre, possui característica incomum entre os bandidos mais procurados pela polícia do Rio: nunca foi preso — nem mesmo em ações ilegais, as ‘mineiras’.

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Com 34 anos, dez de crime e cinco como o chefão das bocas de fumo mais rentáveis da cidade, o traficante tenta passar na comunidade a imagem de benfeitor, mas esconde rastro de sangue e terror.


Uma amostra do poder da quadrilha foi exibida na manhã de sábado, dia 21, quando Nem e 60 bandidos espalharam pânico pelas ruas de São Conrado ao enfrentarem policiais militares. Parte do grupo invadiu o Hotel Intercontinental, de luxo, e manteve 35 reféns sob a mira de fuzis.

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Investigadores estimam em cerca de mil o número de pessoas ligadas direta ou indiretamente ao tráfico da Rocinha. Policiais não se arriscam a quantificar o arsenal do ‘exército’ de Nem, mas afirmam que há pelo menos 150 fuzis em poder da quadrilha.

Para adquirir o armamento que apavora a região durante os tiroteios, a venda de maconha, cocaína e ecstasy — única droga consumida pelo chefão — movimenta R$ 3 milhões mensais. O faturamento é gigantesco, graças também à existência de refinarias de cocaína dentro da favela. Três delas já foram estouradas em operações da polícia. Subtraindo os gastos, calcula-se que o lucro com as drogas varie entre R$ 600 mil e R$ 700 mil a cada mês.

É o suficiente para Nem bancar luxos muito distantes da realidade de seus vizinhos da Rocinha. Entre eles, matricular os filhos numa das escolas particulares mais caras da cidade ou gastar R$ 20 mil por mês com roupas de uma grife italiana compradas em shopping próximo à comunidade. É também com o dinheiro obtido com o crime que ele alimenta suas práticas assistencialistas.

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Nem aboliu os ‘pedágios’ sobre negócios como mototáxis, ‘gatonet’, vans e venda de botijões de gás. As taxas são pagas a associações de moradores, que compram, por exemplo, 5 mil cestas básicas para distribuição aos mais carentes.

Como se fosse síndico, é o traficante que ouve as reclamações e dá solução para brigas de vizinhos. Tudo cercado de homens armados até os dentes.

Sobrevivente de rachas

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Nem se tornou o chefe do tráfico após a morte de Erismar Rodrigues Moreira, o Bem-Te-Vi, em outubro de 2005. Para chegar ao posto, o criminoso sobreviveu a guerras internas pelo poder, que resultaram numa série de assassinatos. Dois desses rachas deram origem a inquéritos de homicídios na 15ª DP (Gávea).

Filho de retirantes nordestinos, Nem trabalhou na adolescência como office-boy e depois virou entregador de jornal. A trajetória começou a mudar com doença grave da filha, que o fez recorrer ao tráfico para cobrir as despesas do tratamento.

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O sofrimento para tratar a filha — hoje saudável, aos 11 anos — virou justificativa para o mergulho sem volta ao mundo do crime.

Resgate de R$ 300 mil por macaco

Permanecer no poder requer um preço. E os valores não são conhecidos. “Qualquer operação aqui ele sabe na véspera”, diz um dos advogados da quadrilha.

Mesmo jamais tendo sido preso, Nem não escapou dos achaques de policiais corruptos. Em uma ação realizada na favela há dois anos, sua casa foi invadida. Não havia ninguém, e um de seus quatro macacos foi sequestrado. Exigiram R$ 300 mil de resgate, que não foi pago. E Chico Bala (nome do mico) morreu.

Aos que colaboram com as forças de segurança, a lei imposta pelo criminoso é severa. Em novembro, ele teria pago R$ 100 mil pela cabeça de um informante da Polícia Civil de nome Alex. O rapaz desapareceu e jamais foi encontrado. Na lista de Nem, o sumiço foi o destino de outros suspeitos de serem informantes, como Lucas do Gás, Russo e Português.

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