MARCELO TOLEDO, ENVIADO ESPECIAL
CORDEIRÓPOLIS, SP (FOLHAPRESS) - O cenário era desolador. Centenas de vagões abandonados estragavam a paisagem de um bairro, e vizinhos da estação conviviam diariamente com medo, já que o local poderia servir de abrigos a assaltantes e era frequentado por usuários de drogas.
Hoje tudo está mudado. Apesar de a principal estação de Iperó -das cinco que o município já teve- ainda ter muito mato no entorno, os vagões abandonados não fazem mais parte da paisagem como antes, e a estação, na Vila Santo Antônio, passa por um processo de restauração. Para ampliar a segurança, foram instaladas câmeras de monitoramento, além de uma base da Guarda Municipal.
Morador há 27 anos do bairro, o vigia José Cosmo, 58, ex-funcionário da extinta Estrada de Ferro Sorocabana, disse que tinha medo todos os dias ao passar pelo local, rota que faz para chegar ao seu atual emprego. "O abandono era total. Era muito perigoso passar por aqui sozinho, principalmente para mulheres e crianças", disse.
A estação, que integrava a malha da Sorocabana, foi inaugurada em 1928, mas só em 1949 recebeu o nome Iperó, que, de distrito, virou município na década de 60, tendo seu desenvolvimento atrelado à história da ferrovia.
O tráfego de passageiros na cidade foi interrompido pela primeira vez nos anos 70, quando a Sorocabana já pertencia à Fepasa (extinta estatal ferroviária paulista).
Em 1997, uma linha de passageiros entre Sorocaba e Apiaí chegou a ser inaugurada e motivou amantes da ferrovia a sonhar com a volta do trem a Iperó, mas a linha durou apenas até 2001.
Os anos 2000 marcaram a consolidação da decadência do espaço em Iperó, até a atual década, quando o restauro teve início. O cenário atual contempla, além da base da Guarda e das câmeras, a instalação de lixeiras e a pintura do prédio. O mato alto ainda está lá, assim como ferros retorcidos, mas em volume inferior ao de anos atrás.
Os trens --apenas de carga-- utilizam uma das quatro linhas férreas que foram preservadas no local.
Segundo a Prefeitura de Iperó, todo o complexo ferroviário está passando por revitalização e os prédios abrigam projeto de combate às drogas, escola de artes e centro de convivência de idosos.
Na estação, onde as obras foram iniciadas há dois anos, a intenção é instalar um centro cultural. O telhado e o piso foram recuperados, assim como as redes hidráulica e elétrica. A cobertura da plataforma também foi trocada. As obras já custaram R$ 100 mil.
Um total de 314 vagões abandonados no pátio ferroviário da cidade foram retirados a partir de 2014, e ainda restam 60 no bairro George Oetterer -onde também já funcionou uma estação de embarque de passageiros. No local, o cenário de pichação e de ferrugem ainda faz parte da rotina dos vizinhos.
"Lembro com muita saudade de tudo. Era limpo, não havia mato, as pessoas viajavam muito para São Paulo ou Sorocaba, bem vestidas. Isso não voltará, por mais que se restaure", disse Cosmo.
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