O Hospital Colônia Adauto Botelho, em Pinhais, que é referência de atendimento em saúde mental no Paraná, está à procura dos familiares de um grupo de pacientes remanescentes do período em que a instituição funcionava como manicômio. O objetivo é resgatar o vínculo familiar e, se possível, dar alta hospitalar para essas pessoas internadas há mais de 30 anos.
Atualmente, a unidade assistida do hospital atende 19 pacientes com transtornos mentais ou deficiência física, que perderam o vínculo familiar.
O diretor-geral do Adauto Botelho, Osvaldo Tchaikovski Júnior, explicou que o Governo do Estado está desenvolvendo um projeto no hospital para reavaliar os prontuários destes pacientes asilados em busca de informações úteis que identifiquem a origem dessas pessoas.
“Toda a equipe tem um envolvimento emocional muito grande com esses pacientes e sabemos da importância desse momento de reencontro para eles”, destacou.
DONA ENEDINA – Uma das pacientes da unidade assistida é Enedina Mota, 99 anos, identificada oficialmente nesta terça-feira (11). Ela está internada no hospital desde março de 1980 e 34 anos depois pode finalmente rever a família.
Após um amplo processo de pesquisa e investigação, foi possível localizar a filha de Enedina, Isabel da Mota, que foi ao hospital nesta terça para reencontrá-la. “Não tinha mais esperanças de vê-la viva. Só queria saber o que havia ocorrido e tirar essa angústia do meu peito. Hoje, sem dúvida, é o dia mais emocionante da minha vida”, disse Isabel.
HISTÓRIA – Isabel contou que sua mãe desapareceu em 1961, na cidade de São Paulo. Enedina, com 46 anos na época, havia se desentendido com a cunhada e saiu de casa sem dar notícias. Ela sofria de transtornos mentais devido à morte de sua terceira filha durante o parto e já tinha sido internada em um hospital de Marília (SP) para receber assistência psiquiátrica no ano anterior.
Não se sabe ao certo o que aconteceu com ela entre a data do desaparecimento, em agosto de 1961, e o dia em que foi internada no Adauto Botelho, em março de 1980. Ela chegou ao hospital sem nome e também não se comunicava. Por isso, passou a ser chamada de Maria de Jesus, nome dado pela equipe de enfermagem.
RESGATE - Com a reforma psiquiátrica, estabelecida em todo o país, os pacientes que moravam no hospital e tinham algum vínculo familiar externo passaram a ter tratamento em casa ou em ambulatórios.
Muitos voltaram ao convívio de suas famílias ou foram encaminhados a serviços extra-hospitalares. Outros, como Enedina, continuaram internados por não terem para onde ir e necessitarem de assistência especializada.
PISTAS - Há pouco mais de um mês, dona Enedina lembrou-se de seu verdadeiro nome e relatou ainda informações úteis sobre a cidade que nasceu, Andaraí (BA), e o nome do seu esposo, Claudionor.
“A partir daí, pesquisamos na internet e descobrimos que havia um registro de pessoa desaparecida que condizia com a descrição da paciente”, contou a enfermeira da Unidade Assistida, Denise Paulino.
O caso de desaparecimento da idosa tinha sido cadastro em 2007 no site da Organização Não Governamental Good Angels.
A neta de Enedina, Eliete Mota, explica que a ideia partiu dos seus filhos e ninguém tinha muita esperança que desse certo. “Todo Dia das Mães e Natal, minha mãe parecia estar distante, pensando na minha avó desaparecida. Agora toda a família está esperando ela de braços abertos”, afirmou.
Clinicamente, Enedina passa bem, mas precisará de acompanhamento constante por conta da sua idade avançada. Como a família manifestou interesse em levá-la para casa, o hospital agora dará encaminhamento a todos os trâmites legais para formalizar a alta hospitalar.
SERVIÇO - Quem tiver algum parente com histórico de transtorno mental e que tenha desaparecido há mais de 30 anos pode entrar em contato com o hospital para verificar se o familiar não está internado na Unidade Assistida. O telefone para contato é (41) 3661-6600.
Foto: Venilton Küchler/SESA
Escrito por Da Redação
Publicado em 12.11.2014, 14:39:00 Editado em 27.04.2020, 20:05:59
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