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Paraíba tem 12 assassinatos por homofobia em 2011

Em apenas oito meses, 12 pessoas foram assassinadas na Paraíba em crimes cometidos por motivação homofóbica, de acordo com dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), organização que contabiliza e estuda este tipo de violência em todo o Brasil . O levantamento

Da Redação

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 Marx Nunes
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Marx Nunes
Escrito por Da Redação
Publicado em 27.08.2011, 20:01:00 Editado em 27.04.2020, 20:45:09
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Em apenas oito meses, 12 pessoas foram assassinadas na Paraíba em crimes cometidos por motivação homofóbica, de acordo com dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), organização que contabiliza e estuda este tipo de violência em todo o Brasil . O levantamento coloca a Paraíba em segundo lugar no ranking de assassinatos ligados à homofobia cometidos este ano na região Nordeste, perdendo apenas para Pernambuco, com 15 mortes. No entanto, levando em consideração a diferença populacional, o estado ocupa a primeira posição no Nordeste.

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Nos primeiros meses deste ano, a entidade já contabilizou 144 mortes em todo Brasil. O caso mais recente na Paraíba foi do jovem Marx Nunes Xavier, de 25 anos. Ele era heterossexual, mas acabou sendo atingido por um tiro no pescoço quando defendia um homossexual que teria sido agredido fisicamente por um estudante de 20 anos que segue foragido. O crime aconteceu no último dia 8 na Praia do Jacaré, na Grande João Pessoa.

Em 2010, o GGB contabilizou 260 homicídios no país, sendo 11 deles na Paraíba. O presidente da GGB, Luiz Mott, explicou que 43% dos crimes cometidos no ano passado aconteceram somente no Nordeste. O representante do Movimento do Espírito Lilás (MEL) na Paraíba, Renan Palmeira, acredita que os dados são reflexo da pesquisa divulgada pelo Ibope em julho. Nela é possível observar a intolerância da população em relação à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a união estável para casais do mesmo sexo. “A pesquisa mostrou que os homens são mais homofóbicos que as mulheres. Os que têm menos acesso à informação e escolaridade. A homofobia é fortalecida na faixa etária de 50 anos pra cima”, lamentou Renan que viu nesse dados o perfil da população nordestina.

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Já o delegado Marcelo Falcone, que trabalhou cerca de dois anos na Delegacia Especializada em Crimes Homofóbicos em João Pessoa, explicou que a homofobia é fortalecida também pelos grupos mais conservadores. “As igrejas pregam cada vez mais contra os homossexuais. Elas demonizam o homossexualismo”. Ainda de acordo com o delegado, a tendência é que, "infelizmente", esses crimes aumentem. “Os homossexuais estão se expondo mais na mídia. O grupo tem chamado mais atenção e por isso é passível de mais preconceito porque apesar das pessoas acharem que as coisas estão melhores, os setores mais conservadores criam mais preconceitos”, lamentou Marcelo Falcone.

Ranking
No ranking preliminar deste ano do Grupo Gay da Bahia o estado de Pernambuco aparece em primeiro lugar com 15 mortes motivadas por homofobia. A Paraíba aparece em segundo (12 mortes) e a Bahia, em terceiro (11). Em seguida estão os estados de Alagoas (9), Ceará (6), Maranhão e Rio Grande do Norte (4), Sergipe (3) e Piauí com duas mortes. Se levado em conta todo o país, o estado de São Paulo é o que tem o maior número de mortes por homofobia, segundo o GGB: são 17 neste ano.

Algumas soluções, apontadas pelo delegado e ainda pelos representantes do MEL e GGB, para a diminuição dos crimes seria a aprovação do Projeto de Lei Complementar 122/206 que criminaliza a prática homofóbica e ainda o investimento na educação.

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“O poder público precisa investir na conscientização da população porque muitas vezes as pessoas cometem o crime por ignorância”, finalizou o delegado.

Crimes aumentaram 64,83%
Comparando os dados de 2010 com os que já foram contabilizados nos oito meses deste ano, é possível observar um aumento de 64,83% nos homicídios com motivação homofóbica na Paraíba. Caso os crimes se mantenham neste ritmo, no fim do ano o estado terá uma saldo de 18 mortes.

Sem levantamento oficial
No Brasil ainda não existe um levantamento oficial sobre os crime desta natureza. As entidades e movimentos interessados neste estudo colhem os dados que são divulgados na imprensa e repassam para o Grupo Gay da Bahia que se encarrega de realizar todos os anos o Relatório de Assassinato de Homossexuais.

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“Essa é uma das grandes falhas do Ministério da Justiça que não faz, por incompetência, esse levantamento, ou até porque não querem revelar essa posição vergonhosa de ser o país mais homofóbico”, de acordo com Mott. Ele revelou que no ano passado foram contabilizados 260 assassinatos no Brasil, fazendo com que o país ocupasse o primeiro lugar no ranking mundial. Em segundo lugar ficou o México, com 35, e em terceiro os Estados Unidos, com 25. Números bem inferiores aos registrados no Brasil.

Crimes homofóbicos
Renan Palmeira explicou que diferente dos demais crimes, os com motivação homofóbica tendem a ser extremamente violentos. “Os criminosos matam pelo ódio. Eles querem banir aquela pessoa da face da terra. É um crime que tem um grau de perversidade muito alto com genitálias arrancadas, cortes na garganta ou ainda dezenas de facadas”, disse o representante do MEL.

A mãe de Marx Nunes, Maria Francisca, contou que o filho acabou sendo uma vítima deste tipo de crime porque foi defender um homossexual que estava sendo espancado. "Ele detestava injustiça. Ele queria apaziguar. Sembre gostou muito de ajudar", lamentou Maria Francisca que hoje tenta ajudar as mães de homossexuais que perderam os filhos de maneira violenta.

“Os crimes contra os homossexuais são mais bárbaros. Os assassinos querem punir as pessoas pela orientação sexual. É possível observar requinte de crueldade”, disse o delegado Falcone, atualmente responsável pela Delegacia de Homicídios de João Pessoa. De acordo com a pesquisa do GGB, 43% dos homicídios cometidos no ano passado foram com o uso de revólver, 27% com faca, 18% espancamento/pedradas e 17% por sufocamento/enforcamento.

Em muitos casos, os autores dos homicídios são os acompanhantes das vítimas. “Isto acontece muito entre os homossexuais do sexo masculino que contratam garotos de programa. Existe um preconceito muito grande porque esses rapazes não se sentem gays. Como foi o caso do professor Valderi Carneiro”, disse o delegado. No dia 9 de julho o professor de língua portuguesa, de 44 anos, foi assassinado em uma pousada da cidade de Campina Grande, na Paraíba, por garotos de programa.

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