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Novo analfabeto brasileiro tem entre 30 e 40 anos

Nascido em Garanhuns (PE), Damião da Conceição, 28 anos, nunca havia pisado numa escola até 5 de fevereiro, quando participou do primeiro dia de aula do curso de alfabetização do Cieja (Escola Municipal de Ensino Supletivo Gratuito), em Ermelino Matarazzo

Da Redação

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 Brasil tem quase 40% dos analfabetos da América Latina, em São Paulo são 280 mil na capital
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Brasil tem quase 40% dos analfabetos da América Latina, em São Paulo são 280 mil na capital
Escrito por Da Redação
Publicado em 09.02.2014, 10:20:00 Editado em 27.04.2020, 20:19:00
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Nascido em Garanhuns (PE), Damião da Conceição, 28 anos, nunca havia pisado numa escola até 5 de fevereiro, quando participou do primeiro dia de aula do curso de alfabetização do Cieja (Escola Municipal de Ensino Supletivo Gratuito), em Ermelino Matarazzo, São Paulo.

Ele é um dos milhares de brasileiros que estão entrando na escola depois de adultos. Apesar dos avanços atestados por indicadores educacionais e programas de alfabetização, especialistas como a diretora da ONG Todos pela Educação, Priscila Cruz, explicam que o País ainda tem muito o que melhorar para fechar a "torneira do analfabetismo" e impedir que, no futuro, outros jovens passem pelas mesmas dificuldades que Damião enfrentará para aprender a ler.

Dados publicados na pesquisa “Educação e Desigualdades na Cidade de São Paulo” da ONG Ação Educativa, atestaram que a capital paulista possui cerca de 280 mil jovens e adultos analfabetos.

Diferentemente do estereótipo corrente, que geralmente relaciona o analfabetismo como um problema que afeta pessoas com mais de 60 anos que vivem no interior, esses moradores da capital fazem parte da população economicamente ativa.

Roberto Catelli Júnior, pesquisador da Ação Educativa, conta que um em cada quatro brasileiros não ”funciona” plenamente na sociedade contemporânea, que exige o domínio da leitura e da escrita.

— É possível dizer que existe um novo perfil de analfabetos no País, composto por pessoas com idade entre 30 e 40 anos, que não tiveram acesso às políticas de inclusão escolar. Quando não são totalmente iletrados, eles leem e escrevem muito pouco e podem ser considerados analfabetos funcionais, reforça.

Priscila, da Todos pela Educação, concorda com Catelli. Ela também afirma que as políticas de escolarização promovidas no Brasil até hoje não foram capazes de fechar a “torneira do analfabetismo” e podem produzir uma nova geração de analfabetos.

Para reforçar sua tese, a especialista cita como exemplo o resultado de uma pesquisa feita pela ONG em 2012 com crianças de oito anos de todo o País.

— Fizemos uma pesquisa com alcance nacional, cujos resultados mostraram que apenas metade das crianças com oito anos de idade matriculadas na escola foram plenamente alfabetizadas. Ou seja, estamos investindo para manter esses alunos estudando regularmente, mas eles não estão aprendendo o conteúdo adequado para sua série. Podemos estar formando uma nova geração de analfabetos, frisou.

Metas da Unesco

O último relatório com indicadores educacionais, divulgado pela Unesco no dia 29 de janeiro, destacou que o Brasil é a oitava nação com maior número de analfabetos adultos entre 160 países pesquisados. O País ficou atrás apenas da Índia, China, Paquistão, Bangladesch, Nigéria, Etiópia e Egito.

Segundo a Unesco, 14 milhões de pessoas declararam que não sabem ler nem escrever. Na proporção da população de analfabeto da América Latina, que soma 36 milhões de pessoas, os brasileiros chegam a 38,5%. Se mantiver o ritmo de escolarização atual, o Brasil não deve conseguir atingir a meta traçada pela organização até 2015.

Ana Lúcia Lima, diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro, comenta que os dados da Unesco são preocupantes, mas é preciso ter um olhar equilibrado para analisá-los.

— As políticas públicas de inclusão escolar só se tornaram prioridades a partir da década de 1990. Se compararmos com nossos vizinhos da América Latina, a expansão da oferta de vagas começou dez anos depois. Os analfabetos adultos de hoje, que aparecem em pesquisas como a da Unesco, nasceram em gerações anteriores a essas políticas de inclusão massiva das crianças nas escolas, disse.

Novas gerações

O crescimento do analfabetismo também foi atestado na última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios). Com informações coletadas há dois anos, a pesquisa mostrou que a população com 15 anos que não sabe ler nem escrever passou de 8,6% para 8,7% entre 2011 e 2012.

Priscila, da Todos pela Educação, comenta que os dados indicam que continuaremos produzindo analfabetos. Ela conclui lembrando que a pesquisa da Unesco usa dados dos brasileiros que se declararam analfabetos, ou seja, o número pode ser ainda maior.

— Ler o nome do ônibus e escrever um bilhete não significa que o cidadão é alfabetizado. Precisamos impedir que as crianças saiam da escola com problemas graves de aprendizado. Os programas de alfabetização para adultos precisam acabar, essa é sua missão. Eles precisam se tornar desnecessários, concluiu a especialista.

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foto: Daia Oliver

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