Ernesto Franco, diretor editorial da Einaudi, casa que se negou a publicar a compilação dos artigos que o escritor José Saramago publicava diariamente em seu blog, disse que sente uma grandíssima dor, após tantos anos de fantasias compartilhadas.
- Através de suas invenções, José nos contava a alma contemporânea e o conseguiu do nada, como quando Deus criou o mundo, entrar nos tormentos, na dor e no coração das pessoas.
O editor lembrou as conversas demoradas com o escritor e sua mulher, Pilar del Río, nas ruas de Lisboa, e disse que os três caminhavam de um modo especial e eles olhavam de um modo muito singular.
Após ter publicado todos os títulos do Nobel, a decisão de não publicar O Caderno supôs uma ruptura entre Einaudi e Saramago, um episódio muito doloroso, na opinião do editor.
-Foi muito doloroso para todos, para ele, para a Einaudi e para mim.
A editora justificou sua decisão entre outras coisas, porque no livro se dizia que o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi (proprietário da Einaudi) é um delinquente e explicou que rejeitava adotar como própria uma acusação que qualquer julgamento condenaria.
Mas a aquele capítulo se antepõem hoje, na opinião de Franco, as obras do escritor e as inconfundíveis páginas que desenhava ao utilizar as maiúsculas só depois dos pontos.
Atualmente, os direitos de publicação das obras do português pertencem ao grupo Feltrinelli, que deve reeditar todos os seus livros no próximo inverno, incluindo O Caderno.
Inge Feltrinelli, a proprietária deste império editorial, expressou sua tristeza e definiu o escritor como um dos últimos homens da literatura mundial de esquerda, um homem intransigente que, inclusive depois de receber o Nobel, jamais se rendeu a nenhum compromisso político nem cultural.
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